-Os produtores de Itapetininga devem ser prejudicados caso permaneça a decisão dos Estados Unidos de “barrar” o suco de laranja brasileiro. O engenheiro agrônomo de Itapetininga, Luiz Paulo Mendes, explicou que a maior parte da produção das laranjeiras está voltada para exportação. Se o embargo permanecer e as indústrias não encontrarem novos mercados, os produtores irão acumular prejuízo. “De imediato, o produtor deve suspender a aplicação do carbendazim.”
“Este caso é diferente. Por exemplo, no embargo russo contra a carne suína, o pecuarista deixa o animal no pasto. Na laranja, tem que colher o fruto, caso contrário surgem doenças no pé de laranja”, afirma o engenheiro. A indústria nacional está concentrada em poucas empresas. A decisão americana não se tornou ainda tão grave devido ao pico da colheita ser em maio e junho. “O mês de junho é estratégico. Caso se prolongue as restrições, haverá grandes perdas”, reforça.
O Estado de São Paulo é o maior produtor de laranja do país e do mundo. Itapetininga aumentou o cultivo nos últimos anos. Em 2010, 2 milhões de mudas foram plantadas, conforme dados do Instituto de Economia Agricola (IEA). Atualmente, o município produz 14 milhões de caixas de 40,8 kg e é o 11º município na produção de laranja em São Paulo. No ano passado, o suco de laranja foi o segundo item da pauta de exportação da cidade. A Citrovita, com sede em Itapetininga, registrou vendas de US$ 31,2 milhões em 2011.
Para Mendes, o mercado interno não tem como absorver a produção. “O consumidor ainda prefere refrigerante”, opina. Então, mesmo que o preço caia devido ao excesso de oferta, não irá alterar o quadro. “O produtor terá que abrir uma vala de jogar a laranja fora ou dar para o gado.”
O referido fungicida, utilizado em vários produtos agrícolas, é usado na citricultura para combater a “pinta-preta”, um tipo de fungo comum em pomares de laranja. Nos lotes que serão recolhidos, o produtor deve providenciar análise do fruto. “O embargo tem um caráter mais político”, completa.
Sem divulgar estimativa para o impacto econômico da medida americana, a indústria nacional minimiza os efeitos do problema nos EUA, que em 2011 compraram US$ 344 milhões em suco brasileiro. O que representaria 13% do total exportado pelo Brasil. Mas grandes indústrias brasileiras estão instaladas nos EUA, o que faz daquele país um mercado estratégico.
Além disso, muitos países seguem os americanos nesse tipo de decisão, o que pode levar a novas sanções. O Mercado Comum Europeu procurou a CitrusBR para pedir esclarecimentos.
Entenda o caso
O FDA, que analisa alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, constatou que de 80 cargas avaliadas, 11 apontaram a presença de carbendazim acima de 10 partes por bilhão (ppb). Dessas 11, cinco eram brasileiras. As outras seis cargas reprovadas são do Canadá, mas que compra suco do Brasil para revendê-lo após misturas.
Segundo técnicos de saúde, o carbendazim não prejudica a saúde. Porém, doses elevadas podem causar danos ao fígado. Os importadores terão 90 dias para exportar ou destruir o produto rejeitado.
Os testes devem permanecer para verificar se os exportadores já se adequaram à norma de saúde. Em tese, o mercado continua aberto para o Brasil. No entanto, produtores avaliam que o mercado está fechado.
O suco brasileiro já foi palco de discussões com os americanos. Em 2008, o governo americano passou a aplicar medidas antidumping. Situação em que o país importador considera que o produto é vendido abaixo do preço de mercado. O Brasil recorreu contra as medidas à OMC e ganhou. A questão foi resolvida em junho de 2010, quando os EUA desistiram de apelar de decisão.