Por Milton Cardoso
No próximo domingo, 22, comemora-se o dia do folclore brasileiro. A data foi oficializada a partir do decreto federal nº 56.747, de 1965. Sabemos que o criador da palavra foi o pesquisador inglês William J. Thoms (1803-1885), mas provavelmente temos pouco conhecimento que um importante Itapetiningano, foi um dos maiores batalhadores e especialistas sobre o assunto no país. Trata-se do professor Rossini Tavares de Lima (1915-1987).
Rossini dedicou boa parte de sua vida ao assunto. Em uma entrevista ao jornal “O Estado de São Paulo” afirmou que estudar sobre o folclore é perceber o encontro do ser humano além das nacionalidades, em suas palavras: “um meio de congraçamento universal”. Segundo o professor em uma simples brincadeira de empinar papagaios pode-se perceber este ato, “crianças de todas as nacionalidades podem empiná-los juntos, sem que se consigam notar diferenças muito grandes, isso é o que o folclore nos ensina”, disse.
Em seus trabalhos não evidenciava o estudo das origens dos costumes, valorizava o homem e suas produções espontâneas. “A técnica africana das cerâmicas utilitárias é muito semelhante à do índio brasileiro. Qual deu origem a outra? Isso não importa. O mais importante é o homem”, afirmou.
Entre suas inúmeras pesquisas, realizou um estudo sobre a dança folclórica paulista. Afirmava que São Paulo era um dos estados mais ricos em coreografias, ficando somente atrás de Alagoas em relação às variedades de coreografias. Estudou sobre o cururu, a catira, fandango (litorâneo, tropeiro e de tamancos), o samba-lenço, o samba campineiro, o samba de roda, etc.
Seu interesse pelo assunto começou no Conservatório Musical de São Paulo, quando ocupava a cadeira de assistente de História da Música, ministrada por Mário de Andrade (1893– 1945). Após o falecimento do modernista, Rossini assume a cadeira, porém por poucos anos. Quando foi criada a cadeira de Folclore, ele foi designado para assumir o cargo.
Rossini enfrentou inúmeras críticas do início do seu trabalho. Em suas orientações, pedia aos estudantes do Conservatório pesquisas sobre danças típicas, como o batuque, por exemplo, de origem angolana. Jornais paulistanos publicavam notícias como “professor orienta alunos para a prática de terreiros” e usavam adjetivos como “feiticeiro”. Mesmo pressionado, não se deixou abater com os comentários, mantendo-se firme em suas crenças, tornando-se posteriormente um dos nomes mais respeitados sobre folclore no Brasil.
Culto e a frente de seu tempo, o professor defendia o estudo do folclore em nossas faculdades, mas que incentivassem a pesquisa dos estudantes. Pesquisas de campo que possibilitassem resolver dificuldades e aguçassem a curiosidade, proporcionando assim, o interesse pela descoberta.
Rossini colaborou para jornais e revistas, foi diretor do Museu de Folclore, entre diversas outras atividades. Escreveu durante sua vida 16 livros, entre eles “Abecê de Folclore” (Martins Fontes), referências sobre o estudo do folclore.
Faleceu em 5 de agosto de 1987, por complicações no aparelho digestivo, após ficar internado no Hospital do Servidor por dois meses. Rossini Tavares de Lima é sem dúvida um nome que precisa ser mais divulgado.