-Benedito Madaleno Mendes – É domingo… Olho meu relógio. Nossa! Nove e meia da noite, ainda! O calor torna o tempo preguiçoso… No centro da cidade, nenhum ruído; tudo parece tão calmo! Ninguém na praça, que já foi um dia o largo dos Amores… Solitário, sigo em paz pela Venâncio Ayres… O bar do Silvino está fechado. No lugar do Cine Olana, uma lápide disfarçada de estacionamento… Apenas a barraquinha de lanches, na esquina da José Bonifácio, prova que o mundo não acabou… por enquanto. Um cheiro de penosa na chapa inunda o luar! Paro defronte ao “Merendino”… Algumas pessoas degustam a pizza mais saborosa destas bandas da Via Láctea! Entro, vou até o caixa, peço um maço de Hollywood… Penso em ficar um pouco mais e tomar uma cerveja, mas decido ir embora… Ai de mim! Se arrependimento matasse! Saio e passo para o outro lado da rua… Ando alguns metros e sinto uma presença às minhas costas. Olho de soslaio e uma sombra se projeta ao meu lado. Num segundo, a presença se transforma em alguma coisa parecida com rapaz, bem na minha frente! É moreno, magro… Penso que vai me pedir cigarro, mas ele diz: “pera um pouquinho aí, senhor”! Paro! Sinto outro alguém chegando sorrateiro… E o estranho à minha frente sentencia: “só queremos o dinheiro, senhor”!
Alguma coisa que jamais entenderei acontece comigo… É tudo muito rápido… Apenas digo: “um momentinho, filho”! E num corisco viro para o lado… Só penso em correr de volta à pizzaria… Mal inicio minha fuga, dou de cara com um fulano em postura de briga. Ágil, um Garrincha, driblo o estropício e vou em frente… Epa, vem mais um pra me pegar! Ziguezagueio igual coelho fugindo de onça esfomeada e me escafedo… Mas vem outro infeliz em minha direção agitando alguma coisa no espaço… Sinto-me talqualzinho uma raposa pererecando num canil de rottweilers… Num relâmpago, adivinho os passos do inimigo, desvio-me de seu golpe e corro… Corro, uma ova! Viro um “Flash” de fiofó na mão e rompo a barreira do espaço-tempo… Correndo, posso ouvir as botinas do “sem nome” desembestado atrás de mim… A porta do “Merendino” parece mais bonita e luminosa que a porta de São Pedro! Amparo-me no batente, falta-me o ar, meu coração quer escapulir do peito, parece que tô apagando, mas… Ufa! Estou a salvo! Olho para a rua… A quadrilha foge descabelada. Algumas pessoas aparecem na soleira: o que aconteceu? Mal consigo sussurrar: tentaram me assaltar! Chame a Polícia, alguém me diz. Mas que Polícia?
Armado com um caibro, venho matutando, de volta para casa… Puxa! Não vejo um PM, um Guarda Municipal, um vigia, nada. E as câmeras de vigilância, aquelas que a Prefeitura insistiu em colocar nas ruas, estão pifadas! Ainda bem que sou ágil como um guepardo e ziguezagueio igual relâmpago. Sorte minha! Mas e os meus confrades que não têm os meus talentos, como é que ficam? Entregam a guaiaca, as botinas e a cueca? O centro da cidade está à míngua!
Ainda bem que o Santo-Pai não tira férias e, lá de cima, nos vigia! Senão…
Mais de 20 mil pessoas vivem na linha da pobreza
Em Itapetininga, 20.814 pessoas vivem na linha da pobreza, ou seja, aquelas cuja renda per capita mensal familiar não ultrapassa o valor de R$ 706, metade de um salário mínimo,...