Imaginem o impacto que causou na então pequena Itapetininga, a criação de uma Escola Normal para a formação de professores primários (hoje, seria o curso de Magistério, infelizmente extinto, para a formação de professores de primeira até a quinta série do ensino fundamental), em 1894, final do século dezenove, graças as ações do deputado estadual Coronel Fernando Prestes de Albuquerque que residia aqui e do senador paulista Francisco de Assis Peixoto Gomide (cujo o final de vida foi trágico e que daria uma excitante minissérie na TV Globo). E que seria também a primeira Escola Normal do interior paulista.
Com o tempo a cidade, entre surpresa e encantamento viu chegarem estudantes moças e rapazes de todas as regiões do Estado de São Paulo. Algumas vezes, junto com eles, também suas famílias, aumentando consideravelmente a economia local. A urbe provinciana ia tornando-se um pouco cosmopolita e intelectualizada (a denominação de Itapetininga daí como “Athenas do Sul Paulista”). No início do século vinte na cidade, os dias foram ficando mais animados, a estudantada nas calçadas (e nas ruas, haviam pouquíssimos automóveis), o vai e vem, o surgimento de pensões para os jovens que vinham de fora, os hotéis repletos, as serestas noturnas feitas pelos moços, os “giros” nas praças, os bailes, mas vida, enfim. Com o surgimento do Colégio (das madres) “Imaculada Conceição”, dezenas de moças de outras cidades que vinham estudar na Escola Normal, ficavam hospedadas lá.
Enfim, a vida na cidade situava-se em torno da Escola Normal. E os professores? A rigidez de um Modesto Tavares de Lima, professor de música e que tornou o orfeão (Canto Coral, hoje) da Escola Normal daqui um dos melhores do Estado, chamando a atenção de célebres personalidades culturais no Brasil. A visita do maestro e compositor erudito Heitor Villa Lobos (um dos gênios da raça brasileira). À escola em 1927 é um exemplo disso. Suprema gloria. Ah! Os professores como, Graco da Silveira Santos, de Língua Portuguesa e suas aulas de Literatura Brasileira, exaltando sempre Machado de Assis, seu escritor brasileiro preferido. Isto, nas décadas de 1930, 1940, 1950 e 1960. Também, Ana Zilpah Cardoso de Almeida, de Música e Canto Orfeônico fazendo os normalistas entoarem obras de Villa-Lobos como “O Canto do Pagé” (Oh! Tupã, deus do Brasil…) Ana Zilpah propôs um projeto nacionalista erudito e popular em seus cantos orfeônicos. Respirava-se a pátria nas salas do “Peixoto Gomide”. Os pelotões de estudantes marchavam com uma disciplina até militar nos desfiles do sete de setembro. As solenidades de formatura dos concluintes do curso Normal, os chamados professorando, geralmente em dezembro, paralisavam a cidade. Até governadores do Estado, eram convidados como patronos e alguns vinham como por exemplo, Adhemar de Barros. Os bailes de formatura, muitas vezes no salão nobre da Escola e depois no Clube Venâncio Ayres, eram muito esperados, geralmente com grandes orquestras, os rapazes com ternos claros ou escuros e as moças com vestidos longos e novos. Um acontecimento…
Em 1994, quando a “Peixoto Gomide” comemorou cem anos de sua criação, um “cartaz-lembrança” colocado em sua entrada, em seus dizeres, resumiu muito bem a escola itapetiningana: “Bonita por natureza”.