*Juliana Cirila
Anos 80
Vida louca, vida breve…
Se você leu a primeira frase desse texto cantando, é porque com certeza você foi jovem na década de 80, “Vida louca, vida breve”, foi uma música composta por Lobão, mas que ficou eternizada na voz do saudoso Cazuza, um dos maiores cantores da história do rock nacional.
Diversos cantores internacionais deram início na carreira nessa época, e também tinha a boyband Menudos que fazia muito sucesso. A música brasileira também estava em alta, bandas e cantores estouravam nas rádios, os jovens ligavam nas rádios para pedir música dos seus artistas favoritos e torciam para o locutor não falar no meio para não estragar a gravação que era feita em fita K7.
O RPM arrasou na época, recordou o professor de Educação Física, Fernando de Almeida. “Nós conhecíamos todas letras e pessoal cantava e dançava tudo mesmo tempo. Eta (sic) saudade danada!”
“Os anos 80 foram marcados por uma grande revolução tecnológica e de sonoplastia que tomaram conta nessa época.” completa a professora Gisleine Aparecida Rolim Loenert Araújo, de 50 anos.
“A paixão pela música era tão grande que as rádios explodiam em audiência, eu mesma era uma que ligava toda semana na rádio sempre oferecendo para alguém.” Recordou Araújo
E por falar em música, não podíamos deixar de falar da noite itapetiningana, considerada uma das mais agitadas do estado de São Paulo, o pessoal dos anos 80 e 90 tinham várias opções para curtir o final de semana.
“Tínhamos tanto lugar para ir, que os bailes começavam na quinta-feira e acabava no domingo, íamos trabalhar virados, mas não perdíamos as festas.” Lembra a empresária Ivoni Aparecida de Oliveira Ceragioli.
“O Clube Recreativo Itapetiningano (CRI) era um ponto de encontro com muita música e para não fazer feio, treinávamos a semana toda ‘os passinhos’ claro depois de muita agitação era a vez da música lenta entrar em cena, como a paquera já tinha rolado sempre acabávamos ficando com alguém,” relembra a professora.
Os passeios dos jovens de várias gerações se iniciavam pela Praça Largos dos Amores, ali as paqueras aconteciam no chamado ‘footing’, os famosos giros em volta do chafariz.
Ainda na praça, três lugares agitavam a noite dos jovens, o CRI, os bailes do Clube Venâncio Ayres e casa noturna Bullus a sua primeira instalação foi na Praça dos Amores.
“A inauguração da Bullus trouxe uma nova emoção para as nossas noites dos jovens, era tantas emoções, muitas agitações e sempre regado de música boa.” Acrescentou Araújo.
Em 1985 Bullus foi transferida para a Virgílio de Rezende. “Quando a Bullus mudou para a Virgílio, aí começou agitação, a rua virou point da cidade e de toda região, possibilitando abertura de vários bares, lanchonetes e a choperia do Sacyzinho, a rua era superlotada desde a Igreja das Estrelas até a lanchonete Zokar, que funcionava em um posto de gasolina e hoje está desativado”, relembrou o Almeida
Nem só de clubes e grandes bailes viviam as noites itapetininganas dos anos 80, os bailinhos de garagem eram uma opção para os jovens que não tinham autorização dos pais para badalar pelos points da cidade.
“O mundo da moda também marcou época e os jovens de Itapetininga, com saltos coloridos, cabelos e maquiagens que revolucionaram a época. Tenho lembranças das roupas que usava, das cores, dos cabelos e makes que certamente deixaram nossos pais e familiares um tanto incomodados com todo esse cenário”, ressalta Araújo.
Também muitos amores foram formados nas noites de Itapetininga dos anos 80 o casal Roberto Carlos Ceragioli funcionário público e a empresária Ivoni Aparecida de Oliveira Ceragioli se conheceu em meados de 1980 em uma festa.
“Naquela época não existia celular, nem redes sociais, era na paquera mesmo, no olhar e se rolasse o interesse a gente se apresentava na semana seguinte, se moça voltasse no baile, aí tentávamos a sorte e foi assim que eu conquistei a Ivoni”, contou o funcionário público.
