Milton Cardoso
Especial para o Correio de Itapetininga
Alda Simões Rosinha de Oliveira foi professora, diretora e supervisora que se destacou no seu ofício durante mais de trinta anos. Sempre defendeu o acesso democrático de todos a um ensino de qualidade, uma escola que fosse além da mera “decoreba” de fórmulas e datas. Sempre acreditando num espaço onde o indivíduo possa ser um agente transformador de sua realidade. Sua conduta exemplar, segundo os amigos, influenciou todos que convivem ou conviveram com ela.
Santista, nascida em 1936, deixou juntamente com a família a cidade litorânea devido aos problemas de saúde de sua única irmã, Guiomar. Para prosseguir os estudos, com 14 anos, vem residir em Itapetininga, morando durante um tempo numa pensão no centro da cidade.
A princípio estranha certos hábitos locais. Uma cena inesquecível foi quando ela e a irmã combinaram de se encontrar com uma prima no Largo dos Amores. Naquela época acontecia o tradicional “giro”, quando jovens solteiros caminhavam ao redor do chafariz no seu respectivo “grupo de giro” de acordo com a sua faixa social, sendo que a classe média alta ficava próxima ao chafariz. Alda e Guiomar chegaram mais cedo e ficaram passeando em torno do chafariz no último “giro”. Quando a prima chegou foi até elas e cochichou “Estão loucas, vocês não podem ficar aqui. Nosso lugar não é aí. É lá no meio”, recorda.
Aprovada no vestibular, começou a cursar o curso de normalista em 1951, na escola Peixoto Gomide. “O currículo educacional era excepcional. Sim, eram ‘pesados’, mas faziam os alunos prosperarem na vida”, diz. Saudosa, relembra que nos intervalos a praça gramada em frente às escolas, ficava repleta de normalistas e estudantes do ginásio com seus uniformes na cor cáqui. “Às vezes, o Didi (o cantor Almir Ribeiro) cantava para a gente”, recorda.
Em 2019, em um depoimento a TV comunitária, o professor Ivan Barsanti Silveira falou sobre a amiga. “Conheço a Alda desde minha juventude. Ela já estudava na Escola Normal. Ela era uma normalista muito dinâmica. Eles tinham de dar aulas práticas e eu a admirava, embora não a conhecesse. Ela era uma mulher muito atualizada, além do seu tempo”, elogia.
Em março de 1953, sob a gestão do diretor Antônio Belizandro Rezende, a Escola Normal passa-se a chamar Instituto de Educação Peixoto Gomide, algumas das vantagens eram o funcionamento de classes noturnas do curso secundário e a criação do Curso de Aperfeiçoamento, que começou a funcionar em 30 de março de 1954. “Foi uma festa na cidade. Nós, as normalistas, desfilamos na carroceria de uma caminhonete para festejar a promoção da escola a Instituto”, e complementa: “Fiz um dos cursos de aperfeiçoamento no período diurno. Me ajudou bastante a ingressar como titular de cadeira em 1956”, reflete.
Difícil Começo – A professora Alda começou a lecionar com 18 anos em uma escola da zona rural de Angatuba. Posteriormente deu aulas nos bairros do Banhado Grande (Guapiara) e do Rincão (São Miguel Arcanjo). “No início da minha carreira do magistério passei por muitos apuros. Certa vez, quando estava indo lecionar, ao atravessar a ponte de madeira, me deparei com uma cobra enrolada pronta para o bote, lentamente voltei de costas. Que sufoco!”, relembra.
Alda passou por outras adversidades. Certa vez, em Guapiara, ela se preparava para dormir em um quarto de madeira anexo à sua sala de aula. Ouviu um ruído e viu pelas frestas da madeira, os olhos de um animal de grande porte. Sozinha, passou à noite inteira aterrorizada. No dia seguinte, os agricultores japoneses que residiam no local viram marcas de patas no barranco. Era uma onça.
Outro susto foi quando uma enorme caranguejeira subiu na sua saia enquanto lecionava. “Mantive a calma. Levantei da cadeira e fui um quartinho anexo à sala de aula e arranquei minha saia. Graças a Deus a aranha sumiu”, recorda.
Outra dificuldade era cavalgar a cavalo. “Era horrível! Andar a cavalo, sem saber, era complicado”, resume. “A vida de professora rural era dificílima. Quando eu lecionava no bairro rural em São Miguel Arcanjo, embarcava em um ônibus em Itapetininga, sempre às 6h30. Descia na beira da estrada e ia a cavalo para escola por mais 7 km. Mas todo o esforço valeu a pena. Em uma dessas turmas tive quase 100% de aprovação em uma avaliação externa”, comenta.
Com bom humor relembra desses tempos. “Um fazendeiro que comprava cavalos aposentados do Jóquei Clube de São Paulo um dia me emprestou um desses cavalos para ir até a estrada e pegar o ônibus com destino a Itapetininga. No caminho um cavalheiro nos ultrapassou, logo em seguida, esse cavalo acostumado com competição, disparou para ultrapassá-los. Como ele corria”, ri.
No início da década de 1960 começou a lecionar na escola Major Fonseca. “Quando cheguei, a escola possuía professoras de primeira linha, como Hilda Weiss, Cacilda Noronha e Margarida Larizatti. Eu era a mais jovem”, explica. “Foram anos de muita aprendizagem”, avalia.
Com a aposentadoria da professora Saturnina, em 1969, tornou-se Diretora do Curso do Primário Anexo da escola Peixoto Gomide, realizando um antigo sonho. O curso possuía oito salas de aula, quatro em cada período, sendo muito procurado pela população. Dona Alda conta que os pais, na época da matrícula, faziam fila na frente da escola, a partir das 5 horas da manhã, “principalmente para a 1ª série”, acentua.
“Essa época do Instituto Peixoto Gomide, que tinha como diretora Dona Alda Rosinha, foi um momento de luz nas artes, música, teatro, coral, onde desabrochou em cada aluno(a), professoras, serventes, inspetores de alunos, tudo o que tínhamos de melhor. E o Salão (Nobre) foi o espaço desses momentos, perpetuado no coração de todos nós. Gratidão! ”, comenta Rosimar Piedade, ex-aluna.
“O Curso do Primário Anexo foi a minha paixão. Eu adorava. Nossa equipe era uma família. Como não lembrar das professoras Angelina, Celina, Lúcia Vieira, Nazira Yared, Nívea Guarnieri, Pérola, Rosinha Vieira, Terezinha Bastos e Zeni”. E reforça: “Nós gostávamos muito de festas. A Lúcia tocava piano e ensaiava o coral, que era quase uma opereta. A Nívea decorava como ninguém. Era uma equipe muito dinâmica. Fizemos festas homéricas na escola, inesquecíveis. Além dos desfiles que sempre foram a minha paixão. Nós amávamos a Peixoto Gomide, era a nossa segunda casa”.
Anos depois, assumiu como diretora de uma escola em Capão Bonito. Posteriormente foi supervisora da Delegacia de Ensino de Itapeva e depois da Derita, quando se aposentou na década de 1980.
Educadora respeitada e admirada por professores e ex-alunos, a Dona Alda Rosinha é um exemplo de que o dever de todo o educador é colocar diante dos seus estudantes os mais belos e elevados sonhos em direção de uma sociedade mais justa.
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