Por: Milton Cardoso
Especial para o Correio de Itapetininga
Na última quarta-feira, o atacante são-miguelense Miguel Ortiz de Camargo, ex-jogador do DERAC na década de 1960, completou 85 anos cercado por parentes e amigos. Comunicativo e sempre com boas histórias, Ortiz era um jogador com um bom condicionamento físico, inteligente e muito rápido. “Vi o Miguel jogar e só sei dizer que era um bom meia e que costumava jogar sorrindo, além de ser uma ótima pessoa. Também tive o prazer de jogar com ele”, revela o ex-jogador Ducca Meira, atacante do DERAC e do CASI.
Além da habilidade com a bola nos gramados, Ortiz destacou-se na cidade como músico. “Miguel é um grande músico, todos os carnavais ele era um dos músicos mais requisitados”, explicou Waldemar Alves de Oliveira, o “Canarinho” a repórter Vitória Mendes. E complementa: “Sempre quando algum jogador do DERAC falece, o Miguel leva seu trompete e faz aquele ‘toque’ em homenagem ao falecido. Eu sempre falo para o Miguel que quando for minha vez, eu não quero ouvir trompete nenhum, que ele deixe o trompete na casa dele”, brinca Canarinho, deixando bem claro a correspondente desse jornal, o quanto admira o amigo de longa data.
Quando é possível, Miguel e Canarinho se encontram e colocam de escanteio as tristezas da vida e celebram a alegria. “Miguel é uma pessoa muito alegre. Muito querido por todos. Nos eventos sobre futebol que ocorrem na cidade, seja no CASI ou na Associação, lá está ele, sempre presente, e onde ele chega é só alegria”, comenta Canarinho.
O Início – Nascido em 4 de maio de 1937 na cidade vizinha de São Miguel Arcanjo, Miguel Ortiz é o filho caçula do casal Abília Monticelli e do maestro Joaquim Ortiz de Camargo. “Em 1932, o prefeito de São Miguel foi buscar meu pai em Capão Bonito para dar aulas de música e montar a banda municipal. Papai contava orgulhoso que a cidade o recebeu com grande euforia, sendo considerada a primeira grande realização daquela gestão”, explica Ortiz.
No ano do nascimento de seu filho Miguel, o maestro Joaquim formou a Corporação Musical São Miguelense que durou quase trinta anos. Ortiz ingressou na agremiação em 1945, com 8 anos de idade tocando caixa de repique. “Recordo da praça principal repleta de pessoas. O coreto da cidade era enfeitado e durante incontáveis domingos e feriados, a festa se repetia. Pena que com o tempo isso foi se acabando”, diz nostálgico. Dos seus nove irmãos, além dele, apenas João, José, Darcy e Antônio (Tonico) participaram da Corporação Musical.
Além da música, sua outra paixão foi o futebol. Começou jogando no E. C. São Miguel. Em 1956, foi convidado para jogar em Guapiara recebendo também uma proposta para trabalhar na companhia SS. Com 20 anos foi treinar no São Bento de Sorocaba que, na época, disputava a Divisão de Acesso do Campeonato Paulista. No clube, Walter Jacaré o apelidou de “Caminhão” devido a sua força física. Inscrito no amador do clube sorocabano, foi relacionado somente em uma partida contra o Ituano, ficando na reserva. “Treinávamos forte. Em um jogo-treino contra o time titular demos um baile. E olha, que o time deles tinha jogadores como Reis, Afonsinho, Nestor e Joel”, vangloria-se.
Ortiz ficou no “Azulão” durante um ano e meio. Com problemas no joelho e saudades da família, recusou um convite para jogar no Fortaleza Clube e voltou para sua cidade natal. Os remédios caseiros de Dona Abília e sua autodisciplina física ajudaram na rápida recuperação. Mudou-se para a Zona Norte paulistana. Em um jogo varzeano, um dirigente que estava assistindo a peleja, o convidou para jogar em um time do tradicional bairro de Tremembé, marcando seu retorno aos gramados.
Quando veio visitar a família em São Miguel, foi convidado para participar de uma partida amistosa contra o DERAC. Defendendo a camisa do E. C. São Miguel marcou o único gol da equipe da casa. O time itapetiningano ganhou por 3 a 1 aquela partida. Porém, os dirigentes do DERAC gostaram do futebol de Ortiz e fizeram o convite – prontamente aceito.
Jogos – A estreia de Ortiz ocorreu em 1961. “Fiz dois treinos e fui escalado como centroavante. Jogamos num campinho ruim fora da cidade, mas o mais importante ganhamos por 2 a 0”, comenta. Pelo time deraquiano jogou quase dez anos. “Só não fui goleiro, mas atuei em todas as posições”, ressalta.
Na equipe do DERAC reencontrou o amigo Antônio Bonafonte, o atacante conhecido por Toninho Boi. Ortiz já tinha atuado com Boi no São Bento. “Ele era um homem simples, de bom coração. Fisicamente era forte como o apelido sugeria. Como não tinha velocidade, quando jogávamos juntos, ele fazia o pivô e ‘segurava’ o beque adversário e tocava para trás e eu vinha como um raio”, relembra Ortiz do saudoso amigo.
