Como ela ficou linda! Não era mais aquela adolescente que a conheci na escola. Era mulher! “O vestido decotado sublinhava admiravelmente a gentileza do busto, o estreito da cintura e o relevo delicado das cadeiras”, como diria o poeta realista. Logo que me viu, lembrou-se do passado e, com um sorriso largo e de satisfação, disse:
– Que prazer vê-lo. Não mudou nada. É o mesmo guapo rapaz.
Ela usou palavras da época.
Fiquei lisonjeado, mas sabia que havia um pouco de exagero. Não era mais aquele que provocava suspiros. Os anos corroeram a minha face, como a traça o papel. Conservava, sim, a mesma alegria, a mesma a voz dos tempos idos, porém eu era outro.
– “Deus colocou a eternidade no coração do homem”, disse eu, citando Eclesiastes 3:11.
Ela pôs em mim os olhos radiantes e eu fiquei a olhar para ela como para uma filha. O meu amor fora platônico. A saudade, no entanto, era grande e foi, nessa hora, que ela se lembrou de uma reflexão que eu fizera com o seu nome e recitou-a sem gaguejar:
Michelle, você está na fase dos sonhos, quando o passado não existe, o presente é uma quimera e o futuro uma esperança de alegrias sem par. Lembre-se de que você foi criada por Deus e para Deus. Lembre-se de que você tem um coração cheio de amor e que bate dia e noite sem parar, independente de sua vontade, porque é formado de um músculo involuntário, mas dependente daquele que é Eterno. Lembre-se de que você é importante, pois foi criada a imagem e semelhança do Eterno, que é onipotente, onisciente e onipresente. Lembre-se de que você é a alegria de um lar, de uma família e que todos a amam. Lembre-se de que você provoca sonhos e sem você alguém não é feliz. Lembre-se de que você é fruto de um amor conjugal passageiro, mas cuja fonte se encontra no amor eterno da morada celestial. Lembre-se de que você é ímpar, porém um dia formará um par com alguém que dirá numa declaração de amor: “Você é osso dos meus ossos e carne da minha carne. Lembre-se de que você é objeto do amor Divino e que Cristo morreu na cruz para lhe dar a vida eterna feliz. Lembre-se do seu Criador, antes que venham os maus dias e chegue a dizer: Não tenho neles contentamento. Lembre-se de tudo isso e agradeça a Deus que lhe criou, dotando-a de formosura, bondade e inteligência.
Logo que ela terminou, peguei-lhe na mão com a direita e, com a minha mão esquerda, apertei-a, sentindo o seu calor. Disse algumas palavras que não registro para poupar tempo e papel. Fiquei embasbacado pela emoção. Depois, antes que as lágrimas rolassem pela minha face, disse adeus. Fui embora, sem olhar para trás, quando me lembrei do poema de Gonçalves Dias, o poeta romântico: “Ainda uma vez, Adeus!”
Mais de 20 mil pessoas vivem na linha da pobreza
Em Itapetininga, 20.814 pessoas vivem na linha da pobreza, ou seja, aquelas cuja renda per capita mensal familiar não ultrapassa o valor de R$ 706, metade de um salário mínimo,...