Juliana Cirila
Uma campanha conhecida da marca Dove, que já dura mais de dez anos, chamada “Real Beleza” mostrou que apenas 4% das mulheres em todo mundo se consideram bonitas. Outro número revelado pela pesquisa mostra que 72% das garotas sentem imensa pressão para serem bonitas.
A pedagoga Daniela Orsi da Silva Sales comentou que faz vinte e sete anos que ela vive o dilema do corpo perfeito. “A minha família em si nunca interferiu, acredito que mais eu mesma que me senti mal muitas vezes por não ser magra, já passei por várias dietas que de início deram resultados, mas logo ganhei peso, fazendo eu me cobrar muito”.
Sales ainda conta que já deixou de ir a lugares por não se sentir bem com o próprio corpo. “Já dei muita importância, já me senti constrangida em várias situações, vivo uma briga constante com meus sentimentos em me aceitar como sou, acaba mexendo muito com nossa autoestima, acarretando muitas vezes uma depressão. E sim a sociedade cobra muito, nem sempre com palavras, mas com olhares e atitudes”.
A cuidadora de idosos Flávia Viviane Leite contou que de certa forma acabou se tornando refém dos padrões de beleza. “Desde adolescência, talvez a pior fase posso dizer com o corpo mudando numa rapidez por dentro e por fora, na minha época de adolescência não tinha essas mídias sociais era apenas televisão e revista, onde sempre tinham dicas de beleza de tal artista para você seguir um padrão cabelo liso (o meu ondulado), pele lisinha (a minha lotada de espinha) o corpo magro (eu mais cheinha) aí já vem um começo que eu me impunha em tentar ser o que não era”.
Leite ainda acrescentou que com o tempo adquiriu ansiedade, e depressão e na bagagem acabou desenvolvendo bulimia. “Eu já estava no padrão imposto, tinha que manter e minha cabeça já estava no automático, mas com o tempo, tratamento certo com profissionais. Fui aprendendo a gostar de mim como eu sou, me sinto feliz hoje em dia. Mais madura vejo o quanto a mídia escraviza a gente a ser ou parecer o que não somos, mas isso está mudando, as mulheres estão empoderadas com decisões sobre seu próprio corpo.”
A cuidadora de idoso diz que após diversas dietas, hoje consegue se sentir bem com o próprio corpo. “Muitas vezes, por ser baixinha tinha vergonha de usar vestido, por ser muito branca pavor de shorts, por ter seios grandes desde sempre fugia dos biquinis, não usava nada que me mostrasse. Mas hoje eu percebi que beleza é a saúde do corpo, mas também da mente e o meu padrão de beleza é poder ser quem eu quiser”.
A psicóloga Mariana Harumi Segatto Fugikawa explica que os padrões de beleza vêm mudando no decorrer dos anos e da localização geográfica. “Houve um período em que as curvas os corpos cheios eram mais valorizados músculos não a mostra, mas agora na atualidade o que vemos é um valor baseado na magreza, nas ausências de rugas e em um cabelo sem nenhum fio distorcido, que pode levar até a uma questão patológica com a aparência estética”.
Fugikawa esclarece que a preocupação excessiva com a aparência e com o corpo pode levar o indivíduo a cometer exageros. “Jejuns que chegam a ultrapassar o limite do corpo físico, quantidades de horas em academias que abusam da musculatura acabam ficando fora da humanidade mesmo, pois não respeita o limite do indivíduo.”
A psicóloga ressalta que esse padrão vem sofrendo uma modificação graças aos novos canais de comunicação que vem surgindo. “Hoje é possível você acompanhar uma dona de casa em sua rotina, aquela mulher que tem melasma na pele e que tem exposto e que tem tentado mostrar como ela é abertamente, isso tem feito muito sucesso pessoas que tem uma vida normal, mudou um pouco o conceito de beleza porque hoje pessoas comuns estão tendo espaço nas mídias”.
Fugikawa reforça que o importante não seguir padrão. “Os padrões de beleza nós não vamos conseguir negá-los, mas cada um se olhar, se ajeitar do jeito que é, pensar e refletir o que pode ser feito e se mesmo assim decidir mudar essa mudança precisam respeitar a sua natureza para não correr o risco de perder sua natureza. Porque o ser humano é diversidade, e cada ser humano é único”.