Carla Monteiro
Um projeto tem encantado moradores, visitantes e pessoas que passam pela avenida Wenceslau Brás, nos prédios da CDHU na Estância Quatro Irmãos em Itapetininga. O Porjeto ‘GrafITA’ levou, através do grafite, cor e arte à periferia transformando a fachada de quatro blocos, de dois prédios, em telas gigantes. Idealizado pelo artista plástico Bebeto Neri o projeto apresenta a arte de seis grafiteiros Gisele Vieira, Nilo Brisac, Adriano Campos, Luiz Ernani, Kelvin Belinasse e Evandro Silva (Bort).
O artista plástico já havia contado aqui no Correio que a ideia surgiu há anos, mas que agora foi possível colocar em prática com a Lei Aldir Blanc. Inicialmente dez blocos, de cinco prédios receberiam as obras, depois seriam oito porque um dos síndicos não autorizou, foram encaminhados para aprovação pela Lei Aldir Blanc três projetos iguais, mas apenas um foi aprovado e colocado em prática. O idealizador comemorou a repercussão positiva do projeto.
“Como realizador do projeto não poderia ter um feedback e melhor do que esse, está todo mundo elogiando muito eu não imaginava que teria essa repercussão que teve. Além do poder público economizar com manutenção da pintura dos prédios que estavam em condições não muito boas, foi possível promover os artistas de Itapetininga. Dar visibilidade a eles”, contou.
Ainda segundo Bebeto, provavelmente surjam novos projetos neste sentido para que sejam pagos com a iniciativa privada. “Agora a gente tem o que mostrar, mostrar do que a gente é capaz de fazer, que os artistas são muito bons. Vamos em busca dessa parceria com a iniciativa privada. A gente tem conversado com empresários para fazer em prédios particulares, embora seja muito difícil neste momento por conta da pandemia. Estamos conversando também com escolas, a verba que a escola gastaria com a pintura lisa de muros pichados, por exemplo, é praticamente a mesma para colocar o projeto em prática. Enfim, estamos trabalhando”, contou.
Nas redes
As fotos dos painéis também ganharam a internet e tem feito sucesso garantidos muitos likes e comentários. Um dos registros mais curtidos e compartilhado foi o do veterinário e professor universitário, Kadu Camargo, ele fez um registro aéreo da paisagem que retrata bem o colorido da arte com a paisagem dos prédios da CDHU.
Morando em Curtiba desde 1999, onde atua como coordenador do curso de medicina veterinária da PUCPR, o itapetingano conta que sempre gostou de fotos e que em 2018 comprou um drone e começou com um hobbie. “Fiquei sabendo do projeto pelo Facebook Bebeto Neri, e aí, estando em Itapetininga, resolvi fazer a foto de um ângulo diferenciado para divulgar, pois acho que a arte pode mudar a vida das pessoas e com certeza esse projeto mudou a vida das pessoas que ali moram”.
O veterinário apaixonado por fotos tem um canal no Youtube chamado “fui de drone” e compartilha locais para fotografar. Itapetininga, sua terra natal, está sempre em suas escolhas. “Gosto de divulgar tudo que temos de bacana aqui. Teve uma grande repercussão, já são quase 800 curtidas nessa foto no grupo de fotos de Itape. Não pela foto, mas sim pela beleza e impacto do projeto”.
Homenagem
O músico itapetiningano, Carlos Goreia, uma das vítimas da Covid-19 em Itapetininga, recebeu uma homenagem póstuma na comunidade onde morava. Os artistas do projeto grafitaram o rosto do músico. A homenagem emocionou familiares e amigos do cantor que perdeu a batalha para o vírus no fim de janeiro.
