Um confrade me pergunta, de repente: por que você fala chovendinho?
Olho bem nos olhos do ilustre perguntante, reviro os arquivos mnemônicos, contemplo alfarrábios bailarinos, perscruto Aurelião, Houaiss e tantos outros… Ouço meus tataravós, lá das cafundas do tempo… Então, arrisco! Seja o que Deus quiser!
O normal pra gentarada que milita na Terra é chover… Também há o chuviscar, chovediço, chovedio, chovido, chuvarada, quem sabe, chuvição!
Chover é jeito de chuva… Só ela pode daninhar esse milagre… Despencar lá das bandas do céu e cair em gotas cristalinas, transparente, onde quer que haja lugar para cair… Terra, telha, árvore, flor, gente, bicho, rio, mar… Mas cair sem rédea ou tento, apenas cair, cair, cair…
Acontece, porém, que chuva é coisa viva… Quase ninguém sabe disso, mas… Vez em quando, em alguns lugares, ela chove diferente… Ao invés de simplesmente precipitar-se estabanada do ninho das nuvens e molhar o que está aqui embaixo, a danada cai devagarim, devagarim, preguiçosa que só vendo!
E as gotinhas vêm caindo, caindo e cada uma mais langorosa que a outra… Parece que flutuam na querência azulina e vêm descendo, descendo, taisquaizinhas pequeninas gotinhas de bolhas de sabão!
É chuva em câmara lenta, insinuante, que desfila majestosa, chuva cheia de si! Chove sem pressa nenhuma. Afinal, pressa pra quê? Seu destino é a Terra!
Sabidona como ela só, sabe que voltará às nuvens, queira ou não…
“Chovendinho” é assim!