Em 1991 o mundo se rendia ao que viriam se tornar hoje clássicos do cinema. Naquele ano, “Bela e a Fera” foi o primeiro desenho animado da história a receber indicação ao Oscar de Melhor Filme. E com certeza, os nascidos nessa época derrubaram algumas lagrimas com os filmes “Edward mãos de tesoura” e “Meu primeiro amor”, e se renderam a uma família um tanto aterrorizante “Família Addams”.
Neste mesmo ano era inaugurada em Itapetininga a Locadora Agapito na Rua São Vicente de Paula próximo a igreja das Estrelas. O que começou com 170 VHS acabou se tornando uma referencia em filmes na cidade. Quem nunca deixou seu nome na lista para assistir aquele lançamento no conforto da sua casa? O proprietário Fabricio Agapito conversou com o Jornal Correio e contou um pouco da história da videolocadora que deixará saudades para os amantes da sétima arte.
JC: Quando a videolocadora foi inaugurada?
FA: A locadora foi inaugurada em 1991 bem pequena com apenas 170 fitas VHS, uma noite meu pai, Dito Agapito, chegou à noite em casa de surpresa e trouxe todos os VHS. E nos disse comprei uma locadora, simples assim.
JC: Como você começou a implantação desse sistema de alugar?
FA: Nós éramos fascinados por filmes, e quem me estimulou mais foi o saudoso Clarindo da Locadora Avenida, éramos tão fãs da locadora dele que nos tornamos concorrentes.
No começo recebíamos vendedores e escolhíamos os filmes para comprar no porta mala do carro deles. Com o tempo fomos nós associando as distribuidoras e o mercado foi crescendo conosco. Na época havia a CIC Vídeo, Abril Vídeo, Europa Vídeo, Warner Vídeo entre outras.
JC: Quantos títulos a locadora teve aos longos dos anos?
FA: Como éramos cinéfilos também, nosso estoque foi só crescendo, agora no fechamento tínhamos uns 50 mil itens aproximadamente, entre DVD, fita VHS, Blu-ray e games. Alguns filmes tem mais de 30 cópias, quando o filme tinha muitas cópias colocávamos a venda.
JC: Quais foram os mais buscados desde VHS ao DVD?
FA: O filme mais alugado na época do VHS sem dúvida foi “Titanic”, já na época do DVD foi a comédia “As branquelas”.
JC: Como era o público da locadora?
FA: O público da Locadora era composto por toda a família. Atendíamos desde os pequenos até os idosos, aliás adorava indicar clássicos para eles.
Posso falar que fizemos muitos amigos e conhecemos a cidade inteira. Tinha cliente que passava alugar ou devolver um filme e ficava um bom tempo batendo papo no balcão com os mais variados assuntos.
JC: Uma dúvida tínhamos que rebobinar as fitas VHS mesmo?
FA: A resposta era sim, os clientes queriam alugar as fitas rebobinadas. Mas na segunda que era o dia de maior devolução usávamos rebobinadores portáteis. Chegava a acumular umas 20 fitas para rebobinar, mas nunca cobramos multa por isso.
JC: E se o cliente que não devolvesse os filmes?
FA: Durante esses 30 anos tivemos muitos clientes que não devolveram filmes, alguns apareceram depois de anos devolver. Outros colocávamos no Sistema de Proteção ao Crédito (SPC).
JC: O que você acha dos serviços de Streaming?
FA: O streaming tem a parte boa pela praticidade e para assistir séries. Porém analisando como cinéfilo tem defeitos e sai muito mais caro. Por exemplo, você ia até uma locadora e escolhia seus filmes independente se era da Warner, da Universal entre outras, agora se você quer assistir um filme da Disney tem que assinar o Disney plus, se for um da Warner tem que assinar a HBO, lançamentos de cinema tem que assinar o Telecine e por aí vai.
O Pessoal se engana ao dizer que a Netflix acabou com as locadoras, nosso maior inimigo sempre foi a pirataria.
JC: O que você vai fazer com seu acervo?
Meu acervo vendo pela internet a muitos anos
JC: E quais são os novos empreendimentos?
Em 2009 paralelamente a locadora me mudei para Guarulhos e estou no ramo de calçados desde então. Tenho lojas que vendem Melissa.
JC: Como foi para você após tantos anos do mercado ter que fechar as portas?
FA: Nesses últimos anos tivemos uma sobrevida porque recebíamos os filmes Blockbusters logo após sua exibição nos cinemas, porém com a pandemia do ano passado os cinemas fecharam e ficamos sem nosso atrativo principal. Todos os grandes lançamentos mudaram para 2021, o que antecipou o nosso fechamento.
Só temos a agradecer esses anos pelo privilégio de trabalhar com Cinema. E lembrar do meu pai Dito Agapito que nos deixou cedo em 2017 e foi o fundador, já que na época eu era adolescente. Foi um sonho vivido junto de pai e filho.