Conheça os artistas que assinam as obras dos painéis do GrafITA
Gisele Aparecida Vieira
39 anos – a Gi
Trabalha como auxiliar da educação e é estudante de Pedagogia. Ela está no universo do grafite há seis anos e começou fazendo arte comercial, letreiros, como ajudante. Ela contou ao Correio que participar do Projeto GrafITA foi uma grande honra. “Poder estar ao lado dos melhores grafiteiros de Itapetininga foi uma grande oportunidade mesmo com pouco tempo por causa do meu trabalho, ainda sim consegui concluir e desenvolver minha arte”. A artista quer levar o grafite para dentro das escolas, trabalhar a arte com as crianças e adolescentes. “Depois que toda essa pandemia passar, porque cada vez mais sinto o quanto elas se interessam se identificam e necessitam. Porque gostam muito da arte principalmente o grafite por ser uma arte de rua, que estamos cada vez mais próximos e é inovador e transformador”.
Ela disse ainda que os artistas da cidade mereciam mais reconhecimento. “Era pra cada artista ter o seu mural, dividimos então porque foi um projeto aprovado, de três. A lei Aldir Blanc abriu portas abriu oportunidades, mas infelizmente sabemos que poderia ter sido bem melhor”. E concluiu: “em um tempo tão triste que estamos vivendo, levar cores e mostrar que podemos transformar esse mundo em algo melhor é muito bom. Eu como a única mulher do projeto dedico a todas as mulheres porque somos fortes e guerreiras e com fé e coragem chegamos onde queremos”.
Adriano Campos de Matos 41 anos – o Zoio
Trabalho como autônomo no ramo de comunicação visual, faz publicidade em geral. Para o artista, o grafite não é profissão, é diversão, além de arriscado e contra a lei. “O termo grafite se popularizou muito, então muitos chamam de grafite toda e qualquer manifestação artística representada com tinta em paredes e muros. Só que não é bem assim”, explica. Segundo ‘Zoio’ pesquisar corretamente a palavra “grafite” vamos perceber o conceito histórico da palavra para perceber a diferença entre uma coisa que é legal e outra que é ilegal. “Posso dizer que o que eu faço junto com a crew (família, grupo) é arte urbana”. Pitando há 23 anos, ele conta que participar do projeto foi um sonho realizado. “O sentimento de realização foi bem maior, pois sei que posso produzir arte em escala maiores, e digo mais, aceito novos e maiores desafios. Estou fazendo um curso de captação de recursos para realizar novos projetos. Assim que acabar vou poder por em pratica, projetos como novos prédios, e temos o projeto “metamorfose” que visa colorir bairros com maior vulnerabilidade”, diz. O artista conclui dizendo que o grafite é sua forma de se comunicar com a sociedade como um todo de uma maneira direta. “É o que me salva e que me resgata sempre, me levantando dos meus tropeços, a energia positiva colorida que alegra os corações alheios, que traz a graça e a verdade por onde ele deixa sua marca. Amo grafite. Amo arte urbana”.
Evandro Vieira da Silva
43 anos – o Bort
É tatuador e também leva o grafite como profissão, na arte há mais de 20 anos, ele conta que o grafite em sua vida foi algo que foi surgindo aos poucos. “Quando comecei, era muito marginalizado, já fui parar algumas vezes na delegacia, e muitas vezes abordado pela polícia. Para se ter uma ideia eu assinava Duende para não saberem que era eu que tinha feito e não sofrer represálias. Depois de muitos anos fazendo isso, em 2016 eu passei a assinar meu verdadeiro apelido que é Bort. Isso me deu mais forças para continuar”. O projeto GrafITA também veio como um sonho para o artista “Foi a realização de um sonho, nunca havíamos feito um mural dessa proporção, foi muito trabalhoso mais valeu muito a pena pelo resultado e pela oportunidade”. Bort já participou de vários encontros de grafite na cidade e região (antes da pandemia) e conta o que é arte em sua vida. “É como uma válvula de escape pra poder se expressar, é o poder de fazer de uma rua ou algum outro lugar uma galeria a céu aberto, onde qualquer artista pode se expressar”. Ele espera que esta arte também seja mais valorizada aqui no país. “muitos grafiteiros estão fazendo sucesso no Brasil e exterior, ganhando dinheiro e oportunidades de poder mostrar seus trabalhos, sendo valorizados, que no Brasil ainda que tenha melhorado a nossa valorização, ainda estamos muito atrás dos outros países, como os da Europa, mais acredito que um dia aqui também seja assim, pois temos muitos grandes artistas”.
