Quem chega ao novo Largo dos Amores, centro de Itapetininga, vai ter logo um impacto, com a visão do que restou do antigo e famoso Bar Rodovia. Caso a pessoa tenha atingido uma idade mais avançada vai se lembrar que na esquina da rua Major Fonseca com a rua Venâncio Aires, funcionou durante mais de cinqüenta anos o “Rodovia” e depois fechado definitivamente, servindo até recentemente, em precárias condições, como base de mototáxis e um improvisado estacionamento.
Esse bar teve, a partir da década de 1930, proprietários que foram os saudosos Alcides Bicudo, Ezequiel Fróes, Calil Yared, Antonio Kalaf, Olímpio Mariano, Olavo Hungria , Ernesto Simões Rosinha, este procedente de Figueira da Foz, Portugal e ainda seus genros, Carlito e Cesar Piedade
A Praça Marechal Deodoro (Largo dos Amores) se constituía o centro nevrálgico e a alma de Itapetininga, girando toda vibração citadina naquele quadrilátero. Era o encontro de todos os cidadãos dos variados segmentos da sociedade, onde deliberavam e planejavam sobre a vida em seus diversos aspectos; esporte, política, economia, segurança, abrangendo também paixões e ódio.
Ao entorno do Largo os estabelecimentos comerciais, notadamente lanchonetes e bares com boa freqüência, destacavam-se em prédio de estilo clássico os bares Primavera, São Paulo com seus pasteis inigualáveis saídos das mãos de D. Alice Venturelli, (mãe de Carlos José de Oliveira), Malatesta, depois do Alemão anexo ao Clube Venâncio Aires, Padaria São Francisco, Café Caipira, posto Guidugli, posteriormente pastelaria chinesa, e Tupi, pertencente a Egídio. E um desses estabelecimentos com características próprias, freguesia adaptada à sua condição social, com movimento incomum, entusiasmando diuturnamente todo aquele espaço, então embalado, à noite, pelas músicas levadas no ar pelo serviço de alto-falantes colocado no topo do prédio Guidugli. Para completar o porte fidalgo do Clube Venâncio Aires, que neste próximo 10 de outubro completará 127 anos de existência, além do centenário prédio da antiga prefeitura, agora em “lastimável estado de conservação e na iminência de desabar”.
Neste final de semana foi demolido o que restava do prédio do histórico Bar Rodovia, símbolo da aristocracia itapetiningana e um dos pontos de referência da cidade. Foi lá que os considerados nobres se reuniam e decidiam assuntos correlatos, com repercussão em todo município. Eram políticos costurando alianças e preparando candidatos à cargos eletivos, inclusive escolhendo postulantes à direção do vetusto Clube Venâncio Aires. Naquele salão, com estilosas mesas, encontravam-se representantes da segurança política (delegados, juízes, promotores), e, igualmente, comerciantes e empresários de ponta. Também funcionários de alta categoria, jornalistas, professores e advogados, médicos e dentistas integrantes da alta sociedade desta terra de Júlio Prestes.
Agora aquele tradicional Rodovia desapareceu. Por certo, surgirá na área uma obra semelhante a um galpão envidraçado, que abrigará vários comércios, ou um outro estacionamento. Recordando Flávio Yared, professor falecido, cujo pai foi proprietário do Rodovia, vamos mencionar novamente o que ele declarou há alguns anos atrás: “estacionamento é o cemitério do progresso de uma cidade”.