Alberto Isaac – Em meados da primavera de 86, à tarde, grande multidão aguardava contrita, o cortejo de um cidadão falecido que havia sido velado na funerária e se dirigia ao cemitério da Vila Rio Branco, para o repouso final. Quando se aproximava um pouco antes da Igreja de São Roque, com carros ainda se deslocando da empresa Camargo, duas mil pessoas retiraram a urna mortuária e a conduziram a pé até o Campo Santo, impedindo, também, que a viatura do Corpo de Bombeiros Voluntários efetuasse o transporte, “como última homenagem da corporação aquele cidadão presente.”
A manifestação de apreço que o incalculável número de pessoas estava rendendo preito era a Máximo Gomes Garrido, que junto com seus pais imigrantes, procedia da Espanha para residir, primeiro em Manduri – São Paulo, depois em Campina do Monte Alegre e, finalmente em 1912, em Itapetininga, mais precisamente, no então denominado Paquetá.
Mesmo sob “sofrimento e angústia” em viagem de 45 dias de duração, no porão do navio, o pequeno Máximo, bem resistiu às tormentas, justificando dessa maneira seu sobrenome, sinônimo de vistoso, elegante ou alegre. Conduziu-se assim a ocasião em que seus pais trabalhavam na colheita de café em Manduri ou então na construção da usina hidroelétrica de Piraju, na época de sua construção, quando o muito esperto Máximo freqüentava escolas públicas e tomava contato com a realidade da vida. Essa realidade, e por demais cruel, foi quando contraíram a famigerada febre espanhola, ficando sob sua responsabilidade o cuidado dos familiares, gravemente enfermos.
Casado com Isabel Gomes Garrido, e residindo próximo a Paquetá, deu início a construção de uma pequena vila que batizou como “Isabel”, mas conhecida até hoje e por todos como Vila Máximo, comunidade habitada com pessoas pertencentes as classes A, B e C.
Enquanto desenvolvia suas atividades, voltava sempre sua atenção às necessidades do próximo e da coletividade, e com comissão integrada por amigos construiu a Igreja de São Roque, atualmente paróquia das mais freqüentadas, ampliada em dimensões que se coadunam com a população católica da imensa Vila.
Alegre e cortês, Máximo foi um constante participe de festas e acontecimentos que resultassem em benefício de entidades sociais. Encetava campanhas para arrecadação de fundos destinados a Casa da Criança, cujo carinho “extravasava seu íntimo com total devoção”, como lembra o comerciante Zecaborba, um dos que também auxiliava o educandário. Assim também procedia com o Asilo São Vicente, Hoje Lar do Idoso, e que sempre teve seu apoio não só material como espiritual, porquanto além de católico praticante, pertenceu por quase trinta anos à Irmandade do Santíssimo, na Igreja Nossa Senhora dos Prazeres, antiga Matriz e atualmente Catedral.
Foi esportista “de carteirinha”, orientando e dando auxilio material a uma equipe futebolística de sua vida, e costumava nas festas juninas “marcar as quadrilhas” apresentando-as em clubes da cidade e em localidades vizinhas, com total sucesso. Não há quem desconheça que Máximo Garrido, devoto de Bom Jesus de Iguape, por quarenta anos – até sua morte – realizava a peregrinação a pé entre Itapetininga e Iguape, sendo que nos primeiros quinze anos levava a mochila nas costas, com alimentos e roupas.
Uma das sensações do carnavais desta cidade constituía-se na exibição do Bloco Sami, da Vila Máximo, organizado e ensaiado em vários meses antes das festividades momísticas, pelo casal Máximo e Isabel, extasiando o público que se postava na Virgilio nas noites do desfiles.
Com 80 anos o povo despediu-se de Máximo, que deixou 13 filhos, 47 netos, 54 bisnetos e dois tataranetos, além de 100 afilhados de batismo, prova cabal do carinho e amor que o povo lhe devotava. Caso estivesse vivo, estaria completando 102 anos, nesse próximo dia 15.
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