Por: Milton Cardoso
Essa semana, o jornal Correio de Itapetininga conversou com a pianista, professora e especialista em Educação Musical, Maria Isabel de Oliveira e Silva. Maria Isabel, atualmente desenvolve suas atividades profissionais na Escola Livre de Música Municipal (ELMMI) e na Oficina de Música no CAZULO (Casa Colaborativa), localizada no Jardim Itália, promovendo aulas, apresentações musicais e, diversificando conhecimentos. Nesta entrevista para o Correio, ela fala um pouco de sua trajetória e a sua paixão pela música.
Maria Isabel entende que a complexidade humana está paralelamente ligada a riqueza e abrangência da música. A humanidade abarca o mundo artístico. “A música é um presente divino para a humanidade. Posso testemunhar esse fato pois fui agraciada na infância com essa porta de entrada para uma aventura infinita que permite ‘crescer por dentro’ e compor um caminho mais harmônico com nosso mundo complexo, carregado de antagonismos e incertezas”, revela Isabel que se especializou na França – onde estudou com Jacques Chapuis (1926-2007).
“Quando ouvimos ou executamos músicas compostas em outros tempos, por vezes há séculos e até saímos assobiando certos temas, temos uma clara ideia que a música ultrapassa as barreiras do tempo, das nacionalidades, enfim, para mim isto é um alento para todos nós, pois percebemos que mesmo quando partimos, a essência permanece eterna, naquilo que realizamos de melhor através da arte”, reflete a bacharel em música pela UNESP.
Durante a conversa, Isabel rapidamente, reforça que isso não acontece somente na música, mas em todas as atividades que envolvem o saber humano e perpassa a barreira do tempo. Claro, que suas reflexões sempre tendem a refletir sobre o campo musical, área que vem diariamente, se aperfeiçoando.
Na sua passagem acadêmica estudou com excelentes mestres como Pietro Maranca, John Boudler, Beatriz Balzi, Samuel Kerr, entre outros. Porém, uma das mais importantes lições aprendeu com o professor e compositor Michel Phillipot (1925-1996). Phillipot perguntava aos alunos: ao contrapormos uma nota a outra nota, que “música” obtemos? “Penso isto na vida: um ser com outro ser, que harmonia a gente pode extrair dessas consonâncias e dissonâncias, qual é o resultado dessa beleza? Aí que a música atravessa a nossa existência, entende? A música vem propor a resolução das dissonâncias, caminhos na procura da harmonia”, reflete empolgada e sentencia sobre sua atividade profissional: “Me vejo como uma guardiã, multiplicadora e divulgadora dessa maravilhosa tradição musical”.
Quando fundou em 1992, juntamente com o maestro Mário Chagas a Oficina de Música, pode colocar em prática suas ideias sobre a linguagem musical. “Centenas de alunos passaram pelo local, muitos tornaram-se músicos e outros continuam a exercer a linguagem musical em seu mais amplo sentido, atuando com maior sensibilidade e amplitude de horizonte, nos seus diferentes ramos de atuação”, afirma orgulhosa.
A pianista também expõe sua opinião sobre a música no Brasil hoje, “o que mais me deixa chateada, é que no cenário nacional, são ainda, muito precários os investimentos e as oportunidades de atuação no campo artístico”.
Maria Isabel enxerga a arte como nutrição.
“É preciso criar possibilidades para que as pessoas possam de fato, vivenciar a música, perceber uma arquitetura sonora, tocar, cantar, compreender uma partitura, conhecer esse tesouro da inteligência musical, decifrar tesouros compostos por tantos gênios da linguagem. Se eles não são lembrados é porque não estão disponíveis ao acesso. Tudo exige formação”, comenta.
A pianista evita as queixas sobre a qualidade da música atual em comparação as músicas de outros tempos. “Não gosto de dizer que são inferiores, digo que são rudes, pobres, expressam o que vivenciam. Se olharmos com atenção nossa sociedade, as pessoas se alimentam mal, moram mal, tem uma educação paupérrima.. Então, não é somente a música, entende? Há um empobrecimento demasiado, um mundo extremamente competitivo, egoísta até, um salve-se quem puder”, diz angustiada.
Engana-se quem pensa que a pianista desanima. Em suas aulas particulares ou na Escola Livre de Música, ela atinge diversos itapetininganos das mais variadas classes sociais e faixas etárias. “A alma do ser humano clama pela arte, pela beleza do saber, mas é necessário abrir a porta e trilhar o caminho”, filosofa.
Ela entende que nós que possuímos mais “ferramentas” em nossa caixa, lutemos pelo conhecimento e pela partilha dele: sobretudo desta arte ímpar que é a Música, sendo em última análise, uma senda especial de cultivo e conhecimento de nosso próprio ser: sua melhor Musicalização e Harmonia face a Viver com Integridade, fruir de novas perspectivas e não lamentavelmente, apenas sobreviver.”, reflete.
Apaixonada por Villa-Lobos, Debussy, Guerra-Peixe, Bach, Mozart, entre tantos outros, diz não ter preconceitos entre os domínios da música dita erudita e da popular; e lamenta, a impossibilidade de conhecer mais de todo o imenso universo musical, “uma vez que há gênios incontestes, mas silenciados em sua impossibilidade de projeção no cenário artístico”, conclui.
A pianista afirma que gosta de transcender a condição humana da existência ao improvisar no piano. “Somos seres musicais. A sinfonia do universo ocorre através da vibração, do som. Por isso, encaro minha profissão como um dever. Alimento que me desperta todos os dias em busca das harmonias possíveis. A arte possui um verbo que eu treino todo o dia: compartilhar!”, diz eufórica.
“Enquanto artista tenho uma missão: aguçar a curiosidade, sensibilizar também para a Beleza da Arte Musical, as pessoas que estão ao meu redor, sejam os alunos, os amigos ou o público”, diz. Mas alerta: “É necessário saber escutar o que é novo, o que está na nossa paisagem sonora e viabilizar as infinitas possibilidades da arquitetura sonora”, conclui.
RAIO-X
Bacharel em Música pela UNESP, em 1982.
De 1983 a 1986, estudou no Centre International D’Éducation Musicale Edgar Willems. Cursou as disciplinas Análise e Estética da Música no Conservatoire National de Lyon. Piano e Canto na École de Musique de Irigny; Por 2 anos, exerceu a função de professora de música da Courly, Comunidade urbana de Lyon e lecionou também na Maison de St. Rambert.
Trabalhou nos Conservatórios Mozart, Novo Tempo e Conservatório Dramático e Musical de Tatuí; nas Faculdades Marcelo Tupinambá e Carlos Gomes.
Desde 1987, ingressou como professora titular de Piano, com intensa atividade em Música de Câmara, na ELMMI.