Juliana Cirila
A morte do menino Henry no dia 08 de março, criou um alerta sobre a violência infantil. Entre 2010 e 2020, pelo menos 103.149 crianças e adolescentes com idades de até 19 anos morreram no Brasil, vítimas de agressão, segundo levantamento divulgado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Do total, cerca de 2 mil vítimas tinham menos de 4 anos.
Apesar de os dados relativos a 2020 ainda serem preliminares, a SBP informou que, segundo especialistas consultados, o isolamento social, medida “essencial para conter a pandemia do novo coronavírus”, resultou em aumento da exposição das crianças a uma “maior incidência de violência doméstica”, o que, consequentemente, elevou também os casos letais.
A psicopedagoga Lilian Bueno explicou que as crianças ainda estão desenvolvendo sua maturidade emocional, portanto não conseguem esconder seus sentimentos e emoções. “Uma criança que é muito alegre, extrovertida, tranquila e começa a apresentar um comportamento de introspecção, tristeza muito grande, fica nervosa, muito chorosa, com reclamações constantes ou até mesmo começa a apresentar sintomas físicos, como vômitos, náuseas, falta de apetite; especialmente quando encontram determinadas pessoas ou quando precisam estar em determinados ambientes, é importante investigar pois, algo não está bem”.
O impacto que a violência causa no desenvolvimento da criança pode ser irreversível, como explica a psicopedagoga. “Nós temos dentro do nosso cérebro os chamados neurônios espelhos, que nos faz “espelhar” comportamentos que experenciamos ao longo da vida”.
Ainda sobre o impacto que a violência causa na vida da criança, Bueno explica que uma criança que experimenta situações de violência dentro do seu ambiente de crescimento, que vê adultos lidando com os conflitos através de agressões; irá carregar e reproduzir esse padrão podendo ser tornar facilmente um adulto violento, ou na melhor das hipóteses, um adulto depressivo, ansioso, com fortes traumas emocionais.
“Além disso, toda situação de violência irá afetar a maneira com que essa criança se relaciona com o outro, com o mundo, consigo mesma e inclusive, seu desempenho escolar; uma mente amedrontada não consegue se concentrar no processo de ensino-aprendizagem”, acrescentou a psicopedagoga.
Sobre o ambiente familiar e como os familiares devem abordar o assunto Bueno explicou que quando o ambiente é violento gera angustia, especialmente se a criança for o alvo dessa violência. “Assim, para que a mesma se sinta confortável para falar sobre qualquer tipo de abuso ou agressão que esteja sofrendo ou para que a família aborde esse tipo de assunto, primeira precisa existir uma relação de confiança mutua. É imprescindível que a criança se sinta acolhida, amparada e protegida”.
A psicopedagoga também explicou como os responsáveis devem agir quando for comprovada a violência física. “A denúncia aos órgãos sociais e o cuidado profissional são fundamentais. Segundo a Lei 8.069/90 que instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em seus artigos 13 e 56 fixam a obrigatoriedade por parte dos profissionais da saúde e da educação comunicar ao Conselho Tutelar os casos em que há suspeita da ocorrência de maus tratos ou outras formas de violência contra crianças e adolescentes, nos termos do art 254 também do ECA”.
A especialista ainda acrescentou que tanto os maus-tratos como a negligencia são considerados crimes de acordo com o Código Penal artigo 136. No entanto a denúncia apenas por parte da escola e dos profissionais da saúde muitas vezes não é suficiente. A existência de todo um arcabouço jurídico não exime a responsabilidade da sociedade em cuidar dessas crianças e adolescentes. Portanto, é necessário que qualquer pessoa que suspeite de violência, agressão, maus tratos denuncie às autoridades.