Nada mais do que doze moradias constituem a denominada Vila Palmira, na região central de Itapetininga. Vila ou rua, localiza-se na travessa da Rua Quintino Bocaiuva, proximidades da Caixa Econômica Federal. Foi estabelecida pelo saudoso ex-prefeito Abílio Ayres de Aguirre, morador naquela via pública. Sua residência era complementada por uma imensa área, onde existia fabulosa e diversificada chácara, além de imenso taquaral, atingindo as margens do Ribeirão do Chá.
Muito tempo depois transformou o espaço em valioso loteamento, tornando-se então uma nova vila da cidade, batizada com o nome de Palmira, em homenagem a sua esposa Palmira Ayres Aguirre. Hoje, como citamos, precisamente, comas doze construções, todas de qualidade, seus moradores transformaram-se em quase uma família, tal a amizade, respeito e carinho com que se relacionam.
Recentemente uma das residências, estilo bangalô, construída pelo falecido, saudoso Ibrahim Saad, foi alugada pela prefeitura municipal para abrigar um projeto revolucionário relacionado à saúde mental, uma unidade da “Residência Terapêutica”, para abrigar pessoas, portadoras de transtornos mentais, vindas dos manicómios recentemente fechados na região (Sorocaba, Piedade, etc.), onde se encontravam internados, abandonados pelas famílias há dez, vinte ou trinta anos. Totalmente excluídos da vida, como relata o psicólogo Érico Pontes, coordenador do Projeto em Itapetininga.
Chegaram na Vila Palmira dez novos vizinhos, diferentes e únicos.
Os moradores estranharam o fato e embora, no princípio, um pouco contrariados com a decisão do órgão competente, resignaram-se e passara m a conviver com os inquilinos. Com o passar do tempo se adaptaram com o comportamento daqueles “agora cidadãos”, infelicitados pelo mal que os atinge.
Um novo momento na Vila Palmira passou a ser vivido. Cantoria, conversas consigo mesmo, em vozes altissonantes, pequenas desavenças, choros e risos, observados pelos vizinhos.
-Boa tarde moço. Tem um cigarro?
-Bom dia moça, eu queria um chocolate
-Olhe que dia bonito, parece o sítio.
Na maioria das tardes, assistidos por cuidadores, saiam para passear até a praça dos Amores, ou dançar em frente ao ensaio da banda municipal, regida por Gerson Ramos.
Essa situação tornou-se parte da vida de todos os moradores da Vila Palmira, pois preconiza o ditado “o hábito faz o monge”. E a questão de ser um problema para todos acabou.
Essa ressocialização de pacientes, vem do projeto de lei do então deputado Paulo Delgado, que previa o fim dos manicómios e reforma o atendimento à esses pacientes, a partir da ideia original do psiquiatra italiano Bazaglio, o projeto é bancado pelo SUS, com parceria das prefeituras. Em Itapetininga existem três casas, trinta pacientes que voltam a sua cidade natal. O psicólogo Érico Pontes complementa que “a vida é partilha, a vida é dialética, é convivência e essas pessoas têm se reencontrado com a vida nesse projeto”.
Neste final de junho, os pacientes que residiam na Vila, por motivos de acessibilidade, foram transferidos para outra residência, no Jardim Shangrilá. E a Vila Palmira ficou sem os risos, choros, gritos e a alegria daqueles moradores, tomada então por um silêncio profundo durante as madrugadas. não havendo sequer o sonoro e agradável , soberbo e altaneiro canto do galo.