Carla Monteiro e Laura Oliveira
Por muito tempo ser mulher era sinônimo de não ter direitos. Elas não podiam estudar, trabalhar, votar, dirigir ou se interessar por qualquer assunto que não fosse cuidar de filhos, da casa e do marido. Mas, muitas mulheres ao longo da história lutaram para que a realidade fosse outra, para que o direito de a mulher fazer suas próprias escolhas fosse respeitado. A luta ainda continua, diariamente e constantemente. As mulheres carregam no ventre o dom da vida, nos braços a força para lutar e no cérebro a sabedoria de ser o que quiser ser.
Nesta edição especial de Aniversário de Itapetininga, o Jornal Correio, resolveu contar um pouco da história de algumas mulheres que marcaram e marcam a história da cidade. Se você sentir falta de alguém aqui na nossa reportagem, escreve para gente;
Na aviação
A aviadora Anésia Pinheiro Machado. Filha de Gustavo Gomes Pinheiro Machado e Aurélia de Vasconcelos Pinheiro, foi responsável por grandes feitos no mundo da aviação. Ao longo de sua vida, ela conquistou dezenove medalhas nacionais e sete internacionais, além de dois prêmios, o da Federação Aeronáutica Internacional (FAI) – Decana Mundial da Aviação Feminina e o Prêmio Edward Warner.
Ela conseguiu seu brevê (documento de permissão para pilotar aviões), no dia 9 de abril de 1922, pelo Aeroclube do Brasil. Foi a segunda mulher a ter licença no país. Anésia é muito conhecida por suas conquistas. Ela foi a primeira mulher a realizar um voo com passageiro, em 23 de abril de 1922. Foi também a primeira brasileira a realizar um voo acrobático. E a bordo do Caudron G.3, conquistou o recorde feminino de altura no Brasil até então, alcançando 1 425 metros, também em 1922.
Anésia faleceu em 1999, aos 95 anos, no Rio de Janeiro. Ela foi cremada e suas cinzas estão no Museu de Cabangu, em Minas Gerais, cidade de Santos Dumont..
No ano de 2013, ganhou um filme com seu nome “Anésia, um vôo no tempo”, onde documenta a vida da aviadora. Ainda em 2013, foi homenageada pelo Museu de Imagem e Som de Itapetininga, com uma estátua com o seu porte na Praça Marechal Deodoro da Fonseca, mais conhecida como Praça dos Amores.
Nas artes
Maria Prestes de Albuquerque Ferreira nasceu em Itapetininga, em 17 de maio de 1927.
Filha de José Prestes de Albuquerque e de dona Maria Aparecida de Albuquerque, era sobrinha de Júlio Prestes de Albuquerque.
Segundo historiadores, estudou pintura com Alberto Thomazzi, com Deusdedit de Moraes Campanelli, com Oscar Campiglia e com Carlos Ayres. Tendo desde a mais tenra idade convivido com a natureza, tirou dela suas maiores fontes de inspiração para sua pintura, caracterizada por um academismo suave, personalizado e de estilo inconfundível, como diria o crítico Antonio Santoro Júnior: “Através do diálogo com as flores, da luminosidade perceptível que envolve os casarios, Maria Prestes chega à natureza morta retirando as aparências de suas propostas até então ligadas ao seu mundo exterior, para colocá-las na força de seu mundo interior de artista. Mostrando-nos assim uma arte acadêmica, querendo despontar para novos impulsos de linguagem plástica”.
Entre as inúmeras exposições coletivas e individuais que participou podemos destacar a Exposição de Arte Contemporânea de Nice na França, Salão Paulista de Belas Artes (várias edições) e a Expofair International em Lisboa – Portugal.
Maria Prestes foi co-fundadora da Academia Itapetiningana de Letras. Faleceu em Piracicaba aos 31 de dezembro de 2014. E foi sepultada no Cemitério do Santíssimo, em Itapetininga.
No poder executivo
No ano de 2016, Simone Aparecida Curraladas dos Santos, tomava pose como a primeira prefeita em Itapetininga. Ela foi eleita com 54,82% dos votos válidos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esse título já havia sido ocupado por Juliana Fabiano Alves, mas ela foi eleita como vice-prefeita e no ano de 1963, acabou assumindo o lugar de José Ozi na prefeitura por um período de tempo. Portanto, Simone Marquetto, como é conhecida, é a primeira mulher a ser eleita como prefeita de Itapetininga.
Antes de se tornar prefeita, Simone era jornalista e relações públicas, e nunca havia pensado em se candidatar ao título. Foi depois que o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, sugeriu a ideia. “Eu cobrava muito sobre Itapetininga. Estava sempre perguntando para ele sobre a visibilidade da cidade, que faltava representação itapetiningana nas grandes cidades…então um dia ele sugeriu a ideia da candidatura.”