“Ficamos amigos por dois anos até eu começar a namorar com ele, no começo não queria muito porque ele é dois anos mais novo que eu, mas acabou que aconteceu. Nos casamos em 21 de dezembro de 1991 ao som da música tema do filme Ghost – Do Outro Lado da Vida. Temos um casal de filhos e um netinho de dois anos”, conta Ivoni.
O casal aproveitou bem aquela época e aproveita até hoje, com tantas recordações, acabaram fazendo em sua casa um espaço dedicado aos anos 80 onde aproveitam para ouvir seus hits da época.
Uma banda que fez muito sucesso tocando nas noites itapetiningana foi “Os Bolas de Sebo”, formado por pelos irmãos Renato Scudeler, teclado e voz, Ronaldo Scudeler, bateria e Marcos Scudeler, Baixo.
O vocalista conta que o que motivou a começarem a cantar foi a paixão pela música, famosos na época por tocar rock brasileiro, começando a tocar pela primeira vez na escola Modesto Tavares de Lima. Após o primeiro show, percorreram a noite itapetiningana tocando em diversas casas de shows, incluindo Clube Recreativo Itapetiningano, Bullu’s e no Clube Venâncio Ayres.
“Éramos jovens, cheios de sonhos e apaixonados por música! Durante o tempo que tocamos ao vivo, pudemos viver aquela troca de energia com o público que é uma coisa única!!! Realmente uma experiência que marca para a vida toda”, relembrou Scudeler.
Anos 90
Mina seu cabelo é da hora…
E essa música representa muito os anos 90, uma época em que a democracia estava começando, época que a liberdade reinou. Na década de 90 questões comportamentais começaram a ser discutidas pelos jovens.
Era uma mistura de estilos musicais o rock’n roll ficou registrado na irreverência dos Mamonas Assassinas que em sua breve trajetória deixou registrada sua marca. Os ritmos brasileiros que estavam em alta eram o sertanejo, pagode e axé e latina lambada.
Era uma verdadeira febre musical essa época, relembra a professora Stella Maris Ferreira. “Foi uma época que o pagode era muito forte no país, também havia o rock nacional, um pouco de axé e outras músicas bem dançantes com grupos internacionais tipo Lá Buche, Culture Club, Haddaway, Dpuble you.”
Os jovens dos anos 90 também viram o nascimento da internet, como isso ainda era artigo de luxo e quase nenhuma casa tinha computador na época eles tinham outros métodos para convidar os amigos para sair.
“Naquela época um ia na casa do outro para combinar de sair, para onde íamos, como não tínhamos celular e nem internet esse era o único meio de falar com os amigos e olha que quando combinávamos todos íamos”, comenta o Policial Militar Anderson Diniz
Alguns lugares que os jovens iam nos anos 80 também continuaram nos anos 90 como a Bullus, o Clube Recreativo de Itapetininga (CRI), a movimentada rua Virgilio de Rezende com seu desfile de carros e suas músicas dos mais variados estilos.
“A Estação Aurora também marcou nossa geração haviam os bailes do Clube Venâncio Ayres e alguns bailes que o Tiro de Guerra fazia junto com o pessoal do Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (Cefam)”, relembrou a professora.
“Era uma época muito divertida, eu frequentava o CRI nas baladas de sábado, com muita música pop internacional. Tinham as domingueiras na Virgílio, que era impossível de passar de carro desde o posto Zokar, hoje fechado, até a frente da Igreja das Estrelas, era uma multidão de jovens”, relembrou o empresário Kleber Ginez.
O carnaval era uma festa bastante esperada pelos jovens, junto com a tradicional Expoagro, duas festas que ocorrem anualmente até hoje.
O musicoterapeuta Cláudio Ladeira Neix, conta que começou a sair no final dos anos 90 e que sempre trabalhou com música. Ele lembra dos artistas locais que faziam sucessp. “Uma banda que era bastante conhecida na época, era dos alunos do colégio Imaculada da Conceição que se chamava Camaraj. Também tinha outras Hard Way e Questão de Estilo, que representava a turma do pagode e do samba, assim como músicos que tocavam em barzinhos como o saudoso Galo, com Edson Brisola, o guitarrista e cantor Índio entre outros”.
Em 2020 por conta da pandemia a maioria dos eventos foram cancelados, mas sempre há festas que relembram a época dos anos 80 e 90 a Bullus Remember e o bailes dos anos 80 que acontecem no Cri são um deles.
*Sob supervisão de Carla Monteiro