As mulheres quebraram as barreiras do mercado de trabalho. Mas ainda há setores que a resistência permanece. A construção civil, por exemplo, é majoritariamente dominada pelos homens. Nos seis primeiros meses, em Itapetininga foi registrado um saldo positivo de 225 vagas de trabalho neste setor. Porém, todos os postos de trabalho – mas, atenção, todos – foram ocupados pelo sexo masculino. Os dados pertencem ao Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.
No primeiro semestre foram 920 admissões e 695 desligamentos na construção civil. No recorte das contratações, foram selecionados 896 homens e apenas 24 mulheres. Portanto, 97,4% do masculino e 2,6% do sexo feminino. Nas demissões, ocorrem 695 desligamentos. Como a massa de funcionários é praticamente de um único sexo, é natural que a maior parte da demissão tenha sido de homens (671) contra as mulheres (24).
Para o professor de Itapetininga, formado pela Unicamp, Jovir José de Almeida Filho, a cidade é um exemplo deste quadro negativo por apresentar ainda enraizados pensamentos e costumes dos séculos passados. “Quando pensamos em empregabilidade, não podemos deixar de olhar para a cultura e para a história de cada lugar, assim, dados com enorme diferença entre a admissão de homens em relação à admissão de mulheres, como é o caso em Itapetininga, traz consigo uma característica machista e patriarcal”, afirmou.
Ele disse que esse cenário não é exclusivo de Itapetininga e ocorre em outras áreas. “Afinal, as disparidades entre homens e mulheres são uma realidade cruel de nosso país, com significativa diferença na média salarial de 19,4% a mais para eles do que para elas, segundo dados do governo federal”, comparou Jovir.
O relatório da Rais de 2021 apontou que 250 mil mulheres atuam no setor de um total de 2,3 milhões de funcionários com carteira assinada no país. Isso representa 11% da força de trabalho.
Apesar dos desafios diários, as mulheres, aos poucos, conquistam mais espaço no mercado de trabalho e provam que são qualificadas para assumir qualquer cargo e profissão. Sua principal vantagem é a capacidade de ser detalhista e meticulosa no acabamento da obra, um quesito que a torna fundamental na contratação e é valorizado tanto pela construtora como pelos clientes.
São engenheiras e arquitetas, mas também pedreiras, serventes, carpinteiras, ajudantes de obras, técnicas em edificações e segurança do trabalho, entre outras funções. Com desafios impostos pela sociedade, as mulheres conquistam espaço no mercado de trabalho. No caso da construção de Itapetininga, é mais um ramo que deverá ser vencido. Em outros estados, a presença feminina já registra aumento de 15% nas ocupações nesta área.
Conforme o professor, apesar de as empresas preferirem o homem devido à força física, isso não é suficiente para a participação tão baixa das mulheres no setor. “Não podemos ignorar, obviamente, que exista a prevalência física masculina ao se ter a geração maior de vagas na construção civil, o que levará a maior contratação de homens justamente por se entender como um atendimento de demanda física, mas isto acaba por mascarar, a partir de certo ponto, o machismo latente, já que muitas mulheres desempenham com superior qualidade atividades da construção civil e não recebem a oportunidade”, disse o professor em entrevista.