Milton Cardoso
Especial para o Correio
Conhecer as raízes de nossa história nos permite a compreensão da nossa identidade e até a descoberta dos caminhos que explicam a nossa cidade atualmente. Infelizmente, existem poucos pesquisadores se dedicando à produção de uma vigorosa historiografia da região. Por isso, o lançamento do livro “Trilhas e Tropas”, de Alba Regina Franco Carino Luisi, pela editora Mirai Livros, é um evento significativo e torna-se, desde já, uma referência sobre a importância histórica do tropeirismo no Brasil, pois ajuda a interpretar a região de Itapetininga por meio do seu passado.
Alba Regina é professora e diz ser “pesquisadora por vocação e de coração, porque toda a vida sempre fui muito curiosa para ir a fundo nos assuntos”. Sua dedicação às pesquisas resultaram em “Trilhas e Tropas”, lançado ontem à noite na Casa Kennedy. Nessa obra, a escritora esclarece “a importância e o valor que o tropeirismo exerceu no Estado de São Paulo e no país”. Segundo ela, o tropeirismo “foi um movimento econômico, social e cultural” representado por “um ciclo econômico que deu sustentação para o ciclo da mineração e para o ciclo do café”.
A pesquisadora ressalta que o ciclo do tropeirismo não era um assunto muito explorado na história do Brasil, porém ela afirma que essa perspectiva vem mudando, pois há um movimento de historiadores com o objetivo de resgatar o valor do tropeirismo. Entre estes estudiosos, encontra-se o pesquisador da temática tropeira, Carlos Roberto Solera, que, junto à Universidade de Girona, da Espanha, trabalha para que a Unesco reconheça o tropeirismo como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Alba Regina faz parte de um grupo de historiadores e de pesquisadores da Academia Sorocabana de Letras, além de outros grupos de estudos do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. “Todos estão irmanados nesse trabalho de resgate do valor histórico do Caminho das Tropas, mas sabemos que há muita coisa sobre o tropeirismo que precisa acontecer, e o nosso grupo está empenhado nessa tarefa, então possivelmente virão novas pesquisas, novos livros, novos debates e novos processos para o reconhecimento do valor do tropeirismo”, avalia.
Alba Regina enfatiza que Itapetininga foi um povoado que surgiu a partir de um pouso tropeiro à margem do rio, transformado em rota de passagem das tropas que vinham do Sul do país para a grande feira dos muares de Sorocaba, local em que se reuniam comerciantes de várias regiões do país. O movimento econômico era intenso.
Para a historiadora, o legado cultural do tropeirismo para a nossa região é imensurável, por isso ela reforça que “os jovens precisam reconhecer, valorizar, honrar e respeitar essa herança”, explica.
O título “Trilhas e Tropas” presta uma homenagem às trilhas indígenas e às tropeadas das mulas com o objetivo de atingir os interessados em saber mais sobre a formação histórica da região. E para atingir estudantes do Ensino Médio, principalmente, a pesquisadora optou por utilizar uma linguagem não acadêmica e sem viés político que permitisse aos adolescentes “conhecer a história de sua região e, por extensão, de todo o Brasil”, comenta.
Atrativo, “Trilhas e Tropas” tem muitas ilustrações de quadros famosos e desenhos do artista Alessandro Luisi. “Quando não achava uma obra, que por uma razão ou outra não estivesse ligado ao tema ou que não estivesse em domínio público, o Alessandro criava uma ilustração sua. Então, esse livro tem muitas obras dele que foram feitas exclusivamente para o livro. ‘Trilhas e Tropas’ é um trabalho muito bonito não somente nas pesquisas, mas também nas ilustrações contidas no livro”, diz.
Impresso com recursos próprios, o livro tem prefácio do acadêmico Jorge Paunovic e possui 302 páginas e quase 150 ilustrações. Para adquirir “Trilhas e Tropas”, com tiragem inicial de 150 exemplares, o interessado poderá entrar em contato pelo Instagram @trilhasetropas. O valor é de R$ 65,00.
Certamente o lançamento de “Trilhas e Tropas” é a “cereja do bolo” de um ano rico em produções de documentários, peças de teatro, shows e diversas manifestações culturais na cidade.