Por: Juliana Cirila
Milton Cardoso
Na última terça-feira, 19, foi comemorado o Dia do Artesão, uma das profissões mais antigas do mundo. A Lei 13.180 de 2015 regulamentou a profissão em solo nacional. Para comemorar a data, o jornal Correio de Itapetininga conversou com exclusividade com Joana D´Arc Vittorelli Pires e Izabel Tomiko Furukawa Sasaki, que fazem parte do coletivo “Joias do Gramadinho”.
A diretora escolar Joana Pires conta que tudo começou quando foi realizado no Distrito um curso de produção de bijuterias ofertado através do SENAR em parceria com o Fundo Social, em novembro de 2022.
“Após ficarmos uma semana juntas eu pensei que ali tinha um povo muito talentoso, então falei para as meninas de deveríamos nos juntar e fazer algo, então no primeiro momento eu falei essa são as ‘Joias do Gramadinho’ em nossa primeira conversa. Então a Daise e a Izabel abraçaram a ideia e como elas precisavam de uma fonte de renda e o bairro não disponibiliza de tantos empregos para as mulheres trabalharem. Aos poucos elas foram participando, coletando as sementes que são próprias do bairro e foram produzindo as peças. A princípio elas pegavam modelos pela internet, copiando mesmo, hoje elas já desenvolvem muito mais do que foi disponibilizado no curso”, explica Joana.
Joana Pires também conta que nesses quase dois anos já participaram de diversos eventos, inclusive em um concurso a nível nacional realizado pelo Ministério das Cidades. “A Cecilia Saito uma pessoa que colabora com nossos projetos, ela pesquisando viu que tinha esse concurso aberto, então nós escrevemos e foram muitos inscritos pelo Brasil todo, esse concurso é feita para a periferia das cidades e como nós somos distrito deu certo, e após diversas etapas fomos classificados, após vencer as três etapas, mesmo ser pegar o primeiro lugar, ficamos muito feliz e isso nos trouxe visibilidade a nível nacional”, comemora.
A primeira exposição do coletivo aconteceu através do Fundo Social. “Procuramos dar visibilidade ao trabalho do grupo. No local utilizamos alguns como expositores para mostrar o trabalho dos artesãos e outros expositores para vendas dos produtos”, pontua Joana. “As ‘Joias do Gramadinho’ também participaram como expositores da maior feira do agronegócio do país que é a Agrishow”, complementa. Porém, ela enfatiza que apesar de tanta visibilidade, o grupo infelizmente ainda não consegue viver do artesanato.
A artesã Izabel Sasaki descreveu a nossa equipe, o processo de produção de uma peça produzida pelo coletivo. “Coletamos as sementes, tratamos de acordo com o que a professora do curso ensinou. Algumas peças que usamos verniz, porém há peças que são deixamos de forma natural. No processo utilizamos diversos produtos da natureza como cascas de coco, sementes de azeitonas, macadâmia, jatobá, entre outras coisas extraídas da natureza local”, comenta.
Esses produtos confeccionados pelos artesãos do Gramadinho são conhecidos por “biojoias” ou joias naturais. São bijuterias (brincos, colares, pingentes) feitos principalmente com cascas de semente. Matéria orgânica que não agride natureza, além de contribuir na sustentabilidade usando os recursos da própria região.
Na última terça-feira no Centro Cultural Brasil – EUA, alguns trabalhos foram apresentados durante o evento “Semana da Mulher”. Empolgada com o trabalho das artesãs, Walkíria Paunovic comentou sobre como a arte e a cultura “podem mudar uma sociedade”.
Joana Pires reforçou que além das “biojoias”, o Distrito do Gramadinho possui vários artesãos extremamente habilidosos que produzem peças em crochê, costura criativa, pinturas em geral e cestaria.
O coletivo “Joias do Gramadinho” planeja em breve, realizar uma exposição mais abrangente dos trabalhos do Distrito, possibilitando um diálogo mais profícuo entre a comunidade gramadinhense e a população de Itapetininga.
Um Breve Resumo da História do Distrito – Localizada a 26 km do centro de Itapetininga, o distrito de Gramadinho surgiu no século 19 numa região coberta pela Mata Atlântica. Parte de sua história foi preservada no raríssimo livro “História do Distrito de Gramadinho” (2000) de autoria de Luiz Gonzaga.
Autor explica que no século 19, o local era cortado por uma trilha que ligava Itapetininga a Capão Bonito, entre outros pontos da região. A via era utilizada como rota pelos tropeiros no transporte de mercadorias. Para repouso dos tropeiros havia pousadas rudimentares, uma delas denominada “Rancho do Gramadinho”.
Um dos primeiros pioneiros do local foi o casal Sinhô Doca e sua esposa, Maria Joaquina. Segundo o autor do livro, em 5 de agosto de 1830, Doca teve a decisão de fundar “no local gramado, uma povoação. (…) escolheu um local que julgou mais apropriado e implantou ali uma cruz feita de madeira, para se construir futuramente uma capela onde os moradores pudessem se reunir para rezar”. Em pouco tempo a capela foi erguida, sendo decidido que o padroeiro do povoado era o Senhor Bom Jesus. Nascia a Vila de Gramadinho. Na segunda metade do século 19, houve notável aumento da população gramadinhense.
Um dos primeiros artistas que se tem registro no local foi do criador de gado, Chico Boava. Hábil, produzia objetos em taquara e esculpia em madeira figuras humanas e de animais. Infelizmente sua produção foi perdida no decorrer dos anos.
Com a melhoria do sistema rodoviário, no início do século 20, houve substancial aumento no fluxo de pessoas em Gramadinho. Diante disso, Mariquinha Vieira instalou um bar, que ficou conhecido pelo bolinho de frango – sucesso entre os viajantes. Tornando o local famoso por suas iguaria.
Nessa época, foi instalada na região, posto policial, cartório e escola com aulas ministradas pela professora Minervina Collaço. Luiz Gonzaga conta que a primeira jardineira que fazia o transporte de passageiros entre Gramadinho e Itapetininga surgiu na década de 1920. O trajeto levava em torno de 2 horas. Com uma singularidade: em tempo de chuva não havia o serviço de transporte.
O comércio na região cresceu entre 1920 e 1930, principalmente com a chegada da chegada de uma grande colônia de sírios. Porém, a principal fonte de renda da região desde sua criação foram atividades agrícolas.
Atualmente, o Distrito conta com dois mil habitantes segundo o Censo do IBGE de 2010.
JOIAS DO GRAMADINHO
Ana Paula Camargo Pinto dos Anjos
Deise das Dores Souza Almeida
Fátima
Gilmara
Ione Berta Pereira
Isabel Xavier Barreto Machado
Izabel Tomiko Furukawa Sasaki
Jorge Vaz Nunes
Márcia Medeiros
Marcia Rolim de Medeiros Araujo
Marisa Mendes da Silva
Monique Tie Moriyama
Nelson
Paloma Camargo de Medeiros
Suely Camargo