*Laura Oliveira
De segunda a sexta-feira, a estudante Larissa de Oliveira Souza acorda às 7h da manhã, toma seu café e senta em frente ao seu computador para mais um dia de aula online. A aula vai das 7h30 até 14h40 e essa é uma das muitas interações que a adolescente de 17 anos vive pela internet. Segundo ela, a rotina de sala, quarto e cozinha tem sido um desafio.
“Passar um tempo com os meus amigos e família era a minha grande distração. Eu quase nem ficava no celular, aproveitava o momento com eles, mas com o isolamento me vi obrigada a passar mais tempo na internet e com isso, algumas crises de ansiedade vieram. Eu já tinha algumas crises antes da quarentena, mas elas aumentaram bastante por conta da mudança de rotina. Com a quarentena fiquei muito tempo sozinha, era muita informação e minha cabeça não filtrava as coisas boas e ruins, acabava absorvendo tudo e gerando um certo peso.”
Larissa ainda diz que não teve muitos problemas com estudo, que até pode se concentrar mais neles estando em casa e que para se distrair lê livros e escuta música.
Kauê Chagas, de 15 anos, tem uma opinião e vida completamente diferente de Larissa. Para o adolescente, a única parte ruim de se estar em casa é não poder praticar o esporte que tanto ama, o judô. “Eu fico bem em casa. De vez em quando bate uma vontade de sair, mas me distraio com outras coisas. Estou sempre jogando e em ligação com os meus amigos. A única coisa que sinto saudade mesmo é do judô. Não sinto tanta dificuldade de me concentrar nas aulas, acabei me acostumando.”
A psicóloga Mariana Harumi Fugikawa comentou sobre os transtornos que podem ser causados durante o isolamento social. “Os transtornos de ansiedade são muito comuns, presentes em cerca de 1 a cada 4 pessoas que vão ao médico. Eles são caracterizados por uma sensação de desconforto, tensão, medo, antecipação das situações. A depressão é definida como o estado de humor deprimido que persiste por mais de 2 semanas, com tristeza e perda do interesse ou do prazer nas atividades, podendo ser acompanhada de sinais e sintomas como irritabilidade, insônia ou excesso de sono, apatia, emagrecimento ou ganho de peso, falta de energia ou dificuldade para se concentrar e segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 350 milhões de pessoas do mundo sofrem com depressão, além de outros transtornos como o alimentar e síndromes, como a de pânico.”
Ainda de acordo com a psicóloga existe um motivo para que crianças e adolescentes sejam uma das faixas etárias mais afetadas pelas doenças mentais. “Na infância a criança tem grande necessidade de aceitação e luta para se adaptar as exigências familiares, ela tem uma psique com capacidade para absorver as informações que lhe chegam através das figuras educadoras. A adolescência, pelo contrário, é marcada essencialmente por uma diferenciação do sujeito em relação aos pais e pela busca de uma identidade própria, o adolescente sofre esse longo processo, mas também os pais comumente têm dificuldades de aceitar o crescimento do filho e a livre manifestação da personalidade que daí surgem, a necessidade de pertencimento e aceitação não está mais localizada nas figuras maternas e paternas, são deslocadas para o mundo social. Os pais necessitam, assim, se desprender do filho criança e evoluir para uma relação com o filho adolescente, o que impõe muitas renúncias de sua parte. O modo pelo qual se concede a liberdade, nesse momento, é fundamental e definitivo para a conquista da independência futura. O adolescente vive um processo lento e difícil. Sofre crises de suscetibilidade e ciúmes, fortalecimento de valores, desenvolvimento da ética própria, além da luta para encontrar seu novo lugar dentro de si mesmo e no mundo.”
Harumi ainda comentou sobre os métodos que podem ser usados quando essas situações acontecerem. “Não existe receita para não adoecer porque cada um é único, mas costumo dizer que é muito importante não se trair, não desviar de seus próprios valores, desejos, não se abandonar, ter planos, mas entender que a vida trará surpresas e aceitar que muitas vezes teremos que nos readaptar e resinificar as dores, manter contato com a criatividade e a arte e o com o corpo também pode ajudar. É sempre importante parar e refletir para onde estamos caminhando com nossas vidas e nossos projetos, para desautomatizar, sair da condição mecânica e continua sem significado. E sempre que se perceber com energia muito baixa, tristeza excessiva, ansiedade, angústia, insônia e outros sintomas desagradáveis vale a pena procurar um profissional. A saúde mental é um importante fator que possibilita o ajuste necessário para lidar com as emoções positivas e negativas. Investir em estratégias que possibilitem o equilíbrio das funções mentais é essencial para um convívio social mais saudável.”
*Sob supervisão de Carla Monteiro