Felipe Rocha
Especial para o Jornal Correio
No próximo dia 18, sexta-feira, o Núcleo de Artes Cênicas do SESI de Itapetininga estreia o espetáculo “Sonho de uma noite de verão”, uma comédia baseada na obra de mesmo nome escrita por William Shakespeare. A produção é resultado dos estudos e vivências que construímos ao longo de 2022 no curso “Encenação”, oferecido pelo SESI.
A peça é uma construção colaborativa que, na direção de Milton Cardoso, Orientador Cênico do SESI de Itapetininga, reúne um elenco diverso e explora variadas referências para recontar a história criada por Shakespeare há mais de quatro séculos.
Os desafios eram muitos, um dos principais foi trazer o texto para nossa realidade atual. Vivemos um processo de grande desconstrução das traduções de Shakespeare que estudamos, para encontrar o essencial de cada cena, de cada personagem. Ao longo dos meses fomos descobrindo novas formas de representar aquela mesma história. Exploramos possibilidades e, aos poucos, através de jogos teatrais, pesquisas e exercícios de improviso, de forma muito antropofágica, escolhemos novas referências, somamos linguagens, criamos personagens e construímos esta nova adaptação.
Para nós, a grande brincadeira foi a oportunidade de recontar essa história do nosso jeito, a partir da realidade do nosso tempo e da nossa região. Na peça, quatro jovens apaixonados perdem-se em fugas e desencontros na escuridão de uma floresta. Concomitantemente, um grupo de artistas do circo-teatro se reúne na mesma floresta para a construção de um espetáculo teatral. Entre o sonho e a realidade, zombados por seres mágicos da floresta, uma comédia de erros assola amantes e artistas que vivem inimagináveis transformações.
A construção desse espetáculo nos deu a oportunidade de refletir a respeito das relações amorosas na atualidade, encontramos ali a chance de representar uma sociedade que parece estar cada vez mais perdida ao valorizar a aparência, a razão e as posses, se distanciando dos sentimentos e das emoções.
Como alguns personagens da peça são artistas, também pudemos pensar sobre a importância da arte, tão afetada pelo comportamento social que estimula o intelecto e a racionalidade, enquanto deixa de lado nossa natureza lúdica e emotiva. Sem dúvidas, essa foi uma discussão que, ao longo do processo, garantiu grandes transformações em todo o elenco, afinal, ao longo do ano, diariamente desafiamos nossa própria capacidade de nos reconhecermos como artistas em formação.
Em meio a muitos textos, ensaios e instrumentos musicais, nos questionando sobre a vida que parece mesmo imitar a arte, refletindo sobre metalinguagem e sobre o fazer teatral, fizemos nossas escolhas para a construção dessa comédia. Comunicamos ao público, através da celebração da vida e do riso, nosso desejo de vida longa para a cultura e para os artistas de nossa cidade.
No último final de semana estivemos na cidade de Franca-SP, no evento “Cena Livre”, organizado pelo SESI, para um encontro entre NACs (Núcleos de Artes Cênicas) de outras cidades do interior, onde todos os grupos têm a experiência de compartilhar suas montagens uns com os outros.
Durante o evento, conversei com Priscila Borges, coordenadora dos Núcleos de Educação Continuada em Teatro e Dança do SESI, ela diz que “O Cena Livre surge com a intenção de compartilhar, afinal o teatro é feito de trocas”. Nós, do NAC de Itapetininga, fizemos nossa primeira apresentação de “Sonho de uma noite de verão” lá, o que foi muito importante para nos prepararmos para a estreia aqui, em nossa cidade, neste final de semana. A Priscila assistiu ao nosso espetáculo e compartilhou “Sou apaixonada por Shakespeare, vocês trouxeram uma visão da obra que é acessível, mesclando lúdico e contemporâneo, jovialidade, tecnologia, elementos sensoriais, música… vai além do visual, isso te joga dentro do texto, te convida”.
Após as apresentações, debates eram mediados por Instrutores de Teatro de várias unidades do SESI. Conversei com Danilo Minharro, ator, poeta, educador e Instrutor de Teatro do SESI de algumas unidades de São Paulo, que descreve o “Cena Livre” como uma oportunidade de “Ver outros mundos possíveis, através de outros olhares, é um encontro que celebra a diversidade”. Em conversa com o Danilo sobre o espetáculo, ele compartilhou: “Dava pra enxergar vocês se colocando como artistas e se posicionando diante do texto. É muito interessante quando vemos um trabalho que consegue trazer a referência clássica, mas também permite que o grupo seja visto se posicionando nitidamente diante desse material”. Para Danilo, “A direção parece ter sido muito acolhedora e contemplou muita diversidade de referências e habilidades que cada artista propôs, o que contribuiu muito para a criação de uma identidade de grupo”.
Também conversei com Fernando Delabio, ator, diretor e produtor teatral, Instrutor de Teatro do SESI de Marília, ele destaca que essa é “Uma montagem com vibração, gana e vontade por parte do elenco, isso chega até o público”. O Fernando diz que lidamos de forma interessante com a escolha de um texto consagrado, “Essa peça traz um espírito ‘pop’, músicas bregas, músicas populares, que todo mundo conhece, o que a meu ver, dialoga muito mais com Shakespeare do que uma montagem cheia de veludo e imitações de ouro”.
No teatro, e talvez de forma geral no fazer artístico, dizemos que uma produção nunca está pronta, finalizada. Nosso espetáculo viverá a cada encenação novas transformações, pois está vivo, assim como os artistas e o público também estão. Iniciamos uma temporada de 4 apresentações, nos dias 18, 19, 26 e 27 de novembro, e convidamos toda nossa a cidade para compartilharmos da magia do teatro, onde tudo é, e não é.
Ficha Técnica:
Direção e Cenografia: Milton Cardoso | Elenco: Luiz Henrique Cleto, Felipe Rocha, Gabriel de Lara, Valmir Agapto, Matheus Teles, Thaina Palmeira, Samuel Macedo, Felipe Fogaça, Alexandre Canda, Juliana Nishi, Carolina Paixão, Marcella Menk e Bruna dos Anjos | Participação Especial: Isadora Menk| Iluminação: Carlos Eduardo de Andrade | Operação Técnica: Raissa Leite Rodrigues | Pesquisa Musical: Alexandre Canda, Felipe Rocha e Juliana Nishi | Preparação Corporal: Valmir Agapto e Felipe Fogaça | Figurinos e Maquiagem: Isolete da Rosa | Coreografia: Andressa Meira | Dramaturgia: Milton Cardoso e Felipe Rocha inspirado na peça de William Shakespeare
Duração: 75 min
Categoria: Adulto
Classificação Etária – 16 anos
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