No jogo de volta pela 3ª Divisão do Campeonato Paulista, em Valinhos, os adversários queriam bater nele. No decorrer da partida, o zagueiro adversário esqueceu a bola e deu uma voadora para pegar em cheio a cabeça do centroavante do DERAC. “Eu percebi a tempo. Empurrei o Boi e o beque vazou. Depois foi uma grande confusão, o Boi foi substituído”, explica Ortiz sobre um dos “jogos épicos” nos campos de futebol do Estado.
Em uma live ao amigo Cícero Vaz comentou que em quase “todo lugar tinha confusão”. Nessa entrevista relembrou que os resultados dos jogos sofriam muitas influências dos juízes, como quando jogaram fora de casa contra a Internacional de Limeira. Durante o jogo, quatro jogadores do DERAC foram expulsos, segundo Ortiz, injustamente. Perdendo o jogo de 4 a 1, pediram para o atacante Sabiá simular uma contusão, não havendo possibilidade de substituição, o árbitro encerrou a partida. Todos os jogadores itapetininganos foram cobrar o juiz. Estranhamente, nem na súmula do jogo apareceu o nome dos atletas expulsos.
Nos tempos áureos do DERAC, o time itapetiningano jogou amistosos contra grandes agremiações paulistas como Palmeiras, Corinthians, São Paulo, entre outros. “Contra o Palmeiras foi um passeio do time alviverde. Era um esquadrão que contava com Gildo, Américo Murolo, Vavá, Chinesinho e Geraldo II. Em um dos gols, num cruzamento, o Sôco tentou antecipar de Vavá, esperto, o jogador do Palmeiras só deu uma ‘encostadinha’ e deslocou o nosso zagueiro, fazendo o gol”, relembra. “Contra o Corinthians não foi ruim, perdemos por 2 a 1. A fase do time mosqueteiro não era tão boa”, atesta.Ortiz comenta que é impossível não lembrar as grandes partidas contra a Associação Atlética e o CASI, momento áureo do futebol local. Com carinho, recapitula os duelos contra Toninho Abrami. “Ele era um goleiro muito bom, pegava tudo. Sempre na final das partidas nos cumprimentávamos. Ele dizia rindo que eu era sortudo e sempre balançava as redes de seu gol. Era um tempo espetacular. Além desses três times, tinha também os times da várzea. Pena que tudo isso está acabando aqui e também em São Miguel”, lamenta.
Depois dos momentos gloriosos com a camisa canarinha, Ortiz jogou ainda na Portofelicense antes de pendurar as chuteiras profissionalmente. Mas, sua paixão pelo esporte nunca o deixou muito tempo longe dos gramados, atuando sempre em diversas partidas por diversos times veteranos de Itapetininga e cidades vizinhas, como Tatuí. “Em 2003, atuei ao lado de jogadores veteranos de Tatuí nos campos de futebol de Buenos Aires e La Plata, a grama era um tapete, vencemos o time da casa por 5 a 4”, conta.
O futebol também lhe trouxe outra alegria. Em 1962 conheceu sua futura esposa, Thereza de Jesus Silva. “Meu pai me dizia que as arquibancadas do estádio DERAC lotavam. Minha mãe ia assistir as partidas, e ali começou uma paquera. Foram apresentados em um baile no Venâncio Ayres, a partir dali passaram a namorar todos os dias na praça da Avenida. Minha mãe era filha de uma família conceituada, João Augusto e Eulalina Siqueira. Apaixonados, papai veio pedir a mão de minha mãe aos meus avós. Meu avô se afeiçoou a ele rapidamente. Meu pai residia na pensão da dona Zola, mãe do estimado Roberto Marques e Juca. Papai me contava que minha mãe sempre passava na pensão com a desculpa de conversar com a dona Zola, então ela deixava cartinhas no quarto de meu pai. Meu pai sempre ouvia as pessoas dizerem que ela não era para o ‘bico dele’, mas o amor falou mais alto e se se casaram no dia 16 de outubro de 1962, na igreja Nossa Senhora das Estrelas. Permaneceram até 2015 em feliz união até o falecimento de minha mãe. 53 anos de casado. Além mim, que sou a caçula, tiveram os filhos Miguel Júnior e José Joaquim, este infelizmente falecido”, conta a filha Adriana Ortiz.
O Retorno Musical em Grande Estilo – Em uma apresentação da Banda Lira, Miguel Ortiz conheceu o maestro Antônio Lisboa, grande amigo de seu pai. Convidado pelo maestro começou a fazer parte do conjunto musical tocando trompete.
Em 1966, a direção do Clube Recreativo Itapetiningano convida Ortiz para tocar na banda carnavalesca do tradicional clube. Anos depois fundou a sua própria banda: “Miguel Ortiz e Banda” que tocou no carnaval do Clube Venâncio Ayres, em 1971. No ano seguinte, apresentou em São Paulo no Carnaval da Viola de Ouro com a prestigiada Orquestra Pan América. Incansável, participou de diversos bailes até o final da década de 1990.
Na sua residência na rua Alfredo Maia, com o apoio da filha, mantém um “minimuseu” onde guarda recortes de jornais, troféus, medalhas e muitas histórias. Amante do futebol, veem acompanhando com entusiasmo os jogos do seu time do coração, o Palmeiras. Elogia o zagueiro paraguaio Gustavo Gomez. “Faz falta quando não joga”, analisa. E rasga elogios ao atacante Dudu. “É raçudo e inteligente”, conclui.
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