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Professor faz análise do romance Éramos Seis

Professor faz análise do romance Éramos Seis

Publicado em 1943, o romance Éramos seis, de Maria José Dupré, comove gerações e ensi-na lições importantes sobre as relações familiares, a luta diária pela sobrevivência e o papel da memória na figuração vívida e subjetiva do passado. Foto - Reprodução/ Internet

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CulturaporRedação
19/11/2021 00:45

Daniel Paulo de Souza, doutor em Letras, professor e gestorpedagógico nas educações básica e superior.

Quando Monteiro Lobato resolveu ler o escrito original de Éramos seis, por insistência de Artur Neves, chefe do “departamento mental” da Companhia Editora Nacional, reconheceu no romance de Maria José Dupré uma verdadeira revolução à literatura nacional, a ponto de dizer que a obra lhe ensinou, numa só noite, mais sobre a própria literatura do que todos os anos dedicados ao exercício da arte escrita. Em suma, não viu no trabalho de Dupré um enredo ensejado pela curiosidade ou construído pelos malabarismos estilísticos, mas uma história simples, feita ao “galope da inspiração”, sem erudições de qualquer espécie, arquitetada para o regozijo e a contemplação, visto que evoca a vida plena que há em cada ser e em cada experiência. Basicamente, é isto que Éramos seis apresenta em seus dezesseis capítulos: a vida, e a vida em abundância, com tal força que, ao final, a emoção não escapa ao leitor sensível.

Na obra, Maria José Dupré, escritora paulista nascida em Botucatu no ano de 1898, conta a trajetória da família Lemos e a dura sobrevivência a que é submetida na capital paulista durante a primeira metade do século XX. Sob a perspectiva de D. Lola, a matriarca, a narrativa tenta atar duas pontas distintas da vida, em expressão machadiana: as experiências familiares de Lola, o marido e os quatro filhos pequenos na casa da Avenida Angélica e a velhice melancólica e solitária da personagem, já decorrida a separação completa da sua família. Ao contrário, porém, do que ocorre com o Bento de Machado de Assis, cuja condição senil se traduz em desgosto e amargura, D. Lola é saudosista e reconhece na própria história uma existência apreciável, mesmo que repleta de “sacrifícios e devotamentos”. No epílogo do exame dos fatos, ela chega a afirmar que, embora a vida lhe tenha parecido “uma tarde de chuva, pesada de tristeza”, “se fosse preciso recomeçar novamente”, faria tudo igual, visto que a recompensa de todo esse sacrifício e devotamento estava na felicidade de cada filho, que logrou seguir o caminho escolhido.

Essa proposta de Éramos seis, explicitada logo na primeira parte do capítulo inicial, faz da obra uma mistura de lamento e de exaltação de um passado distante à medida que o olhar lançado à velha casa desperta o tempo outrora vivido ali. Mediada pela imaginação, a consciência de Lola aos poucos retoma as cores das pretéritas experiências e a elas coaduna o sentimento que mais a domina enquanto recorda a família: “Quanta saudade eu tenho desse tempo da Avenida Angélica, quando meus filhos eram crianças e vivíamos todos juntinhos com Júlio”, ela diz, numa aparente idealização oportuna de quem analisa o passado a partir da segurança do presente.

No entanto, longe de romantizar uma época, chama a atenção nessa obra o realismo com que a vida é posta à baila, não no sentido da famigerada escola literária e das características a ela atreladas, mas na clareza e na densidade com que o real é desenhado a partir, inclusive, da representação subjetiva da personagem narradora, que dá a ele cores preciosas num cenário urbano corriqueiro. Os Lemos, nas dificuldades que enfrentam, personificam a luta e a simplicidade de uma sociedade construída pelo trabalho e pela obstinação, acostumada a ter como ingredientes diários as privações e as provações, tanto financeiras quanto comportamentais. Júlio, por exemplo, encarna simultaneamente o autoritarismo patriarcal (socialmente herdado e acentuado pelo consumo de álcool) e a preocupação rotineira em sustentar dignamente a família. O homem que trata a todos com gritos durante os jantares e que dá uma surra no filho por causa da perda do ano escolar é o mesmo que se desespera quando este foge de casa e que, por ocasião de uma reincidente reprovação na escola, dirige ao menino algumas palavras de incentivo sobre levar as coisas a sério: “A vida não é hoje, nem amanhã; a vida é uma vida inteira, são anos e anos que terá diante de si, e, se não estiver preparado para enfrentar esses longos anos com estudo, prática de trabalho, boa vontade, não será nada”.

Na mesma medida dessas impressões comportamentais, uma face específica da estrutura social é representada no contraste entre a vida simples dos Lemos e a luxuosa de tia Emília, que vive num palacete da rua Guaianases. A certa altura, uma visita da tia, com o seu carro e o seu cocheiro, provocou alvoroço na vizinhança a ponto de o evento ser descrito como um “espetáculo soberbo”, ou seja, o choque de mundos distintos que se entreolham e se respeitam, mas mantêm entre si a distância em virtude da condição factual díspar de cada um.

Ademais, é notório que, no desenvolvimento do enredo, destacam-se a paciência, o espírito conciliatório e a resiliência de D. Lola, a quem a viuvez precoce impôs o duro sacrifício da sobrevivência, a rispidez de Júlio, a diligência e a fidelidade de Carlos, o desprendimento revolucionário de Alfredo, ainda que sempre amoroso à mãe, o empreendedorismo de Julinho e o gênio forte e decidido de Isabel. Cada qual, a seu modo, revela matizes constituintes de caracteres que reverberam na existência interior dos leitores.

