Nove horas da manhã. É exatamente nesse horário, logo após a transmissão da “Missa da Aparecida” entra no “ar” pela TV Cultura de São Paulo o programa com o título acima animado pelo compositor, poeta, ator, cantor e contador de “casos” Rolando Boldrin. Nesses tempos de pandemia os programas apresentados já foram vistos em outras épocas. Rolando Boldrin preferiu assim, pois para ele seria quase impossível apresentar um programa sem auditório, com artistas com máscaras no palco e com a presença dele mesmo, com 84 anos de idade (por aí…), fazendo parte do “grupo de risco”. Mesmo com reprises, “Senhor Brasil”, da TV Cultura é sempre uma delícia, principalmente para quem gosta da verdadeira música popular brasileira, tanto urbana como rural.
Nestes tempos de horrores do Coronavírus (ou Covid-19) e das tragédias dos quatrocentos e oitenta mil brasileiros mortos pelo vírus (muitíssimo poderiam ter sido salvos se as vacinas chegassem antes), dos catorze milhões de desempregados, do altíssimo custo de vida, dos salários achatados, enfim todo esse caos que caracteriza o atual Governo Federal, a transmissão do “Senhor Brasil”, caí como um bálsamo. Parece que o telespectador está dentro do auditório (geralmente o Senac do bairro da Pompeia ou o teatro Franco Zampari da própria televisão, em São Paulo).
O apresentador Rolando Boldrin domina muito bem a cena com uma naturalidade aconchegante e mostra como a simplicidade (cenários, artistas: cantadores e músicos) pode produzir um espetáculo de inigualável bom gosto. É o Brasil do título que está no palco. Às vezes, nós, urbanos, estranhamos um pouco quando deparamos com um “rojão” nordestino, uma catira paulista ou um “balaio” gaúcho e mesmo um batuque carioca, também uma moda de viola mineira. Às vezes, nós urbanos (repito!) não estamos muito acostumados (os sons dos instrumentos eletrônicos alienígenas não saem de nossos ouvidos). Estas parafernálias não são bem-vindas no “Senhor Brasil”. É riqueza musical, a diversidade brasileira que lá está. É aqui que a paulistana TV Cultura, felizmente, se distancia de outras redes de televisão que apresentam muitos “lixos” musicais.
Os “casos” contados por Rolando Boldrin para o auditório (que o aplaude sempre!) mostra a alma do povo brasileiro. E ele sempre apresenta antigos cantores do rádio brasileiro com seus antigos sucessos musicais de outras gerações. E ainda sobre Rolando Boldrin desculpamos até de alguns seus deslizes, como, de vez em quando, recitar “Pitoco” e não citar o nome do seu autor o itapetiningano Nhô Bentico ou Abílio Victor.