Faleceu nesta terça-feira, aos 99 anos, Victorio Nalesso o ex-combatente Itapetiningano da 2º Guerra Mundial. Seu sepultamento foi realizado no Cemitério São João Batista, na Vila Rio Branco.
Nalesso nasceu em 4 de julho de 1922, na Chapadinha. Nos anos de 1930 a 1934 cursou o curso primário na escola do bairro rural. Na adolescência, com o apoio da sua professora de catecismo, opta por se tornar padre da ordem de São Francisco de Assis. Em 1935, ingressou no seminário da ordem franciscana em Piracicaba. Porém ficou apenas três anos, retornando ao convívio familiar. “Do seu convívio com os frades, adquiriu não só uma educação ampla e consistente, como também ores cristãos e humanitários que carregaria consigo ao longo de toda a sua vida”, escreveu Dirceu Campos.
Com 22 anos de idade foi convocado pelo Exército, fato que mudaria totalmente sua vida. Em 29 de fevereiro de 1944 se apresentou ao serviço militar e dias depois foi incorporado às fileiras do Exército, recebendo o nº 983 da 2ª Cia do 5° Batalhão de Caçadores, sediado na cidade (atualmente o prédio é ocupado pelo DER), onde recebeu durante três meses, treinamentos básicos.
Um dia antes de se deslocar para o quartel do 4º Regimento de Infantaria, em Osasco, no dia 4 de junho, caminhou até a sua casa para comunicar a família e se despedir. “Era uma caminhada de 9 quilômetros, ou seja, 18 quilômetros ida e volta. Passei a noite me despedindo de parentes e amigos no meu bairro e só voltei às 6 h. da manhã do dia 6. E muitos soldados fizeram o mesmo”, escreveu no seu livro de memórias “Diário de um Combatente”, publicado em 2005.
Aprovado nos exames médicos, seguiu para Vila Militar de Caçapava juntamente com 150 soldados para incorporar-se à Força Expedicionária Brasileira (FEB), entre eles os amigos e conterrâneos Benedito Nunes da Costa e Benedito Ayres de Campos. Depois de quase dois meses de treinamento seguiram para o Rio de Janeiro. Antes de embarcar para a Itália, Nalesso e seus dois companheiros retornam de forma clandestina para casa para se despedir da família e dos amigos.
Em uma das partes mais emocionantes do seu livro de memória, Nalesso escreveu: “No dia 7 de setembro (…). Chegou a hora da despedida: 8:30 h. Todos tristes. Fui despedindo-me de um a um. Estavam os 4 irmãos, todos mais novos que eu, já fora da casa, no terreiro que dava entrada ao curral. Meus pais deixei por último porque tinha que ser forte. Mas por último mesmo foi minha mãe. Ai, que hora triste! Quando ela me beijou eu senti suas lágrimas correrem pelo meu pescoço e descerem lentamente até a altura do meu coração. (…) Após as despedidas embarquei na carroça, eu e meu irmão, em disparada. Só poeira que levantava e tristeza que dominava. Quando cheguei na cidade, meu irmão fez questão de passar bem à frente da pequena igreja de Nossa Senhora Aparecida”.
O Escalão que pertencia Nalesso, embarcou na Baia de Guanabara no navio General Meigs no dia 22 de setembro de 1944, com 5.239 homens. Aportaram no porto de Nápoles no dia 6 de outubro e embarcaram em barcos menores com destino a Livorno. Durante aquele mês, receberam treinamento e adaptação as condições locais.
O batismo de fogo “ocorreu pouco mais de um mês da sua chegada à Itália, a 24 de novembro, quando nesta jornada e na seguinte, a 25, avançaram as tropas brasileiras para a conquista do Monte Castelo, mas essa praça forte inimiga conseguiu ser tomada só no ano seguinte”, explica Dirceu Campos no livro “Itapetininga: Heróis, Feitos e Instituições” (2012).
Na noite de 30 de novembro durante a subida de um morro íngreme, o pelotão de Nalesso foi atacado por granadas de morteiros alemães. “Eu era o último homem da fila de avanço e fui vítima de uma granada que explodiu bem próximo de mim. Não me feri, mas perdi os sentidos. (…) Assim que levantei já não vi meus companheiros e fiquei sozinho. Tomei uma atitude: procurar o meu ponto de partida. (…) as bombas passavam por cima de mim e explodiam após o Monte Castello”, escreveu Nalesso.
Entre outros combates, o pracinha itapetiningano participou da sangrenta batalha de Montese, entre 14 e 17 de abril de 1945, na ofensiva final na Itália. “A cidade com suas casas destruídas, cadáveres por todos os lados. À noite, as trevas aos poucos foram tomando conta, como um manto preto que vinha para cobrir a desolação da terra manchada de sangue”, contou.
Com o final do conflito e a vitória das tropas aliadas, depois de quase um ano em território italiano, Nalesso desembarca no Rio de Janeiro em 19 de setembro.
Depois da Guerra – Victorio Nalesso casou-se no dia 16 de fevereiro de 1946, com Lucinda Nunes da Costa Nalesso, irmã de seu companheiro de FEB, Benedito Nunes. Desta união tiveram três filhos: João Matheus, Ana Nunes e Cleide Aparecida. Depois de casado continuou se dedicando a lavoura, por cinco anos. Depois, trabalhou na Sorocabana de 1952 até 1975, quando se aposentou. Dedicando-se ao voluntariado na Conferências Vicentina e de Nossa Senhora Aparecida.
O pracinha Nalesso foi o primeiro veterano itapetiningano a receber pensão pelos serviços prestados na 2ª Guerra Mundial, isso em 1981. Em 1998, foi reformado no posto de 2º tenente do Exército Brasileiro.
Cidadão honorário de Montese, Nalesso entre outras condecorações recebeu a Medalha da Vitória do Ministério da Defesa (2015), a Medalha Heróis do Brasil pela Associação dos ex-combatentes do Brasil e a Medalha Marechal Zenóbio da Costa do 1º Batalhão de Polícia do Exército.). Em outubro de 2016, o Tiro de Guerra de Itapetininga inaugurou Museu da FEB, local que leva o seu nome.
(*) Colaborou Milton Cardoso
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