Marlene ou Emilinha?

Era líquido e certo. Na segunda metade da década de 1940 e em toda a década de 1950, numa época em que ainda não havia retransmissão de televisão nessa cidade (só começou em 1963) o rádio imperava. E nesse período citado aos sábados, a partir das três horas da tarde, quase todas as casas residenciais (e eram muitas!) situadas no quarteirão da loja Moucachen (na época uma casa que trabalhava com tecidos finos), ligavam seus transistores de aparelhos na Rádio Nacional do Rio de Janeiro (alta frequência sonora!) para ouvir o programa “César de Alencar”. Isto, naquela região da rua Campos Salles, que eu sei.

César de Alencar era então (por anos!) o mais famoso animador do “broadcasting” brasileiro. Animava um programa com quatro horas de duração (das três da tarde à sete horas da noite) diretamente do auditório no vigésimo segundo andar do edifício “A Noite”, região central do Rio. Até 1947, por aí, uma de suas maiores eram a cantora Emilinha Borba, nascida Emília Savana da Silva Borba nas proximidades do morro da Mangueira e viveu em Jacarepaguá, bairro da zona norte carioca. Emilinha vinha de uma família simples, economicamente da baixa classe média e sempre quis ser cantora.

Mas, por onde começar? Como sua mãe era atendente de uma das toaletes femininas do Cassino da Urca por que não iniciar uma carreira artística por lá? Dai que Emilinha Borba ainda menor de idade, pediu para sua genitora conversar com a famosíssima Carmen Miranda, estrela principal dos “shows” no Cassino. Isto, no final da década de 1930. Pedido feito e atendido. Emilinha tornou-se uma das muitas “clooners” das também muitas orquestras da Casa. O que seria uma “clooners”? Seria aquela que interpretava vários ritmos musicais para outros dançarem. A “clooners” seguia as ordens dos arranjadores e maestros dos conjuntos musicais. As músicas seriam impostas para ela.

Daí que, no futuro, Emilinha tornou-se uma das cantoras mais ecléticas do rádio e disco. Cantava samba, baião, marcha, frevo, bolero, fox norte-americano, toada, choro, guarânia e outros. Quando a canção era internacional ela cantava versão na língua portuguesa. No início da década de 1940 ela já estava cantando na Rádio Nacional do Rio de Janeiro em audições no auditório e no estúdio da emissora.

E Marlene? Nascida Victória Bonaiutti de Martino, também de uma família de baixa renda econômica, em São Paulo onde começou a trabalhar desde cedo e como gostava de cantar, escrevia-se em todas as “horas do estudante das rádios paulistanas”, com restrições de sua mãe. Meio que fugida de casa, Marlene mudou-se para o Rio de Janeiro em 1943, aos dezenove anos. Foi cantar como “clooner” (igual a Emilinha) no Cassino da Urca. Em relação às músicas Marlene não era tão eclética, cantava principalmente música brasileira como samba, toada, samba-canção, maxixe e futuramente baião. Da Urca foi para o Copa (no interior do Hotel Copacabana Palace) no “Golden Room” e no “Meia-noite” no mesmo Hotel. Em 1947 estreou na Rádio Nacional cantando principalmente no “Programa César de Alencar”.

Em 1949 aconteceu o concurso de “Rainha do Rádio Brasileiro” beneficente para angariar fundos em prol do Hospital dos Radialistas. Emilinha (que era a franca favorita) e Marlene, entre , concorreram. Acontece, que na época, a empresa Guaraná Antártica estava lançando um novo produto, o “Guaraná Caçula” (tamanho menor da garrafa) e para efeito de publicidade, o nome de uma cantora nova (no caso, Marlene) combinava muito bem com a ideia pretendida pela empresa. Dai que ela Marlene, tornou-se símbolo as campanhas de lançamento do “Guaraná Caçula”. Resultado: Marlene de Rainha do Radio para justificar a frase: “A Rainha do Rádio e o Rei dos Refrigerantes” derrotando Emilinha.

Os fãs desta nunca perdoaram a cantora paulistana (que também possuía uma legião de admiradores!). Em virtude disso nunca mais, durante um bom tempo, elas puderam apresentar-se num mesmo programa de auditório de rádio. Senão sairiam terríveis brigas entre os fãs. Emilinha ficou no “Cesar de Alencar” e Marlene em um outro da mesma rádio. A rivalidade entre elas tornou-se um dos fenômeno do rádio brasileiro.

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