-Alberto Isaac – Nada mais antigo que o passado recente, já disse alguém com muita sabedoria. Era uma quarta-feira. Não a quarta comum, ou então a quarta como atualmente, quando um jogo do campeonato brasileiro ou paulista é transmitido pela poderosa Rede Globo de Televisão para todo território nacional.
Nem podia ser, pois na época não existia a comunicação rápida e precisa como hoje. Era uma santíssima e cansada quarta-feira, instituída há centenas de anos pela igreja, que os carnavalescos ou não que professavam o catolicismo dirigiam-se a velha Matriz. Iriam receber as cinzas, símbolo da renovação da crença.
Uma festa praticamente iniciada em outubro como preparativo – que atingia o auge da folia nos sacolejantes três dias (quatro como o sábado), geralmente nos meses de fevereiro ou março. Transformava toda cidade em uma só alegria, modificando inteiramente as pessoas e alterando a personalidade de cada um, “tal o estado que as enlevava com o período monístico”. Naquela já distante quarta-feira de 1938, estávamos às 8 horas de uma quente manhã adentrando o portal do velho grupo escolar Major Fonseca, um prédio, antiga residência senhoril do Cel. Manoel Afonso Pereira Chaves – líder político, deputado constituinte e advogado provisionado – sogro do Major Fonseca, diretor da notável Escola Normal “Peixoto Gomide”. A construção do sobrado com instalações de madeira adaptavam as classes na parte superior e o setor administrativo funcionando na parte interior. Em toda área um pátio, de grandes proporções onde os alunos, além das brincadeiras que desenvolviam degustavam a famosa sopa escolar, fornecida gratuitamente pelo próprio estabelecimento, com pequena contribuição financeira de pais de alunos mais abastados. As classes – do primeiro ao quarto ano – devidamente ordenadas em filas entoavam o Hino Nacional, antes de ocupar seus devidos lugares, na maior disciplina e grande devoção.
Itapetininga, naquele então, era glorificada com a “Peixoto Gomide” e existiam as escolas de 1º e 2º grupos primários, hoje Fernando Prestes e Adherbal de Paula Ferreira, além, é claro, do Major Fonseca. Este era considerado como a escola freqüentada por alunos do segmento menos favorecido economicamente da sociedade, um preconceito sem propósito algum. Ensino eficiente, bons professores e o estabelecimento respeitado por toda comunidade itapetiningana.
Na classe do último ano do curso, o antigo 4º ano, a professora Maria Antonieta França, competente e com didática primorosa, embora um tanto rígida na disciplina, lecionava com amor e devoção. Dizia, em tom maternal: “este último ano de vocês no curso, tem de ser bem aproveitado, porque logo a seguir irão iniciar nova etapa nos estudos, ou seja, freqüentarão o fundamental da “Peixoto” ou “Ginásio” e terão que se submeter ao “vestibulinho, exame próprio para capacitá-los à matrícula. Um período de grande importância na vida de vocês!”
O diretor do Major, professor Eurico de Moura – irmão dos saudosos Cocada e Jacinto de Moura – administrava a escola contando com o corpo docente formado entre outros, pelas professoras Francisca Cavalheiro, Nazla e Dulce Salem, Juliana Fabiano Alves, Maria Antonieta Pacheco França, “seu Edil”, cunhado de Carlos Fechtemberg, D. Bidú, esposa de Paulo Zagotis. A escola atendia não só alunos residentes na parte central da cidade, como também crianças procedentes da populosa Vila Rio Branco, Camarão, Chapadinha e outros bairros. Participava ativamente dos desfiles cívicos e festas populares, contando com grupo teatral que se apresentava na própria escola e espetáculo que se realizavam nos Cines São José e Ideal (Olana).
Na fervilhante classe do quarto-ano, “atentos e ávidos de saber”, encontravam-se diariamente Antônio Castro, Daniel Carneiro, os irmãos Fernando e Virgilio Costa, Ari de Almeida, Valdir Paca, Paulo Mendes, Carlito Araújo, Celso Simões, Benedito Claro, Paulinho Zagotis, José Murat, Cezar Proença e, na classe feminina, entre outras, Linda Abdala, Nazira Yared, Luci Melo, Terezinha Ozi, Hélia Jordão.
Com a autorização do diretor Eurico Moura, Alceu Ferreira, conseguiu a saída para assistir a missa, onde receberíamos as cinzas. Seguidos por outros colegas, Alceu Ferreira, posteriormente funcionário do DER e correto Juiz de Futebol, fervoroso católico, nos explicava que havia necessidade de “aceitarmos as cinzas, caso contrário iríamos ferver no inferno”. Na velha Matriz, demolida em 1948 para dar lugar a atual Catedral, Padre Brunetti – que dirigiu a Paróquia durante 14 anos – solenemente efetuou a imposição de cinzas sobre nossas cabeças, pronunciando a oração em puro latim, com toda constrição. A satisfação dos ungidos pelas cinzas extrapolou a felicidade e a certeza foi a de que “havíamos renovado nossa fé e espiado os possíveis pecados”. Passagem, como afirmou Alceu Ferreira, “que marcou profundamente o ser humano dentro da Igreja Católica”.
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