Pacientes de Itapetininga enfrentam longas filas de espera para consultas, cirurgias e procedimentos médicos. O Jornal Correio ouviu diversos relatos que expõem a gravidade da situação e a frustação de quem aguarda há meses e até mesmo há anos por uma oportunidade de tratamento contra doenças.
Uma moradora que prefere não ser identificada, compartilha suas tentativas frustradas de tratamento contra uma doença dermatológica. Nesta reportagem, vamos chamá-la de Maria. “Em 2021, começaram a aparecer feridas no meu corpo, principalmente no rosto e orelha, que vertiam pus. Fui ao postinho da Vila Rio Branco e, após uma consulta com o clínico geral, consegui um encaminhamento para o dermatologista”.
A primeira consulta aconteceu dois meses depois, mas o dermatologista afirmou que não sabia qual era o problema. “Ele me receitou remédios para alergia, mas as feridas aumentaram em 60 dias, foi então que ele solicitou uma biópsia”, relembra Maria.
O diagnóstico de líquen crônico, uma doença autoimune e ainda em estudo só veio após a realização da biópsia, mas Maria não conseguiu mais atendimento com o dermatologista desde 2022. “O médico entrou com o tratamento de corticoide, me deu receita para três meses, e quando voltei, o remédio estava funcionando, então ele me pediu exames. Já era meado de 2022, e desde então não passei mais por um dermatologista para mostrar os resultados”, explica.
Maria ainda conta que foi ao Centro Integrado de especialidades do município de Itapetininga (Ciemi) para verificar a demora no atendimento. “Lá eu descobri que o dermatologista responsável estava afastado, e o outro médico que atendia na rede havia saído. Em abril deste ano, me ligaram para agendar uma consulta com outro dermatologista, mas a data disponível coincidia com um curso do meu trabalho. Pedi para reagendar, mas disseram que não era possível, e acabei voltando para o final da fila”, lamenta.
Ela ainda aponta que está sem medicação desde 2022. Além disso, a biópsia deixou uma ferida que não cicatrizou. “A biópsia foi feita atrás da orelha direita, e os pontos não cicatrizaram. Tomei medicamentos, mas a ferida ainda está aberta, causa mau cheiro dependendo do clima, e tenho uma consulta marcada para o dia 22 de outubro com o clínico geral para solicitar nova sutura”.
As feridas, segundo Maria, afetam não só sua saúde, mas também sua vida pessoal e profissional. “Coça bastante e atrapalha muito, além de deixar minha autoestima lá embaixo, já que as feridas maiores eram no rosto e na orelha. Sei que é uma doença rara, mas acredito que os profissionais deveriam estar mais preparados para nos atender”, expõe.
Maria ainda critica o atendimento e a falta de comunicação do sistema de saúde. “O que me chateou muito foi terem marcado a consulta mesmo eu avisando que não poderia comparecer. Para eles, é como se eu não tivesse ido, quando, na verdade, o descaso foi deles”.
Cilene Ferreira também enfrenta uma longa espera para o tratamento médico de seus dois filhos. Ela conta que sua filha de 9 anos está aguardando uma consulta com um otorrinolaringologista há quase um ano, depois de ser encaminhada pelo posto de saúde. Já seu filho de 13 anos, que iniciou o tratamento com um otorrinolaringologista há cerca de dois anos, aguarda uma cirurgia para obstrução das vias nasais no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Itapetininga há quase um ano.
“Os dois têm dificuldade para respirar, mas principalmente meu filho, que dorme com a boca aberta”, diz Cilene, preocupada com a saúde das crianças.
Outro relato que exemplifica a precariedade do sistema é o de Rosa Moreira, de 72 anos, que aguarda há quase cinco anos pela cirurgia de catarata em um dos olhos. “Eu operei um olho da catarata em 2020 pelo AME de Salto, depois de ser encaminhada pelo AME daqui de Itapetininga. Um mês depois, eles iam me chamar para operar o outro olho, mas nunca chamaram”, disse Rosa.
Em 2023, Rosa foi ao posto de saúde, onde entrou em contato com o AME. “Eles disseram que já tinham me dado alta, mas eu falei que não, que só operei um olho e ainda tinha que operar o outro”.
Após idas e vindas ao sistema de saúde, ela diz que conseguiu um encaminhamento para fazer a limpeza a laser do olho operado no BOS (Banco de Olhos de Sorocaba), mas a cirurgia do segundo olho segue pendente. “Agora só vejo vultos e estou sempre caindo. Tenho medo de perder a visão de vez”, desabafa Rosa, que aguarda um ultrassom para verificar a retina e dar continuidade ao tratamento.
Mais um caso preocupante é o de um adolescente de 16 anos que espera há mais de três anos por uma simples cirurgia de fimose. Até hoje, o jovem não foi chamado pelo AME para realizar a cirurgia.
O Jornal Correio entrou em contato com a Prefeitura de Itapetininga e com o Departamento Regional de Saúde para obter um posicionamento sobre a situação das longas filas de espera, mas não obteve resposta. Já a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que, atualmente, a fila de espera para exames, atendimentos, cirurgias e procedimentos é descentralizada, mas a atual gestão trabalha para identificá-las e unificá-las.
No entanto, a SES não divulgou informações sobre o número de pacientes aguardando na fila, o tempo médio de espera, e não especificou um prazo para resolução das filas.
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