No último dia 27 de novembro, às 19h, aconteceu na Escola Estadual Peixoto Gomide, a estreia do documentário “Professora Cecília, uma história de inclusão em Itapetininga”, sobre a pioneira na educação inclusiva na região. O documentário faz parte de um projeto viabilizado pela Lei Paulo Gustavo, de incentivo à cultura, pela Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Itapetininga.
Além do documentário, também faz parte do projeto uma websérie, contando a história da professora, que iniciou seu trabalho na década de 1960, implantando a primeira classe para surdos na Escola Estadual Coronel Fernando Prestes. Naquela época não se falava em inclusão.
A professora itapetiningana ficou conhecida nacionalmente por uma reportagem do Jornal Nacional, no dia do professor em 1984, por ocasião de uma aluna ser a atriz principal da Peça de Teatro “O Milagre de Anne Sulivan”. A peça, dirigida pela professora Margha Bloes, foi encenada na Igreja das Estrelas e teve grande sucesso de público.
A arte era um dos recursos para a promoção da inclusão dos alunos da professora Cecilia. Ela descobriu que os alunos conpensavam a ausência de um dos sentidos (falar e ouvir) desenvolvendo mais outros (a visão, por exemplo), tornando o indivíduo com uma sensibilidade maior na observação detalhada das imagens, com capacidades maiores para atividades artísticas como a pintura. Os alunos da professora Cecília tiveram quadros premiados na Bienal de Kanagawa – Exposição de Artes das Crianças do Mundo, no Japão.
Em 1971, ela conseguiu o apoio de setores da sociedade itapetiningana para a fundação da APAE de Itapetininga, que hoje é um centro de referência na região, atendendo mais de 500 alunos com idade entre 7 e 60 anos.
História
Cecília Pimentel Vasques Prestes Nogueira nasceu em Itapetininga, no ano de 1933. Ela fez o curso de magistério na Escola Normal Peixoto Gomide e logo nas primeiras classes que atuou teve o desafio de ensinar uma aluna surda. Ela morava na casa dos pais quando começou a lecionar e seus vizinhos também tinham uma filha surda. Naquela época, os surdos não tinham perspectiva nenhuma de inclusão e eram pessoas que acabavam vivendo à margem da sociedade, muitas vezes trancados em suas casas pelas famílias.
Decidida em seus propósitos, a jovem Cecília partiu para o Rio de Janeiro, em 1960, para cursar uma a especialização para professores de crianças surdas, no Instituto Feminino de Educação Padre Anchieta, que mantinha convênio e aulas no Instituto Nacional dos Surdos do Rio de Janeiro.
Sete anos depois, ela consegue junto a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo a primeira classe de surdos da região, na escola Estadual Coronel Fernando Prestes de Albuquerque.
Por ser a primeira classe de educação inclusiva da região, vinham até ela muitas famílias que tinham filhos que não falavam. Mas após fazer os testes, Cecília identificava que a criança não era surda e tinha outro tipo de diferença, como o autismo, por exemplo.
Sem poder atendê-las e sabendo que àquela criança não teria perspectiva nenhuma de aprendizado ou inclusão social, Cecília e sua família partem para São Paulo, para conhecer a APAE e seu atendimento às diversas outras especialidades que Itapetininga não possuía. Retornando para a cidade, o casal reuniu um grupo de colaboradores, que teve grande apoio da sociedade para realizar a fundação da APAE de Itapetininga.
Em seu trabalho na classe de surdos, ela identificou a grande capacidade de suas crianças desenvolverem a arte. A partir desta constatação, Cecília contou com a ajuda da professora Lourdes Valio para ensinar a pintura às crianças. Nas pinturas os alunos demonstravam grande sensibilidade e maior capacidade de observar com detalhes as imagens, um senso mais apurado para utilizar as cores, as dimensões e a profundidade dos quadros.
Foi quando ela começou a organizar inúmeras exposições de quatros em Itapetininga e em São Paulo, eventos que valorizavam a capacidade dos alunos e surpreendiam a sociedade. Com a venda dos quadros ela viabilizava a compra de aparelhos auditivos para àquelas crianças menos favorecidas, cujas famílias não tinham condições de comprar os aparelhos.
Em 1987, vários quadros dos alunos da professora Cecília foram premiados na Bienal de Kanagawa – Exposição de Artes das Crianças do Mundo, no Japão.
Ainda na década de 1980, outra professora da rede estadual de ensino realizou uma peça de teatro “O Milagre de Anne Sullivan”, encenada na Igreja das Estrelas em 1984, numa época que Itapetininga não tinha teatro. Compartilhando a mesma idéia da necessidade de reconhecimento e validação das crianças para o processo de inclusão na sociedade, Margha procurou Cecília com a proposta inovadora de ter como atriz principal a menina Maria José Ruivo, da classe de surdos da escola Fernando Prestes.
Maria José, superando os limites da surdez, teve uma grande desenvoltura, marcando as apresentações e impressionando o público. “O Milagre de Anne Sullivan” marcou a história do teatro de Itapetininga, levando mais de 15 mil pessoas para assistir ao espetáculo, que teve repercussão nacional.
Para ler mais notícias como essa, acesse a área de Cultura.