Nesse sentido, pode-se dizer que reside aí a própria realidade, para além da tentativa de um retrato fidedigno dela. Conforme sugere Antonio Candido, talvez a realidade esteja mais em “elementos que transcendem a aparência dos fatos e coisas descritas” do que neles propriamente ditos. Talvez seja essa a melhor forma de ter diante de si um condutor desse real para melhor compreendê-lo, aceitá-lo ou transfigurá-lo. Nessa esteira, o romance de Dupré não se esgota no mero retrato de atores sociais bem construídos.

Se por um lado, as vivências e as interações das personagens ajudam a tecer a intriga e a compreender o destino de cada uma depois de expostos os conflitos pessoais, por outro, alguns elementos, em Éramos seis, dividem com as pessoas da narrativa o protagonismo das ações. Com a mesma intensidade, percebe-se a atuação preponderante dos espaços ficcionais e da memória.

A casa da Avenida Angélica é, sem dúvida, personagem independente no romance. Do olhar saudosista no início até a despedida, vê-se uma espécie de consortismo entre a estrutura física e os seus habitantes. Em visita contemplativa à casa, D. Lola prefigura a história da sua família e principia em si a construção do roteiro narrativo da sua vida. Nesse instante, a cada visada se sucede uma lembrança, uma sensação sonora da proximidade das crianças. Na derradeira olhada, em contrapartida, o sentimento é oposto, e a ruína do lugar reflete o colapso interior: “Reparei que quase todos os trincos estavam quebrados e muitas janelas sem vidraças. A pintura também estava descascada; sentei-me num caixão cheio de livros e recapitulei toda a minha vida. Olhei tudo: […] Havia tanto de nós mesmos naquela sala; parece que um pedacinho de cada um ficava enterrado entre aquelas paredes”. Ali, consubstanciada à casa, ela enterrava a família na simbologia do “caixão”. Depois de anos de vista cansada, nublada pelos desencantos da vida, finalmente reparava que a decadência do seu lar estava transfigurada nas paredes abandonadas e nas janelas deterioradas. Era o fim do sonho de um casal do interior que acreditou na família como núcleo forte capaz de vencer as adversidades da cidade grande.

Outro espaço relevante é a pacata e acolhedora Itapetininga, na qual as personagens algumas vezes se refugiavam e com a qual estabeleciam uma relação antitética a São Paulo, uma vez que as preocupações ali se dissipavam, e a vida parecia correr com mais gozo e sossego. Tratava-se do lugar em que Lola nasceu e começou a constituir a sua família depois de conhecer Júlio. Ali ela deixou as irmãs e a mãe, mulher forte e independente com quem aprendeu a fazer os doces que seriam posteriormente a saída para a sobrevivência em tempos difíceis. Na cidade, os filhos encontravam ambiente saudável e seguro e eram recebidos com festa; ali também Olga, a irmã mais nova, casou-se e construiu uma família, e Clotilde, a mais velha, regressou para o descanso, já fatigada da rotina e do ambiente da cidade grande. Em Itapetininga, Carlos ganhou uma temporada de férias por causa das boas notas na escola e para lá também foi enviado, já crescido, junto ao seu destacamento militar, quando se alistou para a Revolução de 1932. Apesar de ali Lola ter enterrado os pais, o ambiente sempre lhe foi sinônimo de placidez e de equilíbrio.

Por fim, cumpre falar da memória como condição precípua para a construção de todo o enredo de Éramos seis. Em se tratando de uma história com foco narrativo em primeira pessoa, a memória torna-se justamente o espaço do reavivamento da experiência e o único lastro palpável da existência do passado, ou, nas palavras de Paul Ricouer, o “recurso para significar o caráter passado daquilo de que declaramos nos lembrar”. Com ela se cria um pacto de confiabilidade nas ações relatadas, na certeza de que todas pertencem ao crivo subjetivo da visão da personagem. Embora essas considerações aparentemente desmereçam os fatos narrados, é aí que eles ganham força, já que a ficção pressupõe justamente esse tratamento verossímil do real e a aceitação da narrativa a partir de uma lógica que lhe é totalmente própria.

A considerar as palavras de Walter Benjamin, de que articular historicamente o passado não quer dizer conhecê-lo tal como literalmente foi, mas “apoderar-se de uma lembrança tal como ela cintila num instante de perigo”, a história dos Lemos se afigura vívida e factível na memória de D. Lola, cujo “cintilar” é justamente a persistência do passado nas lembranças dessa mulher simples que, por sua luta e coragem, ensina à própria realidade uma conduta diante da vida. Por meio da experiência de cada personagem, por exemplo, o retrato da São Paulo do início do século XX e de seus acontecimentos históricos basilares, como a Gripe Espanhola e as Revoluções de 1924 e de 1932, torna-se acessível, numa representação tão eficaz quanto um relato historiográfico. É graças à memória de D. Lola, persistente e latente na consciência, que o tecer da intriga se realiza. É graças a ela que as lições familiares de Éramos seis, mesmo que distantes, são devolvidas à densidade emotiva e existencial realçada na obra.

 

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