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Aquele homem voltou a chorar

Recostado na porta do centenário clube “Recreativo”, quase ao anoitecer, cabelos grisalhos, magro, vestido modestamente e com olhos lacrimejantes, o homem contemplava a área transformada em estacionamento na rua Monsenhor Soares. Sem ser perguntado disse a um transeunte, que parou, vendo-o chorar, “essas lágrimas são minhas homenagens ao velho “Cine Ideal” que há 14 anos foi demolido e esteve em atividades por 90 anos.
Não sabemos quem era aquele cidadão que chorava, e ele disse que foi pela segunda vez. Pode ser que ele tenha sido um ex-funcionário da antiga empresa, podia ser um amigo e habitual frequentador, lembrando velhos tempos do “Ideal”, depois “Olana” e por fim “Itapetininga”. Também não sabemos porque realmente chorava. Achamos que também nem ele sabia. Pensaria, então, nos colegas que com ele assistiam alegres matinês domingueiras no cinema, e também muitas vezes as sessões noturnas em épocas distantes?
Talvez tivesse pensando naquele prédio que proporcionou enorme felicidade e alegria a população. Talvez chorasse de frustração porque nestas décadas a comunidade, aos poucos, abandonou o velho cinema, última lembrança de Itapetininga que deixou de existir.
O homem que chorava, pensamos, há muito vinha observando e se entristecendo com a evolução do tradicional centro velho tão decantado pelos moradores locais. “Foi-se deteriorando aos poucos e gradativamente afundando o nosso cinema”, um valioso bem a toda Itapetininga, idealizado e construído pelo dinâmico empresário conhecido por Vadozinho.
Mas, ele esqueceu que os tempos agora, são outros, completamente diferente daquelas épocas passadas. Também, não lembrou que naquele local – centro de atividades de vários setores – ficou fora da realidade atual, e de maneira alguma aquela casa de espetáculos podia “vingar”. Estava fora da realidade, como outros estabelecimentos que funcionavam à noite.
Com o decorrer do tempo a “urbe foi se desenvolvendo em outros quadrantes desta cidade, que conta hoje com aproximadamente 150 mil habitantes. Criaram-se novos corredores comerciais e novas áreas residenciais, tanto as de alto luxo como os conjuntos habitacionais que proliferam em diversas áreas locais.
A permanência do majestoso e varonil prédio, no velho e quase abandonado centro, encontrava-se ocioso, e não representava nenhum retorno financeiro.
O homem que chorava (pela segunda vez, conforme ele mesmo afirmou), simbolizava a pieguice desdenhosa e o desajustamento no concerto atual do ser humano. Não podemos nem pensar que o choro deste homem era mais do que sentimental, que era um choro inconformado, um choro indignado, de quem iria assistir ao encerramento das atividades do cinema, depois de quase nove décadas de funcionamento nas mãos de Vadozinho, Carlos Camargo (pai de Dair Licinio de Almeida Camargo), Bernardo Heiman, Nelson Tonolli e Empresa Rolândia, sob a gerencia do batalhador Antenor Bertolli.
O homem que chorava, pela segunda vez, pelo cinema, podia estar pensando que onde despontava o sobranceiro imóvel, podia sediar um templo religioso ou algum atrativo prédio, mas transformou-se em um prosaico “estacionamento”, definindo pelo saudoso e sempre, lembrando professor Flávio Yared: “o estacionamento é o coveiro do progresso de uma cidade”.

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