*Laura Oliveira
A Prefeitura de Itapetininga protocolou na Câmara Municipal, um Projeto de Lei que permitirá que o Parque Ecológico Municipal “Manoel Silvério”, localizado no Bairro Mato Seco, possa ser administrado por empresas, por meio de licitação. A concessão terá prazo de 15 anos, contados da data de assinatura do contrato, podendo ser prorrogado por igual período, de acordo com os critérios de conveniência e oportunidade administrativas.
Em nota, a Prefeitura de Itapetininga comunicou que o projeto ainda não foi aprovado no Legislativo e, com a aprovação, deverá ser aberta a licitação após a elaboração do edital. O executivo ainda não esclareceu como a empresa ganhadora da licitação poderá onerar o espaço e quais atividades econômicas serão autorizadas no local.
O presidente da Câmara Itamar José Martins explicou eu o projeto ainda está na Casa, mas que o Executivo deve retirar para realizar algumas alterações no projeto, mas até o momento, o projeto continua na Câmara.
A concessionária deverá observar todas as normas municipais, estaduais e federais referentes a área de preservação permanente, sob pena de rescisão imediata da concessão estabelecida. A concessionária ainda deverá destinar 20% da área de para o desenvolvimento de atividades de lazer.
O objetivo, segundo o projeto, é que a área, que na década de 1980 foi considerada o principal roteiro de famílias que buscavam contato com a natureza e que atualmente está fechada, possa ser reaberta para o lazer e turismo ecológico, integrando a consciência ambiental a uma opção de entretenimento à população.
No projeto, disponível no site da Câmara Municipal de Itapetininga consta o mapa do local que conta com dois açudes, uma piscina, córrego e uma quadra esportiva. A área total do Parque Ecológico é de quase 33 hectares, 13,4 alqueires, equivalente a aproximadamente 45 campos de futebol.
Segundo Décio Hungria Lobo, há 30 anos membro do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (COMDEMA), o Conselho foi consultado informalmente, mas naturalmente será consultado de maneira oficial. “Não há o que se opor à privatização, desde que sejam estabelecidas regras bem claras e que seja adotado um plano de manejo onde se respeite os princípios da sustentabilidade.”
O Jornal Correio conversou com o professor de biologia, educação ambiental e sustentabilidade, Carlos Poranga, que expressou sua opinião sobre o Parque Ecológico Municipal. “Não acho que deveria ser feita uma área de lazer ali. Há 30 anos atrás, o parque fechou, pois, era considerado perigoso para os frequentadores. Ainda há muito o que se fazer naquela área. Como eu sempre digo, teremos que usar os três R’s ali. O parque tem que ser reflorestado, restaurado e reutilizado. A preservação naquela área é de extrema importância.”
Poranga diz ainda que sua proposta seria fazer do parque um lugar de visitação pública monitorada. “Acho que um jardim botânico ficaria perfeito lá, ou até mesmo uma estufa de orquídeas. Estamos passando por uma crise hídrica, preservar seria a melhor saída. O parque serviria muito bem para estudo cientifico e reflorestamento, como um objeto de estudos. As visitas seriam feitas por escolas, com um requerimento, guias e afins. Assim, incentivaríamos as crianças a preservar a cuidar do meio ambiente. Temos que preservar como se fosse uma joia.”
A itapetiningana Priscila Ferreira se diz estar ansiosa para a possível abertura do parque. “Acho muito bom, porque lá é maravilhoso, mas está meio esquecido. Espero que reabram logo, eu amo natureza.”
Quem também tem lembranças do parque é Marivaldo Soares, que durante o trabalho como gari teve bastante contato com o lugar. “Eu trabalhava como gari pela prefeitura, lá nos íamos cortar vassoura para varrer a cidade e o senhor que morava lá perto contava histórias que, antigamente, ficava cheio de gente nadando na piscina. É um lugar muito bonito, com muita natureza. Reabrindo vou reviver as vezes que nós fomos lá cortar as vassouras”, disse.
Nelson Donizete, militar aposentado, diz estar feliz com a possível volta do parque. “Conheci o parque na década de 80, quando tinha 15 anos, há muito tempo, já que agora tenho 52 anos. Sempre tinha algo no parque, o prefeito abria em comemorações como aniversário da cidade e feriados. Fazia também um passeio ciclístico no local, saindo do centro da cidade e indo até lá. Tinha campo de futebol, tirolesa, campo, tanque. O povo reagiu muito mal quando fechou. A geração de agora não conhece lá. Acho que poderia dar uma mobilização boa na cidade se reaberto, tendo em vista que Itapetininga está carente de locais desse tipo. O pessoal só tem a cachoeira de Angatuba ou o Carlos Botelho para visitar e na cidade em si, não temos nada.”
Aves e plantas nativas
O professor de biologia, educação ambiental e sustentabilidade, Carlos Poranga, disse que há diversas espécies de plantas e pássaros no parque, que só existem na mata atlântica. “Há diversas orquídeas terrestres, que se o ‘explorador’ não tomar cuidado, pode acabar prejudicando essas plantas. Há também uma espécie de pássaro chamada Tangará, com o nome científico de ‘chiroxiphia caudata’. Seu canto é lindo e o método de acasalamento também. A fêmea, de cor verde, distingue o canto dos machos e voa até eles. É aí que o espetáculo começa. Em bando, os machos de cor azul dançam para a fêmea. Se tudo der certo, o macho alfa do grupo, fica com a fêmea. É um show lindo de se ver. O ideal seria incluir mais espécies e plantar mais árvores. Já que o código florestal diz que tem que ter vegetação.”
O fotógrafo Giovane Proença, que capta imagens das plantas do parque contou como conheceu o lugar. “Isso começou há mais ou menos quatro anos atrás…conheci o parque por meio de um amigo e biólogo, Carlos Poranga. A ideia inicial era buscar meios para tentar reabrir o parque, eu queria somar de alguma forma e como eu já fotografava, comecei a fotografar espécies da fauna e flora do parque para poder divulgar o quão rico era aquele lugar. Antes de conhecer o parque eu já tinha interesse em listar algumas espécies de plantas com ocorrência para Itapetininga e na primeira ida ao parque, encontrei muitas espécies interessantes, muitas espécies do Gênero Cyclopogon, orquídea terrestre que fez com que eu me animasse mais, para descobrir mais espécie que ocorrem naquele lugar, ao todo foram mais de trinta espécies listadas.”
Giovane, assim como o amigo e biólogo Carlos é a favor da reabertura do parque para fins científicos. “Eu sou a favor da reabertura do parque não só para fins de lazer, mas também para fins científicos e a preservação do local, por conta de ocorrências de várias espécies da Fauna e Flora, espécies que correm risco de extinção, uma delas é o Euterpe edulis, vulgarmente chamado de Palmeira-juçara, dentre outras espécies que correm risco. Se colocarmos em mente que a Matas Atlântica sofre há muitos tempo impactos, podemos dizer que todas as espécies correm risco de serem extintas da natureza, então devemos preservar essas espécies para as futuras gerações.”
*Sob supervisão de Carla Monteiro