Foi em 1948 que inventaram o disco de vinil. Pouco mais de duas décadas depois, em 1970, foram as fitas VHS que começaram a dominar o mercado, enquanto os CDs e DVDs, em 1986 e 1997, respectivamente. Ainda que obsoletos na era do Spotify, Streaming e Youtube, esses instrumentos voltam a ganhar força no mercado itapetiningano tanto entre os mais velhos quanto entre os mais jovens. A troca, compra e venda destes produtos, que outrora representaram a modernidade, hoje fazem a cabeça de colecionadores e simpatizantes “old school” de consumo de artefatos culturais vintage.
Isso porque os jovens de Itapetininga desejam sentir um pouco de como era uma época que não viveram, já os mais velhos, sentem falta de sua juventude e encontram nessas coleções, um meio de sanar sua nostalgia.
Dinoel Duarte Correia, dono do sebo Naftalina Discos – em uma brincadeira referenciando o cheiro dos artigos antigos na loja – e de um acervo de quase 12 mil álbuns, contou que ao se aposentar de sua carreira como bancário em São Paulo e retornar para a cidade, começou a participar da Feira da Barganha e um dia conseguiu quatro caixas de discos, assim resolveu montar uma loja deles.
“Montei uma loja num quarto desse estabelecimento. Aí fui fazendo captação neste local, né? Perto do Poupatempo… Depois de um tempo a loja estava com muita coisa [CDs, máquinas de escrever, DVDs, vinis, brinquedos, fitas cassetes, moedas, livros], tive que vir para cá, pois lá não cabia mais”, explicou Dino.
Ele contou que há muitas vendas, que com certeza foi bom ter aberto o sebo, mesmo com as dúvidas anteriores sobre o alcance de venda. “No começo era difícil. Não esperava ter tanta clientela como tenho agora que deu uma guinada”.
Suas vendas principais se tratam dos vinis e dos CDs, logo depois seguido por livros e filmes, além dos brinquedos que sempre atraem colecionadores. Quando perguntado da faixa etária principal de sua clientela, ele explicou “O pessoal fala que é pessoal mais de idade, né? Mas eu tenho adolescentes de 15 anos. Tem dois rapazes entre 12 e 15 anos que eles conhecem tudo de The Beatles. Tem um que conhece desde sertanejo a rock”.
Além disso, Correia explicou que muito de seus produtos são trazidos pelos próprios clientes em forma de troca e mesmo venda. “Os brinquedos eu tenho um fornecedor que eu compro. Mas os outros o pessoal traz para mim, seja vendendo ou trocando; então aparece muito CD, DVD… Disco muito pouco”.
Seus clientes são em maioria colecionadores, contou o empresário. “Meus clientes são quase todos voltados para colecionismo, muitos mesmos. A clientela é isso. E a maioria prefere Rock, uns 70% do que eu vendo são discos e CDs de Rock”.
O adolescente Lucas Henrique Weiss, frequentador assíduo do sebo, tem paixão por discos de vinis e monta sua coleção há um ano. Ele explicou que começou a colecionar incentivado por seus pais que possuíam um saudosismo pelos tempos que ouviam música vitrola e o presentearam com uma, e devido ao seu amor por música e coisas “antigas”.
“Entre meus 12 a 14 anos eu comecei a acompanhar cada vez mais o mundo musical, e isso me despertou interesse em ter uma vitrola, discos, CDs… Como eu sempre gostei de antiguidades, seja carros antigos, videogames, filmes, séries… A vontade de ter um toca disco aumentou ainda mais, aliado ao meu interesse na música, fez com que eu começasse minha pequena coleção”.
A paixão de Lucas é compartilhada por seus pais, Paulo Cesar e Maria Carolina Weiss. “Eu acho magnífico meu filho Lucas curtir discos de vinil. Mesmo com a facilidade de ouvir músicas pela internet, ele não abre mão de maneiras mais clássicas de escutar um bom som”, contou sua mãe.
Maria Carolina se emocionou ao falar do sentimento de nostalgia que essa paixão do filho dá a ela. “Compramos para ele uma “vitrolinha” e desde então ele coleciona vários álbuns. Isso me traz uma nostalgia muito boa, porque passei minha infância e adolescência curtindo um bom vinil. Para mim a maior vantagem do vinil é a definição do som, mais natural e aproveitar essa experiência junto com o meu esposo e os meus filhos é maravilhoso”.
Para Lucas, a melhor parte de ouvir no vinil é o som do respectivo aparelho. “Seja a agulha na vitrola, ou o “chiado” de um rádio, são sons que te transportam, é uma sensação inexplicável. Algo diferente de ouvir pelo Streaming. Ver o disco girando pela vitrola é outro sentimento incrível, é um transe, uma viagem, uma hipnose, é algo que relaxa até”.
Ele explicou que todo o contato com o disco é mágico, desde o encarte até ouvir a música mesmo, além de trazer mais proximidade com o artista já que ele está segurando a obra do músico, analisando todos os detalhes dela. “Tem todo o ritual de tirar um disco da capa, ler o encarte, segurá-lo com cuidado, colocá-lo na vitrola e ver ele começar a girar e tocar. Parece que tem um cheiro de nostalgia, de uma época que bom, eu nunca vivi, mas que me transporta até ela”.
Weiss explicou que para ele, a principal dificuldade de ser um colecionador é achar os discos para comprar e também os preços que são altos, além dos cuidados. “Os maiores cuidados vão no manuseio no geral, na hora de tirar o disco ou CD do encarte e caixinha, tentar não sujar, arranhar, riscar. Colocá-lo no aparelho de forma cuidadosa… E também na limpeza para manter os discos em perfeito estado”.
Se tornar colecionador foi algo que mudou Lucas e só o aproximou de seus pais. É uma paixão que ele faz questão de alimentar. “É um sentimento diferente, me faltam palavras. Por ser algo compartilhado entre mim e meus pais, é algo no qual detenho imenso carinho. Todo o costume de sair e comprar um disco, tirá-lo, colocá-lo para ouvir, apreciar, guardar para escutar outro dia, é maravilhoso! Ver a coleção ali, uma conquista pessoal, é prazeroso, um sonho sendo realizado”, emocionou-se.
Lucas ainda contou que seus preferidos são os do The Beatles, Led Zeppelin, Elvis Presley, Pink Floyd, Engenheiros do Hawaii e Creedence. Enquanto Dino informou que os mais procurados pelos consumidores são Pink Floyd, Led Zeppelin e Black Sabbath.