A agrônoma Mariangela Hungria da Cunha assumiu nesta semana uma cadeira na Academia Brasileira de Ciência Agronômica. A pesquisadora é referência e um dos principais nomes no Brasil e no Mundo em Biotecnologia do Solo.
Em entrevista do Jornal Correio, a filha de Leda de Assumpção Hungria, neta de Edina de Assumpção Hungria e Accacio Soares Hungria e mãe de Ana Carolina Hungria Lima e Marcela Hungria Lima, falou sobre as paixões que movem a sua vida e carreira: a família, a ciência e o amor por Itapetininga.
Apesar de não ter nascido em Itapetininga, Mariangela, tem carinho especial pela cidade. Ela conta que a mãe viajou para São Paulo pouco antes do seu nascimento que aconteceu em uma maternidade na capital. A primeira infância ela passou em terras itapetininganas e chegou a estudar no colégio Imaculada Conceição.
“A escola era bem puxada, mas eu adorava. Mas tem uma coisa que nunca esqueci. Nós ganhávamos medalhas, uma pelas notas do colégio, outra pela educação religiosa e uma que nunca consegui conquistar foi a de comportamento”, relembra.
Breve currículo
Engenheira agrônoma (Esalq-USP), mestre em Solos e Nutrição de Plantas (Esalq), doutora em Ciência do Solo (UFRRJ), com pós-doutorado nos EUA e na Espanha. Pesquisadora da Embrapa desde 1982, na Embrapa Soja em Londrina-PR desde 1991. Atua na área de microbiologia do solo, com fixação biológica do nitrogênio e outras bactérias promotoras de crescimento de plantas. Recebeu vários prêmios nacionais e internacionais, tem mais de 700 diferentes tipos de publicação, orientou mais de 100 alunos de pós-graduação e já lançou mais de 30 tecnologias e produtos relacionados ao uso de microrganismos na agricultura.
A pesquisadora foi representante da área ambiental e do solo da Sociedade Brasileira de Microbiologia por 20 anos, foi a primeira presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e atuou como vice-presidente e presidente da RELARE (Reunião da Rede de Laboratórios para a Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interesse Agrícola), que reúne representantes da pesquisa, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do setor privado. Também faz parte do comitê coordenador do projeto N2Africa, financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates para projetos de fixação biológica do nitrogênio na África, além de projetos com praticamente todos os países da América do Sul e Caribe, além de países da Europa, Austrália, EUA e Canadá.
A engenheira também conta que sempre foi diferente das meninas da idade dela. “Enquanto elas queriam brincar de coisas mais tradicionais eu brincava de estudar. Minha avó, Edina de Assumpção Hungria, principal incentivadora da minha carreira cientifica, era professora no curso na Escola de Farmácia de Itapetininga e me presentou com o livro ‘caçadores de micróbios’ foi ali que tudo começou”.
Depois de formada, já com as especializações surgiu o convite para trabalhar na Embrapa e o local que ela escolheu, Londrina no Paraná, onde mora desde então, foi estratégico por ser, entre as opções, o mais próximo de Itapetininga. “Eu sabia que de Londrina para Itapetininga seria uma rota simples e rápida, perto das outras que eu tinha, não pensei duas vezes. Eu amo essa cidade e tenho um carinho muito grande por ela. Tanto que uma das plantas da casa da minha avó eu trouxe para Londrina e replantei aqui”.
Preconceito?
Os avós de Mariângela sempre moraram em Itapetininga. Mas, a sua mãe Leda de Assumpção, que também era professora, resolveu mudar com a família para São Paulo. “Consegui bolsa para estudar em um dos melhores colégios de São Paulo. Praticamente todos os alunos se formavam e iam cursar medicina. Eu virei a curva e decidi cursar engenharia agronômica, na época minha mãe foi chamada na escola. E mais uma vez minha avó foi minha principal apoiadora”.
No curso, dominado por homens, Mariangela se destacou desde o início e teve que lutar contra o preconceito de um ambiente quase 100% ocupado por homens e os desafios não pararam por aí. “Eu engravidei e a pressão sobre mim foi dobrada. Mesmo assim consegui me formar, não desisti e fui a melhor da turma”.
Pesquisa e prêmios
A engenheira se apaixonou pela pesquisa científica e o amor pelos estudos que ela carregava desde a infância a levou a ser hoje uma das principais referências do país na área de microbiologia. Mariangela Hungria da Cunha é mestre em Solos e Nutrição de Plantas (Esalq), doutra em Ciência do Solo (UFRRJ), com pós-doutorado nos EUA e na Espanha. Pesquisadora da Embrapa desde 1982, na Embrapa Sola em Londrina-PR desde 1991.
Uma das pesquisadoras brasileiras mais produtivas do país na área de Biotecnologia do Solo, ela é membro titular da Academia Brasileira de Ciências, desde 2008, e acumula uma série de premiações de grande relevância nacional e internacional ao longo de sua carreira, entre elas, o título de Comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico da Presidência da República pela contribuição nas Ciências Agrárias.
Em dezembro de 2020 ao lado do cientista chinês Li Jiagyang, é vencedora do prêmio científico TWAS-Lenovo, criado em 2013 pela Academia Mundial de Ciências (The World Academy of Sciences- TWAS) e a Lenovo, empresa chinesa líder mundial em tecnologia. Entre indicações de mais de 150 países, Mariangela ganhou o prêmio por suas pesquisas em fixação biológica do nitrogênio, tecnologia que aumenta a produtividade da soja tropical sem o uso de fertilizantes químicos. O Prêmio homenageia os estudos da pesquisadora brasileira voltados para o desenvolvimento de inoculantes à base de bactérias que substituem os fertilizantes nitrogenados e possibilitam uma agricultura mais sustentável.
Reconhecimento
Em novembro de 2020, Mariangela Hungria foi classificada entre os 100 mil cientistas mais influentes no mundo, de acordo com estudo da Universidade de Stanford (EUA). O estudo, entitulado “Updated science-wide author databases of standardized citation indicators”, foi realizado a partir de um banco de dados mundial com sete milhões de cientistas e publicado no prestigioso periódico PLOS Biology. No estudo foram usadas as citações da base de dados Scopus, que atualiza a posição dos cientistas em dois rankings: 1) o impacto do pesquisador ao longo da carreira e; 2) o impacto do pesquisador em 2019.