Alberto Isaac – O ano era 1960. Um casal de classe média, residente então na Rua Virgílio de Rezende, almoça em companhia do filho. A mulher está em pé, e, enquanto tempera um prato, pergunta ao marido que está começando a comer: “Você já viu a conta do armazém?” Sem demonstrar surpresa, ele diz: Novo aumento, não é? Como ela permanece em silêncio, ele insiste: “E está certa a conta?” Ela responde: “Infelizmente está.” E o homem conclui: “È, o jeito é Jânio”.
Um homem, de bigode e óculos, chamado Jânio da Silva Quadros, estampado num folheto distribuído na cidade, onde se lia: “Jânio é a única esperança do Brasil no futuro”. Esse rudimentar folheto surgiu como novidade nas eleições presidenciais de 1960, época em que poucas pessoas tinham o aparelho de televisão em casa e, quem podia, assistia os programas no vizinho. Em Itapetininga os aparelhos existiam na casa de Bartolomeu Rossi, nos estabelecimentos comerciais de Osvaldo Piedade, Humberto Franci, além do paulistano que morava no alto da Vila Orestes (hoje Jardim Casa Grande), Sr. Mansur e um pequeno número de habitantes “que orgulhavam-se dos televisores em suas salas”.
Naquela campanha, Jânio bateu os adversários; o principal Ademar de Barros e, outros, por larga maioria, o que se denominou “revolução pelo voto”. Com sua fácil e popular música de campanha “Varre, varre vassourinha, varre, varre a bandalheira”, de autoria de Antônio de Almeida e com interpretação de Alcides Gerardi e outra, “Vassoura prá lá, vassoura prá cá, agora minha gente todos tem de trabalhar”, composição e interpretação do itapetiningano Hélio de Araújo (apresentador das rádios Nacional, Bandeirantes e Cultura, da capital), Jânio da Silva Quadros venceu as eleições.
Em Itapetininga, dominada por duas fortíssimas correntes políticas, o povo liderado então pelo prefeito José Ozi, pelo qual o homem da vassoura afeiçoou-se e esteve por várias vezes em Itapetininga, obtendo considerável número de votos. Além de Ozi, em cuja residência Jânio se hospedava, seguiam e trabalhavam arduamente para ele Rodrigo Marques de Almeida, ferroviário e vereador, Antônio Fernando da Silva Rosa, José de Moraes Terra, Olegário Garcia, José Rolim Pinto, Itaboraí Marcondes Machado, Juliana Fabiano Alves entre outros, dos vários segmentos da sociedade. O outro grupo político da cidade era representado pelos Ademaristas, em que se destacavam a família Hungria e os descendentes dos Prestes na cidade.
No entanto, a verdadeira revolução – e talvez o termo mais apropriado fosse convulsão – ainda estava por vir. E chegaria sete meses após a posse de Jânio como presidente do Brasil, quando ele, subitamente, renunciou ao cargo em 25 de agosto de 1961. Em mensagem enviada ao Congresso Nacional, alegou que “forças ocultas e terríveis” se levantavam contra ele. Ainda hoje há dúvidas a quais forças Jânio se referia. Supõe-se, e as evidências indicam que ele quis dar um golpe de Estado. Recorda-se que alguns anos depois ele esteve em Itapetininga, e em palestra na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, no campus da Vila Barth, declarou alto e bom som: “forças ocultas me impediram de administrar o Brasil”. Os jornais “O Estadão” e o “Globo”, do Rio, noticiaram o fato com destaque, sem no entanto “saber quais essas forças” de que ele tanto falava. O radialista Carlos José de Oliveira, ao entrevistá-lo para a PRD-9, a Difusora, indagou sobre o assunto e Jânio, indignado com a pergunta respondeu asperamente: “a pergunta do repórter é por demais impertinente e desagradável”, encerrando a entrevista.
O jingle “varre, varre vassourinha” associou-se a um Jânio, que se apresentava como arauto da mudança, disposto a varrer “tudo de errado para fora da política”. Defendia também a luta contra a inflação como se “pudesse ser debelada a partir de sua vontade pessoal”, disse a pesquisadora Marly Motta, do Centro de Pesquisa e Documentação da História da Brasil, da Fundação Getúlio Vargas. Jânio Quadros começou como vereador de S. Paulo em 1948, deputado estadual em 1950, foi eleito prefeito de S. Paulo em 1953; em 1955 elege-se governador de S. Paulo, derrotando Ademar de Barros; em 1958, ainda governador, é eleito deputado federal pelo Paraná, e não participa de nenhuma sessão da Câmara Federal. Como presidente, Jânio tomou uma série de medidas de impacto com o objetivo de exibir uma imagem de renovador de costumes e saneador moral com a proibição de briga de galos e de desfiles de misses com maiôs “cavados” e investe contra direitos e regalias dos funcionários públicos.
Quando foi divulgado sua renúncia, em Itapetininga, como na maioria do Brasil, não houve qualquer manifestação pública a respeito e “a vida correu normalmente como se nada tivesse acontecido”, segundo comentários de pessoas testemunhas do fato, aqui residentes. Foram figuras que acompanharam o episódio e classificaram-no como “ambição e castigo”.
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