Do latim ‘humilitas’: é a virtude que consiste em conhecer as suas próprias limitações e fraquezas, e agir de acordo com essa consciência.
Em tempos de egocentrismos tão exacerbados quanto frágeis e do culto a personalidades (produzidas e comercializadas em escala industrial), a humildade não tem tido muito protagonismo, no que diz respeito aos traços de personalidade “desejáveis”. Em um mundo onde o sucesso pessoal só depende do indivíduo (alô alô meritocracia), onde uma mega indústria de ‘coaches’ está aí pra ensinar cada um de nós a sermos nós mesmos (seguindo todos a mesma cartilha, of course! – a ajuda pra se auto-ajudar), ser humilde é “não acreditar” em si, é se “auto-boicotar”, é não querer “sair da zona de conforto”…
Basicamente, ser humilde é ser um perdedor. A não ser que você seja muito rico, porque daí o simples fato de você cumprimentar o porteiro do seu prédio já faz de você uma pessoa “humilde” (e não apenas minimamente civilizado), agora sim no sentido mais positivo da palavra.
Mas vamos ao que a Psicologia pode dizer sobre esse traço de personalidade, muitas vezes mal compreendido. Em uma série de estudos realizados ainda no início da década de 90, a Dra. Krumrei Mancuso, da Universidade de Pepperdine, nos EUA, através de um questionário formulado para ajudar a medir o grau de “humildade intelectual” das pessoas, chegou aa conclusão de que dita “humildade intelectual” não tinha relação direta com o Q.I. dos participantes, nem com suas crenças religiosas ou políticas, mas sim com o grau de curiosidade, com a capacidade de reflexão e com o quão “cabeça aberta” eram os sujeitos do estudo (quanto mais intensos esses traços, maior o nível de humildade).
Em um estudo subsequente, a mesma Dra. Mancuso apresenta um questionário a um grupo de voluntários, para que estes aferissem o quanto eles concordam com afirmações como: “sinto-me diminuído quando os outros não concordam comigo”, “normalmente os outros tem mais a aprender comigo do que eu com os outros”, e outras frases do tipo. Ao analisar as respostas, a pesquisadora concluiu que quanto maior o nível de concordância com as afirmações (nada humildes) acima, maior era também o nível de “fanatismo” desses indivíduos no que se refere, principalmente, a política e religião. Ao mesmo tempo, as pessoas “mais intelectualmente humildes” eram também pessoas bem mais moderadas, em suas próprias e diversas religiões, bem como em suas também variadas convicções políticas. Ou seja, quanto menos a pessoa acha que sabe, mais ela está disposta a ouvir e aprender. Quanto mais ela acha que sabe, maior a tendência aa intolerância e aa agressividade.
No momento em que escrevo esta coluna, circula pela internet um vídeo do jornalista Augusto Nunes desferindo um golpe na cara do também jornalista Glenn Greenwald, ao vivo em um programa de rádio. De todo o lamentável episódio, a impressão que mais me marcou foi a de que o Sr. Augusto, do alto de sua idade e seus anos de experiência jornalística, talvez tenha se deixado levar um pouco pela tentação da vaidade inerente ao ofício daqueles que “falam” pelos outros, e acabou acreditando que mais tem a ensinar (ainda que a socos) do que a aprender.