Considerado por vários críticos uma das melhores companhias teatrais do País, a premiada Artesanal Cia de Teatro fará uma curta temporada no Teatro do SESI Itapetininga com a peça “Tatá – o Travesseiro”, hoje e nos dias 4, 10 e 11 de junho, sempre às 15 horas. Os ingressos gratuitos podem ser reservados pelo MEU SESI.
A encenação é uma excelente oportunidade para os amantes teatrais curtirem um espetáculo que estimula a criatividade e a inteligência das crianças e encanta o público adulto.
Fundada em 1995 e com quase vinte espetáculos na bagagem, a companhia carioca já esteve em Itapetininga com os espetáculos “O Homem que Colecionava Caixas” (2012) e “O Gigante Egoísta” (2015) e, todos os trabalhos com grande sucesso de público informa Milton Cardoso. “A forma como abordam temas tão delicados em seus espetáculos é única, criativa e inteligente. Chama também a atenção, o requinte visual de seus trabalhos e o cuidado com cada detalhe da produção”, complementa.
“Tatá – o Travesseiro” conta a história de Lipe, um menino adotado, tímido e sonhador, que tem como melhor amigo seu travesseiro. Inseparáveis, vivem diversas aventuras. Porém, um dia, Tatá desaparece e o menino empreende uma jornada para resgatá-lo, tendo que vencer seus medos e angústias, aos quais apenas a sua imaginação será capaz de resolver.
O Jornal Correio conversou com um dos diretores do espetáculo, Gustavo Bicalho, sobre o espetáculo, o processo de trabalho, a produção destinada ao público infantil, entre outros assuntos. Confira a seguir.
Havia algo que “incomodava” vocês nas produções destinadas as crianças na década de 1990, no Rio, quando produziram “Romão e Julinha”?
GUSTAVO BICALHO – Os três primeiros espetáculos da Artesanal, desde “Romão e Julinha”, tivemos sempre cuidado com a qualidade da produção que estávamos entregando. Mesmo sem recursos de montagem (apenas apoios), colocávamos em cena encenações extremamente bem cuidadas. O que nos incomodava muito, no início, era ver espetáculos mal produzidos e mal encenados sendo oferecido ao público. Sempre tivemos a noção de que o valor que entregamos, como produtores, não está necessariamente relacionado à existência ou não de recursos financeiros. Por isso, nossa companhia se chama ARTESANAL, porque era assim que produzíamos no início. E acho que foi isso que chamou a atenção desde o início, porque o público e a crítica perceberam que estávamos entregando algo acima da média. O trabalho artesanal e o sucesso se repetiram em “O Circo Mágico de Provolone, Goiabada e Guaraná” e em “Amaralinda”. Mas, mesmo com todo retorno positivo, sentíamos que faltava algo no que estávamos realizando. Foi quando decidimos investir, também, na dramaturgia, primeiro com a adaptação de um grande clássico “Cyrano de Bergerac”, que, carinhosamente intitulamos de “Cyrano de Berinjela”, adaptando a trama de Edmond Rostand ao universo de uma feira livre tipicamente brasileira. Este espetáculo foi o nosso primeiro “divisor de águas”, porque a partir dele, começamos também a valorizar a história que estávamos contando. “Cyrano de Berinjela”, angariou diversos prêmios e indicações e foi um espetáculo longevo, que ficou cerca de 10 anos no repertório.
Há fatores que ainda incomodam vocês no cenário teatral no teatro destinado ao público infantil?
GB – Sim, claro! Ainda há uma ideia equivocada sobre o que é o teatro para a infância e juventude, tanto por parte de alguns realizadores, quanto por parte do público. Não são todos que aceitam que o teatro para criança não precisa ser um teatro “infantilizado”. Melhor explicando: há uma diferença entre INFANTIL e INFANTILIZADO. A infantilização parte do princípio de que a criança não consegue compreender o espetáculo à sua própria maneira. Há um excesso de simplificações, um excesso de estímulos visuais e sonoros, uso de gags, bordões, uma dramaturgia rasa, sem pesquisa, enfim… E muitos pais caem nessa armadilha.
Você vê um salto qualitativo nas produções teatrais destinadas ao público infantil desde 1995?
