Por: Mayara Nanini
O que dizer de almas que nascem com o dom de colorir vidas? A verdade é que são diversas as histórias para contar e sentimentos para expressar. Cada pessoa carrega em si uma lembrança que foi capaz de curar. Maio não retrata só o desabrochar de várias flores, mas comemora o dia daquela que tanto se doa para a criação de outro Ser Humano.
Há uma energia inexplicável e incólume que emana dessas pessoas. E aqui não falamos em raça, sexo ou sangue, mas do amor puro que irriga o coração e faz germinar diversos dons.
A arte nasce no som balbuciado entre as sonecas, nas roupas de bonecas confeccionadas durante a brincadeira, do olhar carinhoso em meio ao caos, das caretas, do exemplo, nas cantigas, nas brincadeiras lúdicas, do incentivo e tantas outras formas mágicas. Cada pessoa carrega em si uma marca deixada por seus ancestrais e, neste caso, é de se enaltecer a enorme contribuição que as nossas mães teceram ao longo da jornada desafiadora que é educar.
O solo Itapetiningano é recoberto por flores germinadas a partir do legado disseminado pelas mães. São inúmeros os talentos transmitidos. Muitos adultos deixam rastros coloridos em razão da criação das talentosas mães que os criaram, seja na música, pintura, costura, artesanato, teatro, desenho ou outros meios existentes.
Um grande exemplo de geração que marca é a dupla infalível que deixa a cidade mais colorida: Bebeto Neri e Mariza Salem Neriu. Bebeto, filho de Mariza, a intitula como “uma Mãe que Pinta Sonhos”. No coração do “O Ateliê”, bate a paixão e o talento de Mariza Salem Neri, uma mãe não apenas no sentido da palavra, mas também na arte de inspirar. Desde os primeiros rabiscos de Bebeto Neri, foi ela quem guiou suas mãos, mostrando que cada traço é um passo em direção ao infinito mundo da arte. “Minha mãe não me ensinou apenas a segurar um pincel; ela me ensinou a ver a vida em cores vibrantes e a pintar não só telas, mas também sonhos”. Sob seu olhar atento e sua orientação sábia, o pequeno Bebeto floresceu, transformando-se no artista e professor que hoje encanta com sua arte. A tradição da arte de desenho e pintura, passada de mãe para filho, é o legado mais precioso de Mariza. Ela não apenas passou adiante sua técnica, mas também seu coração artístico, que pulsa forte em cada obra criada sob o teto do ateliê fundado com tanto amor e dedicação. O artista ainda homenageia sua querida mãe, com palavras poéticas, demonstrando que a sensibilidade não está somente nas telas, mas na própria alma: Neste Dia das Mães, elevamos nossos pincéis em homenagem a Mariza Salem Neri, a eterna mestra, cuja vida é uma tela repleta de ensinamentos e cuja herança é a beleza que continua a ser espalhada por seu filho, Bebeto. A você, Mariza, nossa gratidão por pintar o mundo com as cores mais belas: as do amor incondicional e da inspiração sem fim”.
Assim como Bebeto, outros filhos são fortemente arrebatados pelo amor que vem da arte. Isolete da Rosa é filha de Luzia Alves da Rosa e nasceu na cidade de Itapeva, Estado de Minas Gerais. Hoje reside em Itapetininga e contribui muito para o teatro, seja com atuação ou seus figurinos impecáveis. Guarda com carinho tudo que sua mãe transmitiu ao longo da infância em terra mineira: “É um orgulho falar de minha mãe, muitas lembranças maravilhosas e significativas. Era costureira, aprendeu o ofício da costura ainda criança, para costurar para toda a família. Cresci no meio dos tecidos, dentro de cesto ao seu lado, assim não me perdia de vista enquanto ela cortava e costurava as roupas dos clientes. Minha mãe era semianalfabeta, mas se tornou uma exímia costureira, de uma criatividade ímpar. Meus vestidos e da minha irmã, eram bordados à mão com linhas muito fininhas. Ficavam encantadores. Ela também gostava de cantar. Lembro que a noite ela é meu pai pegavam um livrinho de moda caipira e cantavam. Uma das músicas era “a caneta e a enxada” de Teddy Vieira. Quando vim morar em Itapetininga fiquei sabendo que esse compositor era daqui. Isso foi uma surpresa boa. São caminhos que de uma certa forma se interlaçam”. Isolete ainda conta que todo o conhecimento passado por sua mãe ficou gravado na memória e, apesar de não seguir a profissão de costureira, se aventura nos figurinos de teatro e carrega paixões, valores, habilidades e aspirações. Ela ainda deixa uma mensagem desse amor maternal: mães são essências de amor, de aconchego. Pessoas que nos ensinam dando seu melhor. É essencial absorver o máximo desses ensinamentos, uma vez que no decorrer da vida esses dons podem brotar conforme nossas necessidades”.
