A médica veterinária Djiane Steidler compartilhou suas emocionantes experiências de resgate durante as recentes enchentes que assolaram o estado do Rio Grande do Sul. Em uma série de áudios enviados, a veterinária descreveu a intensidade e o desafio enfrentado por ela e a equipe de voluntários enquanto salvavam animais em meio às águas.
Partindo com a equipe de voluntários liderada por Esdras, resgatista de animais de São José dos Campos, Steidler enfrentou uma jornada de 26 horas até chegar a Porto Alegre, onde se depararam com um cenário de devastação. Num hotel cedido por Esdras, a equipe de 40 pessoas, incluindo médicos veterinários especializados em resgate, se preparou para o desafio que estava por vir.
“O cenário que a gente viu, infelizmente, é de horror”, disse a veterinária. “Não sabíamos onde era rua, onde era casa. Encontrei vários animais mortos boiando, e até mesmo corpos humanos.” No entanto, a determinação da equipe prevaleceu, e eles conseguiram resgatar uma variedade impressionante de animais, desde cães e gatos até aves silvestres.
Steidler destacou a diversidade de situações em que atuou, tanto na água quanto em terra firme. Com a doação de roupas de borracha, eles puderam enfrentar as águas com mais segurança. “Tive que nadar literalmente atrás dos animais, muitos dos quais estavam assustados e reagiam com mordidas e arranhões”, compartilhou.
Ela dedicou oito dias incansáveis ao resgate, cinco deles na água e três em terra firme. Durante as noites, a veterinária ajudava a montar abrigos para os cerca de 5.000 animais resgatados, cuidando deles da melhor forma possível com recursos limitados. “Às vezes, só tinha eu de veterinária para cuidar de todos os animais, o que é muito triste”, lamentou.
Apesar das dificuldades, Steidler encontrou inspiração na solidariedade e na união demonstradas por voluntários de todo o país. “Todos estavam com o mesmo propósito, muito unidos”, enfatizou. “Não tínhamos ajuda oficial, era o povo pelo povo.” A experiência a aproximou de pessoas que perderam tudo nas enchentes, construindo amizades genuínas e duradouras.
A veterinária também ressaltou a importância da continuidade do apoio aos animais resgatados, planejando voltar para administrar vacinas e garantir seu bem-estar. Ela lançou uma campanha de arrecadação para comprar 500 doses de vacina, pedindo o apoio da comunidade para essa causa nobre.
Entre os animais resgatados, Steidler encontrou um pequeno cachorro em estado crítico, que acabou adotando. “Ele estava extremamente magro, com ferimentos na pele e na orelha”, contou emocionada. “Foi uma conexão instantânea, e eu o trouxe para São Paulo para tratamento. Ele está cada vez mais forte, um verdadeiro sobrevivente.”
Ao finalizar seus relatos, a veterinária expressou profunda gratidão pela solidariedade vivenciada e pela oportunidade de fazer a diferença na vida dos animais e das pessoas afetadas pelas enchentes. “Voltei um ser humano muito melhor e uma profissional mais forte”, concluiu, evidenciando o poder da compaixão e da determinação em face da adversidade.