Simone relata que no início sofreu, pois, algumas pessoas não queriam apoia-la. Ela estudou as políticas públicas e deixou a carreira no ramo jornalístico para se dedicar a política.
Ao ser questionada sobre a discriminação que sofre por ser uma mulher no ramo político, Simone disse que muitas vezes duvidam de sua capacidade e a provocam com piadas infames. “Uma coisa que admiro muito nas mulheres é que, todas são persistentes. Para aquelas que pensam em seguir no ramo político, amor e tolerância são itens importantes. O apoio de família e amigos também é fundamental. O segredo é sempre manter o foco e ignorar ações fúteis.”
A prefeita também disse que recebe muito apoio de mulheres da região, mas que muitas vezes, sente falta de empatia por parte de algumas delas.
Ela ainda comentou que o jornalismo a ajudou muito: “Na área jornalística, acabei conhecendo muitas histórias, pessoas com muitos conhecimentos e isso me ajudou muito na carreira política. Foi fundamental.”
No poder legislativo
A primeira vereadora de Itapetininga foi Juliana Fabiano Alves, que foi eleita entre o ano de 1931 e 1978, foi vice-prefeita, e chegou a assumir a Prefeitura. Outras doze vereadoras chegaram a ser eleita depois disso. No ano de 2016, apenas duas mulheres foram eleitas para o cargo de vereadora e assumiram a cadeira no legislativo no ano seguinte. São elas, Denise Franci e Selma Aparecida.
Em entrevista ao Jornal Correio, Denise relata que tudo começou em 2008 quando sentiu o desejo de poder levar as reinvindicações dos colegas de trabalho adiante. Ela que, é professora na rede Municipal de Ensino, relata que via problemas nas infraestruturas de escolas, gastos desnecessários e outros problemas que prejudicavam o povo. “Percebi que precisávamos ser ouvidos e representados. Dessa forma me convenci a entrar para a política.”
Ao ser questionada sobre o preconceito na área política, Denise disse que vê uma certa resistência e preconceito em relação as mulheres. “Eu vivenciei isso através de pessoas do meu convívio que diziam que política não é coisa para mulher. Foram três eleições para que eu conseguisse a cadeira na Câmara. Mas sou respeitada por todos dentro do meu trabalho.” Ela ainda completa: “Recebi muito apoio de meus amigos e familiares. E até hoje conto com a ajuda dos mesmos em casa. Confesso que a minha jornada não é fácil, mas tento atuar da melhor forma…entre acertos e erros, vou crescendo como profissional e ser humano.”
Para as mulheres que desejam seguir a carreira política, Denise aconselhou “Nós mulheres fomos historicamente, socialmente e culturalmente excluídas dos processos decisórios e dos espaços públicos por séculos e agora não desistam de seus direitos Independentemente de qualquer resistência, sigam em frente. Conquistem seu espaço através do bom trabalho e respeito.”
A vereadora Selma Aparecida não pôde falar com o Jornal Correio.
No direito
A advogada Ana Lucia Lobo Benedetti foi eleita a primeira mulher presidente da OAB de Itapetininga em 49 anos da instituição na cidade. Formada na FMU (Faculdades Unidas Metropolitanas), Ana Lucia que nasceu em São Paulo, mas já vive em Itapetininga há 26 anos atua na área cível nas esferas da família e também na área trabalhista.
Ela contou ao Jornal Correio que se sentiu honrada em ter sido a primeira mulher eleita para o cargo na cidade. “É uma honra poder representar as mulheres, fico sem palavras por ter sido a primeira a ocupar a presidência. Isso mostra que a sociedade está começando a enxergar que as mulheres podem sim ocupar cargos de liderança. Mostra esse empoderamento da mulher e de alguma maneira elas sentem-se mais seguras e representadas”.
No esporte
A skatista Isabelly Ávila, de 15 anos, é hoje a terceira colocada no ranking da Confederação Brasileira de Skate e faz parte da seleção brasileira da categoria street. É a skatista na história de Itapetininga que mais participou de competições importantes no cenário brasileiro e mundial do skate street.
A talentosa jovem se apaixonou pelo esporte por influência do Pai também skatista e conta que não foi fácil no começo. “Foi difícil porque as pessoas falavam que era um esporte para meninos e não para meninas”.
Suas inspirações no esporte são Mariah Duram, Jenn Soto, Aori Nishimura e Pamela Rosa. A atleta, mesmo com pouca idade, já participou das principais competições do país e do mundo. A experiência e a oportunidade de conhecer lugares e pessoas novas é o que ela considera o mais importante da carreira até aqui.
E a força de vontade de Isabelly sempre a levou longe, algumas competições ela inclusive chegou a disputar com os meninos. Ela conta que nunca sentiu pressão por ser tão jovem e ainda deixa um conselho. “Fico muito feliz em saber que incentivo várias meninas a andar de skate, falo para elas nunca desistirem de seus sonhos e dar o melhor delas”.