-Andrea Vaz – “O dono da obra em que eu trabalhava era o professor no curso de Construção Civil. Ele mesmo falou que não aceitaria mulheres nas aulas. Havia eu e mais quatro moças. Três ficaram. O professor teve que acabar aceitando. Só eu trabalho na área”.
Maria de Fátima Sousa é um exemplo claro de que não há espaço que a mulher não pode alcançar. Há cerca de três anos ela trabalha como pedreira, em obras da cidade. Com vinte anos, além do curso profissionalizante do Ceprom de Construção Civil, já traz a experiência de trabalhar como servente de pedreiro.
Babá, manicure, doméstica. No Dia Internacional da Mulher, comemorado na última quinta-feira, seria possível homenageá-la destacando seu trabalho nessas profissões. Sua jornada de trabalho no emprego e em casa também merece destaque. Agora, a mulher também ocupa cargos de liderança, inclusive, comandando homens.
Mas, as conquistas femininas não param por aí. Depois de saírem de casa para ajudar na manutenção do lar e alcançar cargos de maior responsabilidade, hoje elas estão invadindo profissões tidas como masculinas. Não é raro ver mulheres trabalhando de motoristas, caminhoneiras e até na construção civil, como Fátima.
Ela enfrentou um pouco de preconceito em casa, mas agora, a família aceita e, até gosta. “Essa semana já andei fazendo algumas coisas na casa da minha mãe e pintei por fora”, conta a pedreira, que é casada e tira o sustento do seu trabalho.
Nas construções, ela garante que o tratamento é de igual para igual. Questionada se os homens são gentis, ela responde que “eu é que tenho que fazer muitas coisas. Por exemplo, muitos têm medo de altura e quem acaba subindo no telhado sou eu”.
Fátima conta que no começo as pessoas estranham, mas depois fica natural. Segundo Fátima, em grandes cidades, mulheres na construção civil ou em profissões tidas como masculinas são bem mais comuns do que em cidades do interior.
O jeito feminino também faz muita diferença. Por instinto, elas acabam sendo mais cuidadosas. “Para fazer um acabamento, o serviço de uma mulher é muito melhor”, destaca Fátima. “E também no espaço de trabalho eu acabo sendo mais organizada que meus colegas de serviço”.
A pedreira destaca também que o mercado está aquecido na área da construção civil. “Não pretendo ir para outra cidade. Aqui já tenho bastante trabalho”. Mas ela tem mais ambições. “Quero estudar Edificações. Hoje, com o apoio do governo, só não estuda quem não quer. Depois quero continuar estudando e cursar Engenharia”.
Fátima afirma que as mulheres podem trabalhar do que quiserem. “O preconceito está nas próprias mulheres. Elas mesmas acreditam que não podem ou não devem fazer certas coisas”, finaliza.
O trabalho das mulheres
As mulheres saíram de casa para trabalhar durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945. Enquanto os homens estavam nos campos de batalha, elas precisavam fazer os serviços nas fábricas.
De lá para cá, mesmo sofrendo preconceitos e trabalhando por menores salários, as mulheres foram ocupando cada vez mais as profissões tidas como masculinas. Elas são árbitras esportivas, pilotas de avião e até comandantes em carreiras militares.