CHEGA DE COR

Passado o dia da Consciência Negra, convém retirar os exagêros da cena, e retomá-la, com todas as cores e detalhes de sempre.
O feriado, em um quinto dos municípios brasileiros, foi dedicado mais ao ócio que a qualquer indagação filosófica ou comemorativa. Deixamos, mais uma vez, de movimentar as engrenagens da economia e da Administração, em homenagem a um pretexto qualquer, que poderia ser uma Santa, um fato histórico ou um ritual de consumo.
Deveríamos comemorar a cultura negra, não a consciência, atributo humano não étnico. No Brasil, a questão dos negros tem sido conduzida de maneira errônea e discriminatória.
Não somos um país negro. Somos multicoloridos, com diferentes origens, histórias, sofrimentos e realizações.
O preconceito ainda existe, mas confinado a poucas e isoladas mentes, reduzido a resquício histórico já criminalizado, contido e socialmente reprovado. Não possuimos guetos raciais nem impedimentos de acesso ou permanência, a tal pretexto.
No Brasil, o preconceito é social e econômico. Sentimo-lo na própria pele, quando pedimos um café na padaria da esquina e a atendente traz a bebida morna da garrafa térmica, sem indagar se pretendíamos o expresso. O símbolo nacional da exclusão não é a cor, mas as deformadas havaianas, em pés que não pertencem a turistas.
O negro nacional é tipicamente pobre e excluído, assim como uma multidão de brancos, amarelos, verdes e albinos. Há um povo loiro, descendente de escravos, um povo mesclado, maioria, e um povo negro, com sobrenomes europeus e dinásticos.
O negro, no Brasil, é minoria. A maioria perdeu a cor.
Pessoalmente, estamos à vontade para o tema, pois temos uma irmã maravilhosa, um advogado exemplar, um cunhado, sobrinhos e uma infinidade de bons amigos, afrodescendentes. Reconhecem os percalços e sofrimentos da história, mas não ficam contabilizando a cor das pessoas, em cada ambiente, como o fazem ativistas que ainda guardam ressentimentos históricos, como se todos os não negros fossem reencarnações de açoitadores desumanos e algozes.
Privilegiar pessoas pelo tom da pele é desrespeitar-nos a todos. Cotas, que iniciaram raciais, são em verdade racistas, e evoluiram, algumas, para sociais. Alguns, raivosos e inconsequentes, como se a sociedade fosse um presépio, intentam agora cotas racistas nos concursos públicos e na própria representação legislativa.
Existe uma estrutura ministerial voltada à Igualdade Racial, e duvidamos que o pomposo e errôneo nome esteja presente na distribuição de funcionários. A pobreza e a necessidade de inclusão social e econômica não tem cor nem raça.
A inclusão faz-se pela educação e igualdade de oportunidades, a todos, qualquer que seja a cor da pele. Negros, retintos, são tão capazes quanto brancos albinos, podendo ser igualmente pobres e desvalidos.
Esgrimir estatísticas raciais é fraudar o bom senso. Negros e brancos, na mesma função, ganham o mesmo salário, e só alçam funções melhor remuneradas mediante boa educação e oportunidade. Aí estão os exemplos do dia-a-dia, quando um negro assumiu a presidência do STF, pela própria capacidade, não pela cor da pele. Nos Estados Unidos, foco de histórica segregação e submetimento, chegou à presidência do país.
Começam, aqui e ali, movimentos pouco disfarcadamente raivosos, e iniciativas legislativas que segregam. Não vão conseguir reinventar o preconceito.

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