Quando “Cantando na chuva” passou na tela do Cine Olana (depois “Itapetininga”) na rua Monsenhor Soares, em frente ao Clube Recreativo Itapetiningano, (cinema que já não existe mais) a plateia itapetiningana presente caiu bastante satisfeita. Lembro-me bem tinha treze anos na época, isto em 1954 e os comentários eram que a película era bem agradável, bem dançada e cantada, luxuosa na cenografia e vestuários, artistas talentosos, um filme alegre e outros tópicos elogiosos. Quem compunha a plateia? Membros da comunidade itapetiningana, de todas as idades (afinal, a censura desde filme era livre) que gostavam de musicais norte-americanos, principalmente os dos estúdios da Metro Goldwyn Mayer (aquele do “leão rosnando”) e também que gostasse das músicas norte-americanas nos filmes como quando os artistas estão conversando normalmente e de repente começava a cantar e a dançar como se isso fosse o mais simples possível.
Haviam os que detestavam tais enredos, mas mesmo assim, iam ao cinema para cumprir uma programação social (era isto ou ficar em casa; na época não havia ainda na cidade retransmissão de televisão. Isto aconteceu somente em 1963 e estávamos em 1954, lembram-se?) A plateia também e como! Composta da juventude, geralmente de classe média economicamente. Ou guardar o lugar para alguém era sagrado que o ato era feito pelos namoradinhos e namoradinhas. Os espectadores ficavam no solo, mas também no primeiro andar que era chamado de “geral”, cujo os assentos eram ocupados por integrantes da baixa classe média economicamente e ir ao cinema era um status social. Na “geral” os frequentadores não liam as revistas da moda como “Cinelândia”, “Filmelandia”, “O Cruzeiro”, “Manchete”, “A Cena Muda” e jornais, daí não estarem muito familiarizados com os artistas e roteiros dos musicais da USA, mas mesmo assim, gostavam do que viam na tela. Mas a frequência nessa faixa era bem menos.
Agora, vamos ao filme. “Cantando na chuva” produzido em 1952, em Hollywood, Estados Unidos, custavam a serem exibidos em Itapetininga (e nas cidades médias do interior paulista). E não só aqui, também nos grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro e até mesmo no interior do país produtor, na nação norte-americana. Não foi um daqueles que já surgiram “clássicos”. Segundo o carioca Rui Castro em sua obra “Um filme é para sempre”, organização: Heloisa Seixas, editora Companhia das Letras, primeira edição, 2006 – “Cantando na chuva ganhou elogios na estreia e foi um dos campeões de bilheteria de Hollywood, naquele ano, mas só”.
Outras leituras feitas por mim citavam que não se pensava nele como um grande filme, nem como obra de arte, tanto que no Oscar 1953 (o grande prêmio do cinema norte-americano) do ano seguinte teve apenas duas indicações: “atriz coadjuvante” e “direção musical”, perdendo em ambas. Mas (que bom que existe um, mas) com o tempo através dos anos “Cantando na chuva” (que passa uma semana sim, outra semana não no Telecine “Cult”, das pagas: Sky, Net e outras), foi firmando-se, aos poucos, como um “filme de arte”, apreciadíssimo em todos os seus quesitos: originalidade, criatividade, humor, beleza, euforia, ritmo e outros quesitos.
O roteiro da história é sobre a transição do cinema mudo para os falados, as canções, os bailados foram se tornando “clássicos”. A cena da dança do ator e bailarino Gene Kelly parece que entrou no subconsciente das pessoas, mesmo as que nasceram depois, bem depois e no caso da dança na chuva foi considerado o maior momento musical do cinema norte-americano. Também a foto do Gene Kelly, em pé, num poste, com um guarda-chuva no braço, tornou-se um dos “ícones” do século 20. O único concorrente é o ideológico “West side story” ou Amor sublime amor. Mas isto é uma outra história.