Há 8 dias, Fernanda Montenegro, aos 92 anos, tomou posse como imortal na Academia Brasileira de Letras (ABL), passando a ocupar a cadeira número 17. A atriz é apenas a nona mulher eleita para a ABL ao longo dos 124 anos de história da Academia – a primeira foi a escritora Rachel de Queiroz, em 1977.
Aplaudida de pé ao entrar no salão da Academia, a atriz fez um discurso emocionado. “Agradeço muito ao meu coração e minha razão por estar sendo aceita nesta casa, protagonista, referenciada, da nossa mais alta cultura”, declarou. “Sou atriz, venho dessa mística arte arcaica, eterna, que é o teatro. Sou a primeira representante da cena brasileira, do palco brasileiro a ser recebida nessa casa”, prosseguiu.
Fernanda escreveu “Prólogo, Ato e Epílogo”, um livro de memórias escrito entre novembro de 2017 e agosto de 2019. A atriz é reconhecida como um ícone do teatro, capaz de como poucos aliar técnica e instinto. “Sua experiência se agiganta quando de seu corpo uma personagem ganha vida. Ali, nos palcos e telas, as palavras pronunciadas recebem tonalidades de imagens indizíveis, compondo um caleidoscópio entre corpo e mente próprio das expressões artísticas de relevância atemporal”, escreveu Danilo Santos de Miranda, diretor do SESC-SP.
Carreira – Descendente de portugueses e italianos, Arlette Pinheiro tornou-se conhecida como Fernanda Montenegro, seu nome artístico surgiu quando ela trabalhava na rádio carioca. Sua estreia nos palcos ocorreu em 1950, na peça “Alegres Canções nas Montanhas”, ao lado do marido Fernando Torres. Em pouco tempo, tornou-se figura respeitada nacionalmente. Na década de 1960, atuou na TV encenando quase 200 peças no programa “Grande Teatro Tupi”. Três anos depois, começou a participar de telenovelas. No cinema teve reconhecimento internacional por sua atuação no filme “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles, quando concorreu ao Oscar de Melhor Atriz. Foi a primeira brasileira a ganhar o Emmy Internacional na melhor atriz pela sua atuação em “Doce de Mãe” (2013). Em 1985, foi convidada pelo então Presidente da República, José Sarney, para ser Ministra da Cultura, apesar do unânime apoio da classe artística e da opinião pública, recusou o convite.
Trecho do Livro – Em 1979, época de atentados à bomba contra a abertura política, Fernanda e o marido sofreram um ataque, durante a temporada paulista da peça “É…”. “Fernando e eu nos hospedamos na casa do amigo Celso Nunes, no Alto da Lapa. A janela de nosso quarto, no segunda andar, dava para uma pracinha arborizada. Certa noite, depois do espetáculo e do papo de sempre com o Celso, nós subimos, e nos preparamos para dormir. No momento em que deitei e apaguei a luz da mesinha de cabeceira e Fernando sentava na cama, um tiro estilhaçou a vidraça e a bala ficou cravada no teto de madeira do quarto. Ouvimos um carro arrancar em frente à casa. Por milagre, não fomos atingidos. Nosso susto atravessou a noite. Celso é testemunha desse atentado. De manhã, ele e Fernando foram à delegacia dar conta do sucedido. Nada aconteceu. Começamos a receber telefonemas ameaçando me liquidar em cena. Era uma situação-limite. Ou parávamos e voltávamos para o Rio, ou continuávamos com a encenação. Corajosamente e ao mesmo tempo aterrorizados, resolvemos prosseguir — não sei como. Contratamos quatro seguranças, armados, para tê-los na plateia totalmente ilumina¬da a partir daquela noite. Somente ao nosso pequeno e presti¬giado elenco falamos o porquê de tal medida. Corajosamente, eles também aguentaram o tranco. Tal situação extremada perdurou um mês. As ameaças foram cessando. Aos poucos nos acalmamos e completamos um ano em cartaz com peça, como estava previsto”. (Extraído do livro “Prólogo, Ato e Epílogo”, Companhia das Letras).
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