Aconteceu em agosto de 2005 numa feliz excursão de 45 itapetininganos promovido pela saudosa Maria Francisca Quarentei Cardoso e Ana Maria Pires Nalesso para o Rio de Janeiro. Participei dela também e senti que a ainda “Cidade Maravilhosa” (apesar de tudo) estava dando uma lição a muitas cidades brasileiras, ou seja, a preservação do seu centro histórico. Na época, quase todos os casarões estavam sendo restaurados principalmente aqueles das lendárias ruas: Primeiro de Março, do Carmo, Ouvidor, também os do boêmio bairro da Lapa, inclusive os Arcos, com vultuosas verbas do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES. Também, com o auxilio do Banco Mundial, que reformava casarões de todo um quarteirão próximo a também lendária Praça Tiradentes, no Centro Velho do Rio.
Aquela mesma Praça onde nas décadas de 1930, 1940, 1950 e 1960, proliferavam os chamados teatros de revistas, de empresários como Walter Pinto e outros; também onde “vedettes” de pernas rechonchudas como Virgínia Lane, Mara Rúbia, Nélia Paula, que desciam as escadarias nos palcos e faziam o encanto das plateias masculinas.
E foi nessa mesma Praça Tiradentes, mas em 2005, já com poucos teatros e sem as revistas (que já tinham entrando em decadência) que Maria Francisca Quarentei Cardoso e Ana Maria Pires Nalesso levaram os itapetininganos na Casa de Danças “Estudantina Musical”, com oitenta e cinco anos de existência e que continuava naquele ano (2005) um dos locais onde melhor se dançava na terra carioca.
Muito em voga na época pois seus habituais dançarino (apenas frequentadores, não profissionais) apareciam na novelona das oito e meia da TV Globo “América”, de Glória Perez; pois era no “Estudantina” que alguns personagens da trama iriam dançar (só que era uma “estudantina”, construída na Cidade Cenográfica da TV Globo). Mas, voltemos “Estudantina” verdadeira, na Praça Tiradentes. Naquela noite de sábado, vinte de agosto, ao som de uma música de Djavan “Oceano” tocada pela Banda Resumo já de imediato empolgou o pessoal de Itapetininga e pares cariocas entrelaçados surgiram no salão quase flutuando. Uma itapetiningana presente (não me lembro quem, agora) exclamou: – “Parece baile antigo do clube Venâncio Ayres”. E para não cair no politicamente incorreto emendou rapidamente: – “Ou do Clube Recreativo, ou Treze de Maio”. Ela tinha razão. Parecia sim um baile antigo dos três clubes itapetininganos, numa época em que o ato de dançar bem era uma exigência social e até fazia parte do ritual dos que frequentavam tal reunião social. Até os anos cinquenta e parte dos sessenta do século passado, quem não soubesse dançar samba, bolero, samba-canção, mambo, foxes, valsa, baião, xaxado e outros ritmos, “dançavam ou sobravam”, ficavam excluídos ou isolados. Saber dançar era tão necessário quanto comer, beber, dormir… Os tempos mudaram, mas não na “Estudantina Musical” carioca em que o momento do baile ainda era uma festa para quem participava ou simplesmente ia ver (não sei como é hoje). A decorção da casa lembrava a “belle époque”; as luzes saiam de lampiões que lembravam os do século dezenove; os janelões abertos para a entrada do frescor da noite; o alpendre para pode ver os casarões e a praça; o samba-canção (um velho sucesso de Ângela Maria): – “Quem descerrar a cortina, da vida da bailarina, há de ver cheio de horror…”