GB – Na verdade, acho que esse movimento começou bem antes de nós. Explico: foi assistindo bons espetáculos e sendo seduzidos por eles, que nos encaminhamos para uma mudança de paradigma dentro do nosso trabalho. A partir de “Cyrano de Berinjela”, percebemos que um espetáculo é o todo. Ele tem que ter qualidade em tudo: no texto, na encenação, nos cenários, figurinos, trilha musical, atuação… em tudo! Quando partimos para a encenação de um novo espetáculo, há muita pesquisa antes. Sobre o tema que abordamos, sobre a linguagem que vamos utilizar em cena, sobre a estética visual da peça, uma intensa pesquisa musical e sonora, enfim… A gente vê que muitos encenadores hoje se preocupam com isso. Sempre é muito elogiada pela crítica especializada a forma peculiar como vocês abordam a dramaturgia. Dois espetáculos apresentados na cidade, “A Lenda do Príncipe que Tinha Rosto” e “O Homem que Amava Caixas”, foram bem recebidos pelo público pela riqueza gestual dos atores, a sensibilidade visual, porém, a dramaturgia chamou a atenção. Como é escrever para um público infantil trabalhando pela perspectiva do olhar da criança? Sobre “A Lenda”, esse foi um espetáculo de dramaturgia própria, enquanto “O Homem que Amava Caixas” partia do universo apresentado pelo autor Stephen M. King em seu livro ilustrado. São aproximações distintas, na hora de desenvolver o projeto. Quando partimos de um livro ou texto pronto, temos que respeitar o universo proposto pelo autor. Principalmente, quando partimos de um livro ilustrado que é muito popular e conhecido pelos pais e pelas crianças. Já sobre a escrita, meu ponto de partida é muito simples: antes de mais nada, eu crio um universo completo pros personagens. E aí encontro o ponto certo de “recorte” da trama. Ou seja, dentro de todo que foi criado pro personagem, que aspectos eu vou trazer pra cena? Qual momento da vida daquele personagem? Sobre quais conflitos eu vou jogar luz? E depois, com calma, eu vou trabalhando a história para que ela fique mais lúdica… poética! E isso é escrever, seja para crianças ou adultos. Para mim quando a escrita não revela o personagem (ou não permite que isso aconteça) é uma escrita que não me interessa. Não que seja ruim; não é isso. É, apenas, a forma que eu escrevo. Eu gosto de trabalhar com a nostalgia e com a esperança. Ou seja, não importa se sou criança ou adulto, espero que o mundo a frente sempre esteja melhor.
Qual é o “segredo” de trabalhar com temas extremamente sensíveis de forma tão inteligente, sútil e lúdica sem cair em armadilhas?
GB – Não podemos ter medo dos temas que pretendemos trabalhar. Embora eu ache extremamente importante saber que a infância é um tempo que precisa ser respeitado. Esta é a questão. Respeito! Não é apresentar uma ideia de forma autoritária, fechada, indiscutível… é apresentar um tema e deixar que ele amadureça no seu ritmo próprio. É deixar que o mistério permaneça.
Como é o processo de criação do grupo?
GB – Cada projeto tem seu próprio tempo. Isso pensando desde o momento que a ideia nasce, cresce, incomoda, te cutuca e diz “eu quero sair” e você coloca no papel. Daí, colocar em cena é um outro processo. É escolher a técnica que vamos utilizar (bonecos, sombras, projeções, tudo junto?), ler o texto com os atores, deixar que cada um fale sobre a história, deixar que cada um de toda a equipe acrescente algo mais na história ou na encenação. E aí é repetir, repetir, repetir… Um espetáculo só está pronto quando realiza sua última apresentação. Até lá, é sempre um processo. Mas, respondendo de forma mais prática, levamos cerca de 3 meses no mínimo para construção dos bonecos, figurinos, cenários, ensaios, sonorização e iluminação, até a estreia (isso é o que chamamos de produção, coordenar todas as etapas do processo de forma que ele aconteça dentro do prazo e orçamento definidos).
Por que Lipe vem arrebatando os corações do público paulistano e carioca?
GB – Representatividade? Acho que é isso. Lipe é um herói clássico e vive grandes aventuras (mesmo sendo apenas em sua imaginação). E há um fato que considero bem relevante: Lipe usa a imaginação e o brincar como forma de instrumento para encarar a vida real. E isso é muito bonito.
Como tem sido a recepção do público mais jovem ao acompanhar os medos e angústias de Lipe para achar seu melhor amigo, Tatá?
GB – Bastante positiva. Podemos captar isso pelos aplausos e também pelas pessoas que nos procuram depois da peça ou nas redes sociais para comentar sobre o espetáculo. Esse retorno que recebemos do público é muito importante no nosso trabalho.
Uma das cenas que mais chamou a atenção do crítico Dib Carneiro Neto foi a cena do retorno de Lipe da escola, quando ele sofre bullying. Como foi que vocês desenvolveram essa cena em especial, sobre um assunto tão presente em nossa sociedade, mas as vezes tratado com tantos clichês?
GB – Essa cena surgiu na escrita do espetáculo, junto com as outras duas autoras (Patrícia von Studnitz e Andrea Batitucci). Nós não queríamos mostrar a cena do bullying e sim como Lipe se sentia em ser alvo da chacota. E pra nós, era importante não romantizar ou sublinhar o fato. O importante era que o pai mostrasse a Lipe que ele devia ser maior do que todas as provocações que poderia sofrer. A vida não será justa com Lipe o tempo todo. E ele precisa saber disso e precisa saber que tem que ser maior do que isso. Lipe precisa se defender, mas não precisa ser agressivo pra isso. No caso, ele descobre que através da imaginação, ele tem uma arma bem eficaz pra combater isso.
Quais os próximos desafios da Companhia?
GB – Já estamos trabalhando em um novo espetáculo. No momento, estamos naquele momento da ideia que quer ganhar corpo para virar um espetáculo. A parada obrigatória, que todos nós sofremos durante o período mais crítico da pandemia, fez com que esse projeto demorasse um pouquinho mais pra sair. Mas ele já está ganhando corpo e logo estará aí…
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