Por Mayara Nanini
O que seria dos gêneros textuais sem os inúmeros desafios?
Esse foi o questionamento que me rondou durante a escrita da peça “Nhô”.
Logo eu, que amo um enredo literário. Apesar de apaixonada pela escrita livre e narrada, fui desafiada ao mergulhar no gênero dramático.
Acredito fielmente que o desafio nos resgata do comodismo e liberta a mente para novas criações.
Ao escrever meus dois livros, sentia que tudo surtiu de forma fluida.
Sair dessa escrita confortável me fez refletir mais sobre o poder da escrita.
Se tratando de uma peça teatral – local onde eu estava acostumada a atuar – me vi tentada a escrever as cenas ricas em detalhes que navegaram em minha mente.
Percebi que falhei miseravelmente. O texto é criado para o público e deve ser confortável para os atores.
Alguns personagens foram inviáveis, em razão do elenco e público. Os textos extensos foram cortados e repensados.
As narrativas deram lugar para falas e rubricas teatrais (indicações de cenas), o que limitaram meus dedos que tentavam digitar minúcias intermináveis.
Entrar na cabeça de um diretor não é fácil. Escrever cenas que servem de bússula para o ator, menos ainda.
A preocupação deixava de ser apenas se eu daria conta de concluir uma peça, mas se ela seria útil para o elenco. E, não menos importante, muito me preocupou a questão se a mensagem chegaria ao público alvo.
Uma peça é o instrumento de trabalho de alguém, um domingo destinado aos ensaios e os sonhos dos artistas. Ele é um compromisso que se estenderá por meses ou anos.
Em geral, a transposição de um texto literário diverge na persona destinada. O leitor de um livro deixará a imaginação voar ao ler cada capítulo. A peça de teatro apresentará para a história como ela é. Com caras e bocas.
A criação da referida obra dramática reflete de forma direta na construção dos personagens e cenas.
Um objeto cênico colocado de forma impensada poderá atrapalhar a peça inteira. Alguns elementos devem ser estudados e repensados.
Portanto, arrisco dizer, que escrever uma peça de teatro foi mais difícil do que a escrita dos livros “Amoras” e “Relatos de Uma Ana Banana”.
Outrossim, a dificuldade foi inversamente proporcional ao enorme prazer que senti em contribuir com essa encenação.
O coração de artistas se encontra nessa peça e, quando os personagens ganham vida, todo desafio se transforma em recompensa.
Sou grata ao diretor Milton Cardoso e atores que fizeram de alguns rabiscos, uma magia irrigada por sentimentos.