Poucas pessoas conhecem a fatalidade do homem que dá o seu nome ao prédio central do conjunto arquitetônico mais importante de Itapetininga. O triste final de Peixoto Gomide possui requintes de uma tragédia grega mesmo não sendo uma história “exemplar”, condição essencial para ser encenada na Grécia antiga. A queda vertiginosa do importante político em seu auge, aproxima-se do infortúnio do rei Édipo.
A história de Édipo foi brilhantemente perpetuada por Sófocles na peça “Édipo Rei”, a primeira história detetivesca da literatura ocidental. A peça conta a trágica história de como um poderoso rei ao investigar uma maldição que assola Tebas, descobre que ele, Édipo, é o próprio culpado por ter matado o pai, Laio, e desposado sua mãe, Jocasta. A maldição familiar que esmagou Édipo também esmagará seus filhos/irmãos.
No começo do século passado, Peixoto Gomide era um dos mais influentes políticos da chamada República Velha. Porém, o relacionamento amoroso de sua filha Sofia com o promotor público e poeta Manuel Baptista Cepellos, o tirou do auge de sua glória e o lançou no mais profundo abismo de sofrimento, assim como Édipo.
Decididos a se casarem, Peixoto se opôs violentamente à união do casal. Após um período de inúmeras discussões, o autor do livro “Diários Secretos” (1954), Humberto de Campos afirma que a moça para forçar o consentimento de Peixoto ao casamento, teria dito ao seu pai: “Mas o senhor tem que consentir, porque eu já me entreguei a ele.”.
Peixoto Gomide ficou melancólico passando boa parte do tempo trancado em seu gabinete. No dia 20 de janeiro de 1906, sete dias antes do casamento, após um almoço familiar em sua residência no centro de São Paulo, Peixoto aproximou-se de Sofia e lhe apontou um revólver Smith & Wesson. O tiro fulminante no peito, a matou imediatamente. Logo após, vagarosamente, o político colocou o cano do mesmo revólver no ouvido, puxou o gatilho. Na primeira tentativa a arma falhou e, na segunda tentativa, findou sua própria vida.
Na época, a sociedade paulista questionou o porquê de tamanha fatalidade, afinal Cepellos era um homem digno, promotor na cidade de Itapetininga. No já citado livro, Campos, admirador das poesias parnasianas de Cepellos, revela que Peixoto Gomide era pai do poeta.
Após o incidente, Cepellos ficou depressivo, largou a profissão, mudou para o Rio de Janeiro e entregou-se a bebida. Vivia de trabalhos esporádicos para os jornais cariocas, indigente caminhava pelas ruas, e apesar da ajuda de amigos, não resistiu ao sofrimento, e, aos 43 anos, em 1915, jogou-se de uma pedreira em um morro carioca. Para Campos, o poeta sempre foi atormentado por desconhecer quem era seu pai e ao enfim, conhecer a verdade, não suportou o fardo da vida.
Na antítese sofocliana, nenhuma vontade humana poderia fugir das disposições do destino apesar do homem tentar justificar suas ações. Na peça “Édipo Rei” vemos Édipo tomar a consciência de sua culpa, afinal ele transgrediu leis sociais (o parricídio e o incesto), e diante de sua falha trágica aceita sua inevitável punição, proporcionando ao espectador (leitor) o reconhecimento da precariedade da condição humana.
Diferente de Édipo, o senador não revela o seu erro, a infidelidade, aos seus familiares. Peixoto que fora chefe político em Cotia teve um caso extraconjugal nesta cidade. Deste relacionamento nasceu um filho e por ironia do destino, o seu filho bastardo apaixonou-se por sua filha. Desesperado, findou a própria vida consciente de sua própria culpa e os filhos, como os amantes Píramo e Tisbe (outra lenda grega) morreram inocentes de sua própria desgraça.
* Milton Cardoso – Professor de Arte da EE Peixoto Gomide – Especial para o Correio de
Itapetininga10