Nilo Brisac Viana
36 anos – o Nilo
Ele é tatuador e grafiteiro e explica que o grafite é uma cultura e estilo de vida que gera renda e diversas oportunidades. O artista que pinta desde 2002 conta como foi participar do projeto. “Foi muito legal participar deste projeto, já tinha essa vontade de tempos e é louco ver como se realizou, foi uma bela experiência com muito aprendizado, queríamos ter pintando mais painéis mais o orçamento só deu para quatro prédios, durante todo processo sempre procuramos manter a vibe boa é muita concentração e acho que isso se refletiu bem no resultado do painel. Para o prédio que estava sobrando tivemos a ideia de homenagem para o Carlos Goreia, onde tive a oportunidade de pintar seu retrato com seis metros de altura, que foi um grande desafio. A galera fechou o restante da parede com o estilo de grafite mais raiz, com letras coloridas, o que deu um grande contraste para o painel deixando ele incrível”. Para este ano, Nilo está planejando o segundo encontro Metamorfose. O primeiro rolou na Vila Palmeira no final do ano passado, os artistas transformaram a cara do bairro. “O grafite para mim significa liberdade, materialização de ideias, mensagens positivas. Algo que me satisfaz e inspira outra pessoas a evoluírem”.
Luiz Ernani Brasile Filho
39 anos – o Moska
Professor de arte há sete anos e grafiteiro há 23, Luiz Ernani , o Moska faz também outros tipos de arte relacionado ao grafite e skate. Para ele, grafite além de profissão é cultura, é luta, estilo de vida. Um dos seis artistas convidados a participar do projeto GrafITA, Moska conta que foi gratificante ainda mais porque eles tiveram que batalhar para que o projeto fosse aprovado pela lei Aldir Blanc. “Foi uma conquista importante para nós porém foi uma luta enorme para vencer as burocracias e as dificuldades que foram postas, feliz com o resultado com sede de fazer mais”. De acordo com o artista, há vários outros projetos que também envolve a cultura sendo desenvolvidos para outras oportunidades. “O grafite na minha vida foi um caminho pra salvação onde pude enxergar vários outros caminhos na arte em geral”, concluiu.
Kelvin Belinasse
o Minhoca de gravata
“Sou a MINHOCA de GRAVATA Graffiteiro, e Empresario a mais de 10 anos; venho através do GRAFFITI passando a conscientização e a mensagem positiva, presando pela conservação da natureza, Rios e Lagos, praças e parques, Cidades e Florestas, não jogando lixo no chão e com o Graffiti consigo me expressar e comunicar com o população fazendo com que eles refletirem sobre suas atitudes. Foi uma grande honra poder fazer parte da historia de Itapetininga que é minha cidade natal, e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade com esse compromisso. Essa oportunidade de pintar um Prédio em Itapetininga foi incrível, o Graffiti hoje em Itape ganhou uma nova perspectiva mostrando o seu reconhecimento e valor, a necessidade da Arte é fundamental para criar novos sonhadores e nova esperanças, para acreditar que tudo é possível, basta sonhar acreditar e lutar pelo que você acredita; eu mesmo sonhava em pintar um prédio pra mim era impossível realizar um trabalho nessa proporção graças a ‘’Lei Aldir Blanc’’ podemos realizar esse sonho de levar a Arte e sua mensagem nessa dimensão, trazendo mais esperança para povo em tempos difíceis. É muito satisfatório poder realizar um grande sonho e trabalhar do lado de grandes Artistas de Itapetininga fica aqui meus imensos agradecimentos a todos aqueles que acreditaram e LUTRAM pra que isso acontecesse. VIVA A ARTE DE RUA”!