A solidariedade construiu 180 casas e marcou o resgate da cidadania das famílias em Itapetininga. Assim, foi a transformação de Cindicleia de Medeiros, 39 anos, em Itapetininga, após a conquista de sua nova moradia. Vivia com o peso do passado. “Eu estava desacreditada”, contou. Com o novo endereço, ganhou emprego, estabilidade e orgulho. “Meus filhos nos quartos. Tudo arrumadinho”, relatou a mulher que foi faxineira, hoje é vendedora e durante à noite faz 300 salgadinhos até meia noite. Essa é uma das histórias reconstruídas pelo Grupo Mãos à Obra na cidade.
Ela recordou do passado. “O banheiro não tinha janela. Quando chovia a água corria dentro da casa, mas minha irmã dormia no chão com o bebê. É dolorido lembrar. No corredor, havia um buraco do esgoto que deixava um cheiro ruim em toda a residência. Diante das falhas do telhado, enquanto todo mundo pedia chuva, eu pedia sol com medo que minha casa inundasse”, afirmou entre uma lembrança amarga e um largo sorriso que dominava a casa.
Para a diretora do Grupo Mãos à Obra, Maria Inês Vasques Ayres Bernardes, a chegada da nova residência introduz uma mudança na vida das famílias. “Geralmente, os filhos retornam aos estudos, os pais conseguem trabalho com carteira registrada. Há uma promoção efetiva na vida das pessoas”, constatou Maria Inês. “A transformação é brutal. A casa é o primeiro passo”, completou a diretora da instituição que nasceu há 20 anos.
Porém, o trabalho de construção completou 12 anos. E obteve vitórias importantes e parceiras reconhecidas internacionalmente. De um lado a fundação tem o trabalho monitorado e fiscalizado pelo Ministério Público, anualmente, e de outro, o apoio de uma Organização Não Governamental (ONG) da Europa que colabora com repasse de recursos, para a qual a instituição presta contas regularmente.
Instituição inova com uso de isopor no tijolo
Com uma inovação sustentável, o Grupo Mãos à Obra constrói as casas com tijolos e bloquetes ecológicos, feitos da reciclagem de isopor, cola, areia e cimento. A ideia surgiu de um empresário de São Paulo que ergueu um galpão ao lado de sede da instituição, na Vila Piedade, comprou máquinas, iniciou pesquisa e testes para comprovação de resultados. Após um período, a entidade começou a fabricação para atender a demanda do projeto. Por dia, são produzidos 100 tijolos, afirmou a presidente da instituição Solange Manuel Souto Vieira.
Na primeira fase, os tijolos de isopor eram maciços. Muitas casas foram construídas e reformadas, pois estavam em condições alarmantes. Porém, devido ao custo do cimento tornava-se inviável para a entidade. Então, o projeto entrou em um segundo período de testes. Adotar, com mesmo critério ecológico, o tijolo vazado, que deve reduzir o custo unitário do material. No barracão, há tijolos e bloquetes ecológicos produzidos pelos próprios assistidos.
“O principal problema é que precisamos de mais colaboradores ou de mais doadores de cimento”, explicou a presidente da entidade. O custo indireto do tijolo maciço é de R$ 1,50. Muitas vezes, as diretoras contam que colocam dinheiro do bolso, mas o valor do material de construção é alto. O que muda é a solidariedade que a entidade encontra. “A gente recorre a um grupo de amigas que compartilha os nossos pedidos para concretizar os projetos”, finaliza a diretora Isabel Cristina Piedade.