Há necessidade de caminhar. Sair pelas ruas de Itapê (as vezes esburacadas), gravata solta (se for executivo), camisa aberta no peito, de boné, enfrentando o sol tórrido e o vendo sibilante – como meu sacolejante amigo Ivan Barsanti – em meio aos transeuntes, uma multidão que se move celeremente.
Caminhar com tênis – caríssimos – ou descalço (como recomendava o grande poeta argentino Jorge Luiz Borges) e deslumbrar-se com a bela mulher que passa deixando uma fragrância primaveril. Caminhar e observar com atenção, interesse, e sociologicamente, o indigente que pede esmolas, o bando de bêbados postados nos bancos do Largo Correio, a criança com mochila às costas que vai a escola, o guarda que controla o trânsito da cidade (quando há), o ônibus parado à espera de passageiros e as lojas vazias aguardando a freguesia, nesses tempos, em recesso após as gestas de fim de ano.
Porque é preciso caminhar. Que seja até a Aparecida, à Chapadinha, no trevo de Alambari, à Vila Rio Branco, às vilas Santana e Piedade, à vila São João ou na marginal (como diria ZécaBorba Soares Hungria). De norte a sul, de leste ao oeste, com sapatos velhos também, mocassim com ou sem meias ou então com sandálias franciscanas ou havaianas. Que todos caminhem, em busca da saúde (conforme determinação médica) atravessando praças ou jardins, escolas e repartições públicas, quartel, Câmara, Prefeitura, campos e florestas (se houver), irmanando-se à imensa confraria de andarilhos e desempregados infatigáveis, gente que procura algo e não divisa com nada. Andar em grupos como os jovens ou terceiridades lépidas e álacres.
Indubitavelmente é preciso caminhar para fugir das cadeiras dos escritórios, dos computadores, das poltronas das salas vendo televisão, dos assentos dos automóveis, ônibus, vans, táxis de 1,60, privados, redes de balanço, motos e bicicletas, barbeiros, cabeleireiros, selas de cavalos, motos e tudo aquilo que serve para sentar.
Mas neste caminhar, não devemos esquecer sempre que corre-se o risco de tropeçar no meio fio, escorregar na casca de banana, torcer o tornozelo no buraco da calçada, cair de quatro (ou das nuvens), diante de súbita aparição do credor esquecido; levar um tijolaço na cabeça (de prédio em construção ou em demolição). Ser vítima de assalto ou levar um tiro perdido ao cruzar a esquina de banco (hipótese improvável em nossa cidade), e isto sem esquecer a possibilidade remota de, caminhando pelos campos em dia de temporal (como ocorrido numa determinada sexta-feira de anos atrás), o andarilho errante levar no meio da testa o raio que o parta. Mas, apesar disso, vamos todos caminhar, homens, mulheres , velhos, adolescentes e crianças, dia e noite, inverno e verão, outono e primavera.
E como acrescenta o geólogo Michel Aboarrage: qualquer que seja a velocidade na nossa caminhada, todos convergimos para o mesmo ponto – Cemitério ou Campo Santo. Ou, para finalizar, segundo o saudoso e grande D.Helder Câmara – Arcebispo de Olinda e Recife: “Cada passo que dou lembra que estou sempre em marcha para a Eternidade”
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