Na área musical, as notas também formaram uma grande sinfonia da vida de Rafael Ragazzi Isaac, filho da querida professora de Música e Artes Helena Ragazzi Isaac. Apesar atuar na área de Engenharia Civil, toca saxofone em casamentos e outras apresentações. Vive a arte musical com suas filhas, familiares, amigos e em eventos da região. O admirador de MPB e música clássica carrega o fruto “Ela me colocou para estudar música onde também era professora (na Escola Livre de Música de Itapetininga), aos meus 6 anos. Fiz curso de flauta doce. Na sequência também foi minha professora de teoria musical. Sempre deu todo o apoio quando mudei para o saxofone e estudei em Tatuí. Também me apoiou quando prestei vestibular para música e fui aprovado na UFSCAR. Tenho na memória as apresentações de meio e final de ano onde ela sempre estava presente. Minha mãe sempre apoiou os ensaios da banda, na época que eu era adolescente. Permitia que os ensaios fossem em casa e isso me motivava. Logo, quero agradecer por sempre me orientar nos caminhos da vida, por me apoiar, por mostrar o certo e o errado, pelos valores, pela paciência e por me ajudar a chegar até aqui. Te amo”.
Nossa cidade também é berço de talentos na área da literatura. A acadêmica Vivian Leme Furlam, filha de Lilian Maria Rolim Leme, é uma professora renomada. Ela relata que sua mãe, uma psicóloga que vê além da alma, construiu nela, desde muito tenra idade, o gosto e a admiração pelas coisas mais bonitas da vida. “Com ela teve sempre o privilégio de poder admirar e consumir o que é entendido como sendo” alta cultura”, mas sobretudo ensinou a admirar e valorizar as belezas e significações mais singelas da vida, como gostar de passar uma tarde em um museu, ou então a ouvir uma boa sonata ao piano (ela é formada no conservatório de Tatuí, um orgulho!), mas também a admirar a poesia que existe em um pôr do sol, a alegria de ver as cores de um campo florido, o sentimento de gratidão ao contemplar o cotidiano com o voo desatento de uma borboleta. Com minha mãe aprendi o que está na essência, como em Manoel de Barros, “eu fui aparelhada para gostar de passarinhos. Prezo insetos mais que aviões. Tenho abundância de ser feliz por isso.” Tenho muitas memórias lindas de minha infância regada aos descobrimentos artísticos. Minha mãe deixava a gente pintar no chão, rabiscar a parede, pintar e decorar as coisas da casa, fazer uma pichação no muro do quintal da vó aqui em Itapetininga.
Ela sempre soube a importância da relação da arte com a educação. Eu tive o privilégio de fazer a pré-escola na escolinha que ela teve, chamada “Doce Convívio”, em Piracicaba. Aquele espaço estava muito à frente de seu tempo e minha mãe imprimiu na pedagogia da escola tudo de maravilhoso que ela acreditava. Lá as crianças eram livres. Criança feliz faz arte. Criança feliz desenvolve autonomia para pintar a vida. Havia lá um curso de artes chamado “cria(n)ção” e as nossas tardes eram regadas a todos os tipos de fazeres manuais, da argila até um mural gigante com o artista da cidade, Morelato. Foi assim que fui me moldando e apurando meus gostos, tanto que na adolescência eu comecei a frequentar um ateliê de cerâmica e isso se revelou em mim até hoje, uma vez que sou ceramista e também já cursei artes plásticas. Tudo o que sou e almejo tanto pessoal e profissionalmente vem desse senso de liberdade e criatividade que foi desenvolvido pela minha mãe em mim através da arte. Minha mãe, talvez por não ter asas na criação dela, sabia da importância que tinha a liberdade e me presenteou com as mais belas asas. Ela sempre me proporcionou a base, as ferramentas necessárias, tanto físicas quanto emocionais, para ir atrás do que eu queria, para ser uma mulher livre. Eu lembro de ser sempre muito encorajada a expressar todos os meus dons, principalmente com a escrita, que foram preponderantes e me fizeram chegar ao Doutorado em Literatura”. Vivian, ainda homenageia a mãe: “Mãe, Obrigada por ser meu sol, por ser meu elixir de cura precioso, por caminhar comigo e ser as minhas pernas quando eu fraquejo. Em todos os meus silêncios, lá está você dentro de mim em forma de canção. Obrigada por ser VOCÊ a minha mãe! Eu te amo muito e estarei ao seu lado eternamente”.
São inúmeros os relatos de mães que, pela essência genuína, transformaram os filhos em pessoas melhores. Seres de luz que deixam pegadas coloridas por onde passam. Que salvam vidas por meio das telas tão profundas, pelo figurino que transforma personagens, com o som revigorante de instrumentos ou a magia da literatura que gera sentimentos em forma de palavras. A verdade é que a Arte aflora nos detalhes e molda o ser humano independente da profissão a ser seguida. Aquele que foi instaurado ao som do lúdico tem a alma pronta para florescer em qualquer canto e perante qualquer pessoa. Como bem relata Vivian Leme Furlam “Minha mãe me ensinou a arte de ser gente humana”. Partindo dessa premissa, que seja sempre essa a grande energia do poder maternal: germinar raízes e curar gerações. O poder é cíclico e essas sementes são a luz do futuro.
Em nome desses artistas que foram irrigados pelo dom do amor, transmitimos nosso carinho àquelas que tanto se doam.
Um Feliz Dia das Mães. Obrigada por fazerem da nossa vida uma grande obra de arte.