Histórias interessantes e às vezes surpreendentes despertam durante conversas com pessoas conhecidas. Grande parte delas refere-se a fatos ou acontecimentos ocorridos ao longo do tempo. Sobre personagens ilustres, desconhecidos, comuns, pontos históricos com algum significado que desapareceram. Figuras esportivas, políticos, comerciários, artistas, enfim tudo daquilo que faz parte de uma comunidade.
São conversas que surgem inesperadamente, diante de determinadas situações. Na Rua Venâncio Aires, uma das artérias centrais de Itapetininga, constantemente um aglomerado de pessoas de idade variada e das mais diferentes profissões e categorias, lotam quase que por inteiro o recinto da antiga Caixa Econômica Estadual (agora Banco do Brasil), para fins específicos: depositar, pagar ou retirar dinheiro e outros compromissos com aquela casa bancária.
É provável que poucos saibam que naquele local, até há poucos anos, erguia-se o majestoso, imponente e respeitado Cine Theatro São José, de rara beleza arquitetônica e orgulho de toda a região de Itapetininga. Frequentado pela fina sociedade itapetiningana, composto também de um “balcão geral”, para as camadas menos aquinhoadas, foram exibidos filmes ao mesmo tempo em que eram lançados na capital paulista. “Uma sensação de orgulho e um ar de superioridade daqueles “habitueés” do adorável e confortável S.José”.
Foi construído no final da década de 20, com projeto de Abrão Sacco, pelo clã Samarco, oriundo da Itália ou mais precisamente das líricas regiões de Veneza e Campanã, e que se dedicavam às lides campesinas. Os Samarcos, com cerca de 835 integrantes adotaram o sobrenome em homenagem ao evangelista Sãn Marcos, devotado por grande parte da Itália.
Aqui, Afonso, Pedro e José, construíram respectivamente os cinemas “S. Pedro”, na Rua Campos Sales e “São José”, na Venâncio Aires, que funcionaram por mais quarenta anos, deleitando esta região paulista. Em fins da década de 1940 o “S. José” foi adquirido pelo libanês Nagib Ozi, empreendedor com vários negócios. Cidadão correto e visionário passou a residir em casa anexa ao “S. José” com sua esposa Vitória e suas filhas Eloá e Zuleima Ozi. Esta residência, antes amplo salão, serviu por alguns anos como sede da veterana Associação Atlética, onde se realizavam bailes e saraus, além de abrigar festivais e solenidades cívicas. Também o espaço, mais tarde, foi ocupado pelo famoso “Grêmio Estudantino Fernando Prestes”, entidade congraçadora de toda comunidade estudantil que frequentava a “Peixoto Gomide”, ginásio e a Escola de Comércio. O “Cine S. José” foi demolido e depois de servir como estacionamento, construiu-se o prédio atual da Caixa Estadual e para residência anexa – em demolição- poderá surgir projeto de interesse da coletividade.
O Imigrante Nagib
Procedente do encantador Líbano, Nagib Ozi desembarcou no então distrito de Alambari, passando por Capão Bonito e depois Itapetininga. Aqui adquiriu a casa na Rua Quintino Bocaiúva, local onde hoje encontra-se implantada a Vila Ozi, logo vendia a seu irmão Jorge Ozi, chefe de grande prole. A Vida de Nagib Ozi está intimamente ligada aos cinemas com a denominação S. José – o de Itapetininga e outro de Capão Bonito. Neste município instalou-se com máquina de beneficiar algodão, produto comprado de toda região e seu destino – devidamente acondicionados em fardos – era a capital paulista e exportados para a Inglaterra, ou melhor, Liverpool. Com grande tino comercial, associou-se ao Conde Francisco Matarazzo em empreendimentos empresariais.
Faleceu em 1969, deixando exemplo de trabalho, decência e honestidade.