Laura Oliveira
“Libras deveria ser obrigatório nas escolas” a frase é da especialista e professora Flávia Alves, ela também é diretora de um instituto que desde 2014, capacita alunos e profissionais de diversas esferas da sociedade, a se comunicarem por meio da Libras de uma maneira prática e dinâmica. O Jornal Correio conversou com a professora que listou alguns mitos e verdades sobre a Língua Brasileira de Sinais.
“A primeira de todas é que nem todo surdo, é mudo. Existe o surdo-mudo, mas é muito raro de se encontrar alguém com essa dificuldade. Os mudos são aqueles que tem problemas nas cordas vocais e não conseguem falar. Seus problemas estão ligados às vias vocais e os surdos estão ligados às vias auditivas. Os surdos podem falar, mas a maioria tem vergonha porquê não conseguem falar corretamente, por isso preferem ficar quietos”, disse a especialista.
Flávia ainda esclareceu que cada país tem sua Língua de Sinais, mas que todas foram criadas na França. “A língua de sinais não é universal. Ela teve sua origem na França e a partir daí cada país foi criando seus próprios sinais. O Brasil ainda tem alguns sinais franceses…alguns com o mesmo significado e outros com significados diferentes. Agora, eles estão criando uma espécie de língua de sinais universal, com alguns sinais a serem usados em reuniões e eventos importantes, como se fosse um ‘gestuno’, que era uma língua de sinais que misturava todos os idiomas.”
Segundo a professora, Libras não pode ser considera a segunda língua oficial do país, pois, ela é uma língua oficial apenas da comunidade surda. “Para ser considerada uma segunda língua oficial, a Libras precisam estar em todos os âmbitos, como escolas, plenários, eventos e outros. A língua de sinais é um idioma diferente. Dizemos que é um idioma 3D, visual e espacial. Nós precisamos dos olhos para entender e do espaço pra finalizar. Já a língua portuguesa é linear, oral e auditiva.”
De acordo com o Decreto Federal Nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, a Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Alves frisou a importância de se ter sempre um interprete em locais como escolas, igrejas e afins. “Deveria ser uma matéria obrigatória em todas as escolas, pois, assim já estaríamos incluindo as pessoas com deficiência auditiva e eles não precisariam esperar por um interprete. Sem contar que nem todos os surdos sabem Libras, já que 90% nasce em uma família de ouvintes e acabam não aprendendo a se comunicar usando a língua de sinais. Tem surdo que não nasce surdo e vai perdendo a audição com o tempo, deixando de aprender a Libras e até mesmo surdos que não fazem ideia de que são surdos, pois, eles veem nossas bocas se mexendo e fazem o mesmo movimento, achando que estão falando. É sempre importante, nesses casos, avisar sobre o surdo de sua deficiência e conscientiza-lo de que a comunicação é essencial.”
O Santuário Nossa Senhora Aparecida do Sul conta com a Pastoral do Surdo, que auxilia pessoas com deficiências auditivas pela cidade. O padre Rodrigo Correa Feitosa contou sobre as ações da pastoral durante os seis três anos de funcionamento. “O bispo me pediu para que eu trouxesse a pastoral para cá. Os trabalhos começaram a ser realizados cerca de dois a três anos atrás. Na pastoral damos informações a leigos e surdos, conscientizamos sobre a inclusão de pessoas com essa deficiência, além de oferecermos outros tipos de ajuda.”
O padre ainda disse que todos os interessados, de qualquer idade, podem se inscrever no curso. As aulas, que antes aconteciam às quintas-feiras a noite, hoje ocorrem via internet. “Antes da pandemia, todas as missas das 10h tinham um interprete. Hoje, por conta da pandemia elas não ocorrem mais, mas estamos nos preparando para voltar. A pastoral é muito importante, pois, não trabalhamos apenas com o público católico. Uma das auxiliares é de outra religião e aceitou nos ajudar. Na igreja, temos a catequese para surdos, a confissão, mas ajudamos e auxiliamos toda a comunidade surda e interessados nela.”
*Sob Supervisão Carla Monteiro